Projeto de ferrovia entre Sinop e Miritituba, com 933 km de extensão, promete revolucionar a logística agrícola, reduzir custos e impactos ambientais, além de evitar áreas indígenas e estimular a economia da região Norte.
A apresentação do projeto atualizado da Ferrogrão, ferrovia de 933 quilômetros que ligará Sinop, no Mato Grosso, a Miritituba, no Pará, trouxe à tona novos detalhes sobre a infraestrutura e impactos dessa obra considerada estratégica para a logística nacional.
Conforme informações do portal Pensar Agro, o anúncio foi feito durante evento em Sinop, a proposta contempla um traçado que evita áreas indígenas e o Parque Nacional do Jamanxim, além de prever a construção de 65 pontes ferroviárias e estimar uma economia anual de até R$ 8 bilhões para o setor agrícola brasileiro.
Ferrogrão: licenciamento ambiental e cronograma de obras
O projeto, apresentado pelo empresário Guilherme Quintela, presidente da Estação da Luz Participações, responsável pela idealização do empreendimento, especifica que a Ferrogrão seguirá paralela à BR-163, principal corredor logístico da região Centro-Oeste ao Norte do país.
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De acordo com informações fornecidas durante a apresentação, o novo traçado elimina a necessidade de túneis e realocação de comunidades, reduzindo potenciais conflitos e atrasos na implementação.
Segundo Quintela, o Ministério dos Transportes já avança nas negociações para obtenção da licença ambiental, considerada a última etapa antes do lançamento do edital de concessão federal.
A expectativa oficial é que a licitação seja realizada até março de 2026, possibilitando o início das obras no mesmo ano e conclusão do trecho até 2035, caso os prazos sejam mantidos.
Os dados apresentados ainda destacam a existência de 60% da faixa de domínio já desmatada ao longo do percurso da Ferrogrão, facilitando a implantação do empreendimento.
O estudo ambiental elaborado para o projeto indica que a ferrovia irá ocupar apenas 0,1% da área original do Parque Nacional do Jamanxim.
Para mitigar impactos ambientais, está prevista a compensação com o plantio de 2 mil hectares de vegetação nativa, reforçando o compromisso de reduzir ao máximo os efeitos negativos sobre o bioma amazônico.
Estrutura e obras de engenharia da ferrovia de Sinop a Miritituba
Entre os principais destaques do projeto está o conjunto de obras de arte especiais.
Além das 65 pontes ferroviárias, que somam juntas 81 quilômetros de extensão, estão planejados quatro viadutos ferroviários (totalizando 493 metros), dez viadutos rodoviários e 48 pátios de cruzamento, fundamentais para o escoamento eficiente das cargas.
A maior ponte do trajeto será construída sobre o rio Peixoto, entre os municípios de Matupá e Peixoto de Azevedo, com extensão de 250 metros.
O estudo aponta que não haverá impacto direto em territórios indígenas, eliminando um dos principais entraves enfrentados por grandes obras na região Norte do Brasil.
O redesenho do traçado foi motivado por decisões judiciais e pressões de grupos ambientais e sociais, como a ação apresentada pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) no Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu temporariamente o avanço da ferrovia em anos anteriores sob alegação de impactos em áreas protegidas.
Redução de custos logísticos e benefícios econômicos
Com potencial para transformar a matriz logística nacional, a Ferrogrão deverá promover redução de até 20% no custo do frete agrícola, segundo estudos apresentados pela Estação da Luz.
Esta queda representa uma economia anual estimada em R$ 8 bilhões para os produtores rurais, valor significativo para a competitividade do agronegócio brasileiro nos mercados nacional e internacional.
A ferrovia será capaz de transportar até 69 milhões de toneladas por ano até 2095, conforme as projeções do projeto.
Cada composição ferroviária, com capacidade para 16,9 mil toneladas, substituirá cerca de 422 caminhões no trajeto entre Sinop e Miritituba.
Com isso, estima-se que mais de 400 caminhões deixarão de circular diariamente pela BR-163, contribuindo para redução do tráfego pesado e, consequentemente, para o aumento da segurança viária na região.
Impacto ambiental e integração logística no Arco Norte
Outro destaque do empreendimento é o potencial de redução nas emissões de gases de efeito estufa.
Segundo o estudo de impacto ambiental, a mudança modal proporcionada pela Ferrogrão deve resultar em uma diminuição de 40% nas emissões de CO₂, o que corresponde à redução anual de aproximadamente 3,4 milhões de toneladas desses poluentes.
Esse impacto é especialmente relevante diante dos compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris e no contexto de discussões globais sobre sustentabilidade.
A integração entre os diferentes modais também foi ressaltada durante a apresentação.
Além dos terminais ferroviários previstos para Sinop e Miritituba, o projeto inclui a construção de quatro novos portos fluviais nos municípios de Santarém, Barcarena, Itacoatiara e Santana (Amapá).
Esses investimentos ampliarão a conectividade da região Norte com o restante do país, fortalecendo o chamado Arco Norte, corredor logístico alternativo para exportações do agronegócio brasileiro.
Mudanças para caminhoneiros e perspectivas do transporte multimodal
Embora a Ferrogrão represente uma alternativa ao transporte rodoviário de longas distâncias, o modelo proposto não elimina a importância dos caminhoneiros no sistema logístico nacional.
De acordo com Guilherme Quintela, o transporte rodoviário permanecerá indispensável para conectar as fazendas e centros de produção aos terminais ferroviários.
Na prática, os caminhões farão trechos menores, adaptando-se ao modelo de integração multimodal amplamente adotado em países com matriz logística avançada.
A expectativa do setor produtivo é que a ferrovia contribua para a estabilidade dos preços do frete, redução de custos operacionais, além de favorecer a regularidade do escoamento da produção, especialmente nos períodos de safra.
O projeto da Ferrogrão, ao evitar áreas de sensibilidade ambiental e indígena, busca compatibilizar desenvolvimento econômico, respeito à legislação ambiental e promoção da sustentabilidade na Amazônia.
E você, acredita que a Ferrogrão realmente sairá do papel ou será mais um megaprojeto brasileiro que ficará apenas na promessa? O que pensa sobre os impactos desse projeto?