Acordos bilionários redesenham o setor automotivo mundial, transferindo controle da Iveco para gigantes globais e sinalizando novos rumos para a indústria de caminhões e defesa terrestre.
O cenário industrial europeu sofreu uma reviravolta significativa após a conclusão da venda da tradicional Iveco, marca consolidada entre os brasileiros, marcando o encerramento de um longo ciclo de atuação da Fiat no setor.
A transação, divulgada oficialmente em julho de 2025, envolveu a transferência do controle das operações civis da Iveco ao grupo indiano Tata Motors por €3,8 bilhões, o equivalente a cerca de R$ 24,3 bilhões.
Simultaneamente, a divisão militar da empresa passou ao comando da Leonardo, gigante italiana do segmento de defesa, por €1,7 bilhão (R$ 10,9 bilhões).
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Mudança histórica para a Fiat e o legado industrial
A reestruturação contemplou toda a linha de caminhões, ônibus e motores produzidos pela Iveco, incluindo a subsidiária FPT Industrial e a encarroçadora francesa Heuliez.
Com a transação, a estrutura central dessas operações passará a funcionar na Holanda, sob o controle direto da Tata Motors, conglomerado que também responde pela produção de marcas globais como Jaguar e Land Rover.
Fundada em 1975, a Iveco nasceu da união de cinco fabricantes europeias e, durante décadas, foi um dos pilares da Fiat no setor automotivo, participando ativamente da industrialização e modernização do transporte comercial em diversas regiões do mundo.
Mais recentemente, a marca esteve sob administração da holding Exor, controlada pela tradicional família Agnelli, símbolo da indústria italiana.
Agora, com a venda, encerra-se um ciclo histórico para a Fiat e para a própria indústria automobilística europeia.
No Brasil, a Iveco mantém uma presença industrial relevante desde 1997, quando inaugurou uma das principais fábricas fora da Europa, localizada em Sete Lagoas, Minas Gerais.
Essa unidade responde pela produção de caminhões leves e semipesados da linha Tector, pelo pesado S-Way e pelo utilitário Daily, veículos que ganharam espaço no transporte de cargas em todo o país.
O mesmo complexo abriga ainda o Centro de Desenvolvimento de Produto da marca na América Latina, o primeiro fora do continente europeu.
Com a integração ao grupo Tata Motors, especialistas apontam que a unidade mineira tende a ganhar ainda mais destaque na estratégia da empresa para os mercados sul-americanos.
Venda da divisão militar à Leonardo reforça papel da defesa terrestre
A separação da divisão de defesa da Iveco abriu espaço para que a Leonardo, empresa com sede em Roma e presença consolidada nos setores aeroespacial, eletrônico, naval e de defesa terrestre, assumisse o controle das marcas IDV (Iveco Defence Vehicles) e Astra.
Conforme informações oficiais, a Leonardo passa a integrar ao seu portfólio modelos emblemáticos como o LMV Lince, o Centauro II e o Guarani 6×6, este último desenvolvido especialmente para o Exército Brasileiro.
A IDV também se destaca pelo avanço em soluções autônomas, por meio da divisão IDV Robotics, e emprega cerca de 2.000 pessoas com atuação direta na Europa e América Latina.
“A operação é estratégica para ampliar a presença da Leonardo em programas internacionais de defesa”, declarou a companhia em nota oficial, destacando a expectativa de consolidação do protagonismo em setores de alta tecnologia militar.
O processo de venda e incorporação ainda depende de aprovação dos órgãos reguladores, com conclusão prevista para março de 2026.
Após a finalização das transações, os acionistas da Iveco receberão dividendos extraordinários, conforme detalhado em comunicado ao mercado.
Tata Motors expande domínio no transporte comercial
Com a aquisição da Iveco, a Tata Motors, um dos maiores grupos automotivos do mundo, reforça sua posição global no segmento de transporte pesado e amplia sua atuação industrial na Europa e América do Sul.
Fundada em 1945 em Mumbai, a companhia integra o conglomerado Tata Group, que atua em setores diversificados como siderurgia, energia, hotelaria, tecnologia e telecomunicações.
Nas últimas décadas, a Tata adotou uma estratégia agressiva de internacionalização, adquirindo a divisão de caminhões da sul-coreana Daewoo em 2004 e, em 2008, as marcas britânicas Jaguar e Land Rover, anteriormente sob controle da Ford.
Atualmente, mantém operações industriais e centros de desenvolvimento em países como Índia, Reino Unido, Tailândia, África do Sul e diversas regiões da Europa.
A fabricante indiana ficou globalmente conhecida pelo lançamento do Tata Nano, anunciado nos anos 2000 como o carro mais barato do mundo.
Apesar do projeto não ter alcançado o sucesso comercial esperado, serviu para projetar a imagem da Tata como uma empresa inovadora e disposta a apostar em soluções acessíveis para mercados emergentes.
Com a entrada da Iveco, o portfólio da Tata Motors se fortalece, ganhando ainda mais relevância no transporte comercial de cargas.
Nova fase da Iveco sob comando indiano
Após décadas integrando o grupo Fiat, a Iveco inicia uma nova fase, agora sob o comando de um dos principais conglomerados industriais da Ásia.
A expectativa do mercado é de que a sinergia entre as operações contribua para consolidar a marca como referência global em transporte comercial, especialmente diante dos desafios impostos pela transição para veículos eletrificados, conectividade avançada e soluções sustentáveis para logística.
Além disso, o movimento reforça a tendência de globalização no setor automotivo, com empresas tradicionais da Europa sendo absorvidas por grupos asiáticos em busca de expansão e competitividade.
A Iveco, agora com sede na Holanda, passa a focar exclusivamente no segmento civil, deixando o ramo de defesa sob a responsabilidade da Leonardo.
Perspectivas para o mercado brasileiro e mundial
O encerramento da era industrial da Fiat com a venda da Iveco provoca impactos diretos e indiretos para o mercado brasileiro, especialmente pela importância da fábrica de Sete Lagoas no abastecimento de caminhões e utilitários na América Latina.
Setores industriais e especialistas acompanham com atenção a integração ao grupo Tata Motors, avaliando como a mudança pode influenciar a cadeia produtiva nacional, investimentos em tecnologia e geração de empregos.
Diante dessa transformação, resta a dúvida: a nova fase da Iveco sob o comando indiano trará mais inovação e protagonismo para o Brasil no cenário global, ou a marca perderá espaço para concorrentes tradicionais e novos players internacionais?