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Petrobras, Chevron e ExxonMobil pagam mais de R$ 800 milhões por áreas de exploração na Amazônia, com uso de licenças ambientais antigas e desatualizadas

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 23/06/2025 às 14:48
Atualizado em 24/06/2025 às 19:14
petróleo -
Petrobras, Chevron e ExxonMobil pagam mais de R$ 800 milhões por áreas de exploração na Amazônia, com uso de licenças ambientais antigas e desatualizadas
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Área com mais de 1% do território brasileiro é leiloada para petroleiras — exploração sem consulta aos povos indígenas gera revolta

Uma área maior que muitos estados brasileiros foi colocada à venda — e isso acendeu o alerta de indígenas, ambientalistas e até trabalhadores do setor. O que está por trás desse leilão bilionário de petróleo na foz do rio Amazonas?

Leilão polêmico movimenta milhões e gera revolta

Na última terça-feira, enquanto as atenções do governo se voltam para a organização da COP30, uma decisão interna reacendeu tensões sobre a política ambiental brasileira. O governo federal autorizou a venda de blocos de exploração de petróleo e gás na bacia da foz do rio Amazonas, numa região considerada de altíssima sensibilidade ambiental.

Foram 19 blocos leiloados, dos 47 colocados à disposição, em um evento realizado num hotel de luxo no Rio de Janeiro. O total arrecadado: 153 milhões de dólares, aproximadamente R$ 838 milhões na cotação atual. Os vencedores? Dois consórcios formados por grandes players internacionais: um com a Petrobras e a ExxonMobil, outro com a Chevron e a chinesa CNPC.

Instalações petrolíferas às margens do rio Amazonas: tanques esféricos e plataformas fluviais revelam a presença crescente da indústria em plena floresta tropical.

Do lado de fora do hotel, o clima era outro. Diversos grupos — entre eles sindicatos, representantes indígenas e ONGs ambientais — se manifestavam contra a subasta. Um dos que tomaram a frente foi Leandro Lanfredi, do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro:

“Foi colocada à venda uma área equivalente ao estado do Rio de Janeiro e ao Espírito Santo juntos. Estamos falando de mais de 1% do território nacional. E com licenças ambientais vencidas há mais de 20 anos”, declarou à RFI.

Lanfredi também denuncia que os povos indígenas não foram consultados previamente, como determina a Constituição brasileira em casos de exploração mineral ou de hidrocarbonetos em terras próximas aos seus territórios:

“Os povos indígenas denunciam que não foram consultados. Isso fere direitos básicos. Há blocos ofertados na região de Parecis, no norte do Mato Grosso, que ameaça os aquíferos da região e pode afetar o abastecimento de água de toda a bacia.”

Incoerência no discurso ambiental?

A crítica central feita pelos manifestantes é que o leilão representa uma contradição com o discurso ambiental de Lula, que vem se posicionando como líder global na luta contra o desmatamento e pelas energias limpas.

A realização da COP30, marcada para novembro em Belém, foi inclusive apresentada como símbolo dessa agenda sustentável. Mas ações como esse leilão colocam em xeque a coerência do governo.

ONGs como o Instituto Socioambiental e a Observatório do Clima já haviam alertado para os riscos da exploração de petróleo em áreas tão sensíveis e defendem uma transição energética mais transparente e democrática.

O que está em jogo?

O que parece em primeiro plano um negócio rentável pode ter custos altíssimos. A região da foz do Amazonas é considerada uma das mais biodiversas do mundo e abriga áreas protegidas, comunidades ribeirinhas e uma rede subterrânea de aquíferos fundamentais para o ecossistema da Amazônia.

Além disso, estudos apontam que o impacto de derramamentos de petróleo nessa região poderia ser catastrófico, atingindo manguezais, corais e a vida marinha da costa norte do Brasil.

A transição energética, defendida como inevitável por cientistas e economistas, pode estar sendo adiada por decisões como essa. Enquanto isso, a população local e a natureza seguem vulneráveis à lógica da exploração intensiva.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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