Nova mistura prometia redução de até R$ 0,20 por litro, mas levantamento oficial mostra queda de apenas R$ 0,02 entre agosto e setembro
Uma alteração de grande impacto foi aprovada pelo governo federal em 1º de agosto de 2024, quando passou a vigorar em todo o país a gasolina E30, composta por 30% de etanol anidro. A medida foi anunciada como parte da Lei do Combustível do Futuro (14.993/24) e carregava a promessa de reduzir o preço médio do litro em até R$ 0,20. Entretanto, dados recentes da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que a queda efetiva foi de apenas R$ 0,02, frustrando as expectativas de consumidores.
Expectativa de economia não se confirmou
O Ministério de Minas e Energia (MME) projetava que a nova gasolina pudesse baratear os custos do consumidor. A primeira estimativa indicava redução de R$ 0,20 por litro, mas, em seguida, os cálculos foram ajustados para R$ 0,13. No entanto, levantamentos do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) apontaram resultado diferente: em vez da queda esperada, os dados internos sugeriram até mesmo aumento de R$ 0,01.
Conforme a Petrobras, na semana de 7 a 13 de setembro de 2024, o preço médio da gasolina no Brasil foi de R$ 6,17, frente aos R$ 6,19 registrados antes da adoção da nova mistura. A redução mínima, de apenas dois centavos, deixou clara a diferença entre a teoria e a realidade dos postos.
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Por que o preço não caiu como previsto
De acordo com especialistas do IBP e do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a análise do governo foi considerada excessivamente otimista. Isso porque o mercado de combustíveis é livre e depende de múltiplos fatores, muitos deles imprevisíveis. Ainda assim, a gasolina E30 cumpre objetivos estratégicos em duas frentes principais:
- Ambiental: contribuir para a descarbonização da frota, em conformidade com metas de sustentabilidade;
- Econômico: reduzir a dependência da gasolina importada, precificada em dólar.
Contudo, um fator crucial pesou contra a redução imediata: o etanol anidro encareceu justamente no período de adoção da nova mistura. Como destacou Ana Mandelli, diretora executiva do IBP, “o aumento da demanda pressiona a oferta, e margens apertadas tornam qualquer variação capaz de impactar diretamente o preço final”.
Custos ocultos e variação nos postos
Para Pedro Rodrigues, diretor do CBIE, a variação é impossível de prever porque o mercado de combustíveis é livre. Postos têm autonomia para definir o preço final, o que gera discrepâncias até dentro de uma mesma cidade.
A Petrobras mantém uma plataforma oficial que detalha a composição do preço da gasolina. Em setembro de 2024, a média nacional ficou em R$ 6,17, mas houve diferenças relevantes entre estados:
- São Paulo: R$ 6,07;
- Ceará: R$ 6,31.
Na prática, bastava dirigir alguns quilômetros para notar a disparidade. Na Zona Norte de São Paulo, por exemplo, havia postos vendendo a gasolina a R$ 5,99, enquanto em bairros da Zona Oeste o litro chegava a R$ 6,25.
Objetivos do aumento do etanol na mistura
A decisão de elevar de 27% para 30% a quantidade de etanol na gasolina foi baseada em dois fatores principais:
- Ambiental: testes da ANP comprovaram que veículos abastecidos com E30 emitem menos poluentes. Apesar disso, ainda não há estudo conclusivo sobre o impacto da medida na redução dos gases de efeito estufa;
- Financeiro: como o Brasil é autossuficiente na produção de cana-de-açúcar e seus derivados, o uso ampliado de etanol diminui a necessidade de importação de gasolina.
Segundo estimativas do governo divulgadas em julho de 2024, a transição do E27 para o E30 permitirá:
- evitar a importação de 760 milhões de litros de gasolina por ano;
- ampliar a produção nacional de etanol em 1,5 bilhão de litros anuais;
- movimentar cerca de R$ 9 bilhões em investimentos no setor sucroenergético.
Futuro da gasolina E30 no Brasil
Além da adoção do E30, a Lei do Combustível do Futuro estabelece que a mistura poderá chegar a 35% de etanol em anos seguintes, desde que comprovada a viabilidade técnica. O objetivo é alinhar o país às práticas globais de transição energética, reduzindo a pegada de carbono e fortalecendo a segurança energética nacional.
Assim, mesmo que o efeito direto no bolso do consumidor tenha sido praticamente nulo em 2024, a estratégia por trás da gasolina E30 é clara. Ela busca consolidar uma matriz de combustíveis mais limpa, menos dependente das oscilações do mercado internacional e mais alinhada às metas ambientais.
O que você acha que deve ser prioridade para o Brasil: apostar em uma redução imediata do preço para aliviar o consumidor ou focar na sustentabilidade e segurança energética de longo prazo?