Nova estrutura acionária, salto expressivo na cotação e alerta do mercado acendem o debate sobre distorções no valor de mercado da companhia aérea
A Gol Linhas Aéreas protagonizou um movimento incomum na B3 em 13 de junho de 2025. Após a estreia de seus novos papéis, a companhia alcançou um valor de mercado superior a R$240 bilhões. O evento, no entanto, levantou fortes questionamentos entre analistas financeiros.
A empresa havia deixado, recentemente, um processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, sob o modelo conhecido como Chapter 11. Pouco depois, tornou-se uma das empresas mais valiosas do país, mesmo enfrentando desafios operacionais relevantes.
Para reestruturar sua base de capital, o Conselho de Administração da Gol aprovou uma robusta capitalização de R$12 bilhões. Essa movimentação envolveu a emissão de 8,1 trilhões de ações ordinárias, a R$0,00029 por papel, e 968 bilhões de ações preferenciais, ao custo de R$0,01 cada.
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Esse cenário inédito alterou substancialmente os códigos, os preços e o lote padrão de negociação na B3. A partir de 12 de junho, os papéis passaram a ser cotados por mil unidades, nos códigos GOLL53 (ações ordinárias) e GOLL54 (ações preferenciais).
Ações sobem mais de 1.800% e geram perplexidade
A reação do mercado foi imediata e intensa. O papel GOLL54, por exemplo, valorizou-se 406,30% logo na estreia, fechando a R$52.
Mais tarde, no pós-mercado, o mesmo ativo chegou a alcançar R$204 uma alta acumulada de 1.885,88% em relação ao valor de abertura, que era de R$10,29. Como resultado, a empresa superou em valor de mercado gigantes como WEG, Localiza e Rumo.
Contudo, especialistas advertiram sobre as distorções nos números.
Além disso, o processo de conversão de ações e a nova lógica de cotação possivelmente causaram confusão nos investidores.
Banco mantém recomendação de venda e detalha mudanças
Apesar do desempenho chamativo, a equipe acredita que, inevitavelmente, os preços tenderão a convergir para um valor mais condizente com os fundamentos da empresa.
A análise destacou o que considera ser um fenômeno artificial. Os números expressivos não refletem, de fato, a situação financeira da companhia aérea.
A seguir, o banco detalhou o processo de transformação acionária ocorrido nas últimas semanas:
- As ações da Gol passaram a ser negociadas sem direito de preferência, com novo fator de cotação por mil ações, além de novos códigos.
- Os códigos antigos GOLL3 e GOLL4 foram substituídos por GOLL53 e GOLL54, também com padrão de mil ações.
- Os direitos de preferência passaram a circular na B3 com novo código e também com cotação em lotes de mil.
- Os bônus de subscrição, anteriormente listados como GOLL13, foram alterados para GOLL80.
- Esses bônus, por sua vez, mantêm os termos previamente definidos pela companhia em ata oficial.
“Ilusão contábil” chama atenção do mercado
Desde o início das movimentações, especialistas alertaram que os efeitos da emissão seriam temporariamente ilusórios. A reformulação acionária gerou o que muitos definem como uma “ilusão contábil”, já que o valor de mercado inflado não se sustentaria diante de fundamentos operacionais frágeis.
A Gol, embora tenha saído do processo de recuperação judicial, ainda enfrenta desafios estruturais e operacionais severos. Os especialistas reforçam que o setor aéreo é notoriamente complexo.
O histórico da Gol com estruturas financeiras intricadas reforça essa percepção. Ainda assim, analistas experientes se mostraram surpresos com o impacto que a reorganização teve sobre os números na Bolsa.
Expectativa é de ajuste futuro nas cotações
Apesar da alta expressiva e do novo posicionamento no ranking das empresas mais valiosas do país, o consenso entre os analistas é claro: os papéis da Gol deverão se ajustar em breve ao seu valor intrínseco.
O atual valor de mercado, embora tecnicamente válido, não corresponde à realidade operacional da empresa. A expectativa é de que, com o tempo, os investidores reconheçam essa desconexão e corrijam o preço dos ativos.
Além disso, com o aumento no volume de negociação e o melhor entendimento do novo modelo adotado, a precificação tende a se estabilizar. A análise conclui que o fenômeno atual não representa uma valorização sustentável, mas sim um desequilíbrio causado por fatores técnicos e de baixa liquidez.