Gerdau cumpre promessa e corta investimentos no Brasil após invasão de aço importado. Demissões já somam 1,5 mil e CEO Gustavo Werneck cobra ação do governo para salvar a indústria.
A Gerdau, maior produtora de aço do Brasil, oficializou o que vinha sinalizando há meses: vai cortar investimentos no país e repensar sua capacidade produtiva diante da crescente “invasão” de aço importado, especialmente vindo da China. O anúncio, feito pelo CEO Gustavo Werneck nesta sexta-feira (1º), expôs a gravidade da crise no setor siderúrgico nacional. “Nossa situação é muito grave. O governo federal não entendeu com profundidade o que está acontecendo”, afirmou o executivo, durante a divulgação dos resultados do segundo trimestre.
Com a presença do aço estrangeiro atingindo 23,4% do mercado brasileiro no primeiro semestre, a paciência da companhia com a falta de medidas de defesa comercial chegou ao limite. A decisão já traz reflexos imediatos: 1,5 mil trabalhadores foram demitidos nos primeiros seis meses de 2025, e novos cortes devem ocorrer até o fim do ano.
Gerdau corta investimentos e busca “reequilíbrio” no Brasil
A companhia realiza atualmente um ciclo de investimentos de R$ 6 bilhões, dos quais dois terços são direcionados para o Brasil.
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Embora Werneck tenha garantido que os aportes já anunciados serão mantidos, a empresa confirma que o volume de investimentos futuros será reduzido — com o tamanho do corte a ser detalhado entre agosto e setembro e revelado oficialmente em outubro.
Segundo o CEO, a empresa não deseja que o aço importado seja bloqueado, mas cobra “um equilíbrio que permita que a produção nacional possa competir de forma isonômica”. Sem isso, Werneck alerta que o setor tende a se retrair ainda mais, com redução de produção, fechamento de linhas e paralisações de fábricas.
Aço importado Brasil: de 9% para 23% em cinco anos
Os números do Instituto Aço Brasil mostram a escalada da participação do aço estrangeiro no mercado nacional: em 2020, a penetração era de 9,3%. Em 2022, saltou para 13,6%; em 2023, para 18,5% — patamar mantido em 2024. Mas só nos primeiros seis meses de 2025 houve um salto de quase 5 pontos percentuais, atingindo os atuais 23,4%.
Boa parte desse volume vem da China, o que pressiona as siderúrgicas locais e pode gerar uma perda de R$ 7 bilhões em impostos para os cofres públicos, segundo estimativas da própria Gerdau.
Demissões na Gerdau já passam de 1,5 mil — e mais cortes estão no horizonte
O impacto da concorrência desleal já afeta diretamente a força de trabalho. A Gerdau confirmou a demissão de 1,5 mil trabalhadores no primeiro semestre, sendo a maior parte na unidade de Pindamonhangaba (SP). Werneck alerta que, sem uma resposta do governo, novas demissões são inevitáveis.
A empresa também sinaliza que poderá paralisar linhas de produção, como a fábrica de aços especiais em Mogi das Cruzes (SP), transferindo a produção para outras unidades. “Chega um momento que há tão pouco volume que não faz sentido continuar produzindo. É preferível paralisar a usina e diluir o custo”, afirma o CEO.
Gustavo Werneck CEO: críticas diretas ao governo federal
O tom de Werneck foi duro ao criticar a ausência de medidas mais rígidas por parte do governo. Segundo ele, a Gerdau esperava avanços na reunião do comitê-executivo de gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), realizada em 24 de julho, mas nenhuma mudança relevante foi adotada.
“No momento em que o governo federal aplicar medidas de defesa comercial, imediatamente a gente pode voltar com essas usinas e seguir produzindo”, disse, deixando claro que o cenário ainda pode ser revertido — mas depende de uma reação oficial.
EUA aliviam caixa, mas Brasil segue pressionado
Apesar da crise no Brasil, os números da Gerdau não são totalmente negativos. O Ebitda (lucro antes de impostos, juros e amortizações) no segundo trimestre foi de R$ 2,56 bilhões, sendo 61% provenientes das operações nos Estados Unidos.
A empresa se beneficiou do aumento de produção em território norte-americano, o que compensou parcialmente a retração no Brasil. Mesmo assim, o lucro líquido ajustado caiu 8,6% em relação ao mesmo período de 2024, fechando em R$ 864 milhões.
Crise siderúrgica e “tarifaço” dos EUA: cenário ainda mais complexo
Enquanto enfrenta a concorrência do aço chinês no Brasil, a Gerdau também observa de perto o impacto do tarifaço de 50% anunciado pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros.
Embora o setor de máquinas — que utiliza aço nacional para exportar aos EUA — não tenha sido incluído entre os itens isentos da tarifa, Werneck admite que o efeito “lateral” dessa política ainda não pode ser medido. “Nossa preocupação é porque muitos de nossos clientes no Brasil compram nosso aço, transformam em máquinas e equipamentos, e exportam para os Estados Unidos. Esse efeito a gente ainda não consegue medir”, afirmou.
Avaliação e futuro da Gerdau
Mesmo com a crise, a Gerdau segue como a maior produtora de aço do país, avaliada em R$ 31,9 bilhões na B3. No entanto, as ações acumulam queda de 8,2% em 2025, refletindo a incerteza do mercado quanto ao futuro da empresa e do setor siderúrgico no Brasil.
A decisão da Gerdau de cortar investimentos no Brasil é um alerta para todo o setor siderúrgico. Sem medidas de defesa comercial, a indústria nacional perde espaço para o aço importado, com reflexos em demissões, paralisação de fábricas e queda de arrecadação.
O CEO Gustavo Werneck deixa claro que ainda há chance de reversão: se o governo agir para equilibrar a concorrência, a Gerdau promete retomar as linhas de produção e os investimentos. Mas, até lá, o cenário seguirá de tensão — e a “crise do aço” pode se aprofundar nos próximos meses.
Será sempre um problema, a ganância pelo lucro, pressionaram para subir para 25% a alíquota de importação, que era 15%, para que o aço importado tivesse um freio, o governo cedeu, o que as companhias siderúrgicas fizeram, aumentaram seus preços no mercado interno, assim não vão ficar competitivos nunca.