Caixa no centro de escândalo: R$ 11 milhões foram desviados com ajuda de funcionário. PF cumpre mandados em DF e Goiás
A Polícia Federal colocou em prática nesta terça-feira (11) uma operação que promete agitar os bastidores da Caixa Econômica Federal e revelar os bastidores de um golpe milionário. De acordo com as investigações, um funcionário da própria Caixa estaria envolvido em um esquema que desviou mais de R$ 11 milhões de contas de clientes usando o sistema de transferências instantâneas Pix.
O golpe chamou atenção pelo modo de operação: os valores eram retirados das contas sem consentimento dos titulares e repassados para contas de laranjas, estratégia clássica usada para esconder o rastro do dinheiro. A Polícia Federal afirma que parte desses valores também acabou parando em sites de apostas online, o que sugere uma tentativa de lavar o dinheiro roubado.
Operação em dois estados e o papel dos “conteiros”
A ação desta terça, batizada informalmente dentro da corporação como parte de uma série voltada ao combate de fraudes digitais, teve como alvos sete endereços no Distrito Federal e em Goiás, onde foram cumpridos mandados de busca e apreensão. Os alvos principais são os chamados “conteiros”, pessoas que abrem contas bancárias e depois vendem esses acessos para criminosos — prática que vem se tornando um elo fundamental nas fraudes eletrônicas.
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Segundo a nota divulgada pela PF, essa “venda de contas” se tornou um negócio lucrativo para quem quer faturar rápido sem se envolver diretamente no crime. Mas, na prática, são justamente essas contas que recebem os valores desviados das vítimas, facilitando a movimentação e dificultando o rastreio.
“Este ‘lucro fácil’, com a mercantilização de abertura de contas para receber transações fraudulentas, possibilita a ocorrência de fraudes bancárias eletrônicas que vitimam inúmeros cidadãos”, declarou a Polícia Federal.
Investigação começou dentro da própria Caixa
A apuração teve início a partir de um relatório interno da Caixa, que identificou movimentações atípicas em contas de clientes. O principal suspeito é um funcionário do banco, que teria atuado diretamente no desvio dos valores via Pix. A identificação de um servidor da própria instituição financeira levanta ainda mais dúvidas sobre o nível de acesso e as brechas nos sistemas de segurança dos bancos públicos.
A 15ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal autorizou uma série de medidas rígidas: quebra de sigilo bancário, fiscal e de dados, além do sequestro de bens dos investigados, até atingir o valor de R$ 11.111.863,13, que corresponde ao total estimado do prejuízo.
Crimes investigados e contexto das fraudes bancárias
Os suspeitos podem responder por uma lista pesada de crimes, incluindo:
- Associação criminosa
- Furto qualificado mediante fraude
- Uso de documento falso
- Lavagem de dinheiro
- Falsidade ideológica
- Peculato-furto
Esses tipos de crimes têm se tornado cada vez mais comuns no Brasil, especialmente com a popularização do Pix, que embora seja uma ferramenta prática e segura quando usada corretamente, também abre espaço para fraudes rápidas, devido à agilidade nas transferências e à dificuldade de reversão dos valores.
Em 2024, o Banco Central já havia emitido um alerta sobre o crescimento de fraudes via Pix e destacou a importância de práticas seguras e do fortalecimento de sistemas de autenticação nos bancos. O próprio órgão mantém um painel público sobre fraudes financeiras, acessível neste link oficial.
Aposta dos criminosos no anonimato digital
Especialistas em segurança cibernética apontam que o uso de contas laranjas e apostas online é uma tentativa clássica de “limpar o dinheiro”, ou seja, dificultar a origem rastreável dos valores. Com plataformas internacionais e carteiras digitais funcionando em criptomoedas, o trabalho das autoridades acaba se tornando ainda mais complexo.
Segundo Luiz Farias, especialista em crimes cibernéticos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), “os criminosos têm se sofisticado tanto quanto as tecnologias bancárias, aproveitando as brechas entre segurança e conveniência”.
O que diz a Caixa Econômica?
Até o momento, a Caixa Econômica Federal ainda não se pronunciou oficialmente sobre o envolvimento do funcionário, mas confirmou que colaborou com a PF desde o início da investigação. O banco também reforçou que os clientes prejudicados serão ressarcidos conforme análise individual de cada caso.