Cleópatra é lembrada como uma sedutora que abalou Roma, mas sua história vai muito além dos romances com Júlio César e Marco Antônio. Antes de ser uma lenda, ela foi uma rainha estrategista, sobrevivente de disputas familiares e última faraó do Egito
Cleópatra é uma das figuras mais conhecidas da Antiguidade, mas também uma das mais distorcidas.
Poetas e cronistas romanos a retrataram como uma mulher sedutora, interesseira e perigosa.
Para o historiador Cassius Dio, uma mulher de “sexualidade insaciável e ganância desmedida”.
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Esses relatos influenciaram séculos de narrativa sobre a rainha do Egito. Mas quem foi, de fato, Cleópatra?
Cleópatra foi mais do que uma amante de grandes líderes romanos.
Foi uma estrategista, uma sobrevivente e a última governante da dinastia ptolemaica no Egito.
A última faraó do Egito
Cleópatra VII Thea Philopator nasceu por volta de 70 ou 69 a.C., na cidade de Alexandria.
Era filha do rei Ptolemeu XII. Sua mãe permanece desconhecida, o que gera debates sobre a etnia da rainha, mas seu pai era descendente dos gregos macedônios que conquistaram o Egito.
Com a morte do pai, em 51 a.C., Cleópatra se tornou co-regente ao lado de seu irmão mais novo, Ptolemeu XIII, com quem também se casou, seguindo a tradição familiar.
Mas a convivência entre os dois não foi pacífica. Pressionados por conselheiros da corte, os partidários do irmão a exilaram.
Disputas familiares e ascensão ao poder
Antes mesmo de sua ascensão, Cleópatra já enfrentava disputas internas.
Sua irmã mais velha, Berenice IV, tentou tomar o poder enquanto o pai ainda era vivo.
Em 55 a.C., Berenice foi morta. Com isso, Cleópatra voltou a ocupar posição de destaque e assumiu o trono ao lado do irmão.
No exílio, ela não desistiu do trono. Buscou uma aliança com ninguém menos que Júlio César, o general romano. O apoio de César foi decisivo para que Cleópatra recuperasse o poder e eliminasse a ameaça de seu irmão.
O relacionamento político entre os dois virou também uma união amorosa. Cleópatra deu à luz um filho em 47 a.C., que foi identificado como filho de César: Cesarion.
Beleza, influência e presença
Não se sabe exatamente como era o rosto de Cleópatra. Há relatos contraditórios. Cassius Dio escreveu que ela era “brilhante de se olhar” e tinha “beleza incomparável”. Plutarco discordava, dizendo que a beleza não era seu ponto mais forte, mas que seus encantos e sua inteligência cativavam qualquer um.
Moedas antigas mostram a rainha com cabelo cacheado, nariz curvado e queixo proeminente. Mas essas imagens podem ter sido alteradas para que ela parecesse mais romana.
Relações com Roma
Após a morte de Júlio César, Cleópatra se envolveu com outro romano influente: Marco Antônio. A relação também tinha motivações políticas, mas gerou uma intensa ligação afetiva.
Juntos, eles tiveram três filhos: os gêmeos Alexandre Hélio e Cleópatra Selene II, e o mais novo, Ptolemeu Filadelfo.
Cleópatra e Marco Antônio se uniram também contra um novo rival: Otaviano, herdeiro político de César, que mais tarde se tornaria o imperador Augusto.
A guerra com Roma
Otaviano via Cleópatra como uma ameaça direta. Ela era mãe de Cesarion, filho biológico de Júlio César, que poderia contestar o poder de Otaviano.
Em 31 a.C., aconteceu a decisiva Batalha de Ácio. As forças de Cleópatra e Marco Antônio foram derrotadas.
No ano seguinte, já sem forças, Marco Antônio se matou após acreditar que Cleópatra havia morrido. Ao descobrir que ela ainda estava viva, tentou se reunir com ela e morreu em seus braços.
Morte e simbolismo
Cleópatra se refugiou em um mausoléu que havia mandado construir dentro de seu palácio em Alexandria.
Cercada por inimigos e temendo ser levada para Roma como troféu de guerra, decidiu pôr fim à sua jornada de forma voluntária.
A versão mais famosa é que ela teria deixado uma cobra venenosa — um asp — picá-la no seio. Mas muitos estudiosos atuais acreditam que ela tenha ingerido veneno.
A cobra, símbolo associado à realeza no Egito, teria sido usada por seu valor simbólico, apesar de ser um método incerto e doloroso.
Outros historiadores levantam ainda a hipótese de que Cleópatra tenha sido assassinada, em uma ação silenciosa de Otaviano.
O destino dos filhos
Após a morte de Cleópatra, Cesarion foi executado pelas tropas de Otaviano. Seus outros filhos foram levados para Roma.
Alexandre Hélio, Cleópatra Selene II e Ptolemeu Filadelfo foram apresentados como prisioneiros durante o desfile militar de Otaviano, usando correntes douradas.
Pouco depois, foram entregues à guarda de Octávia, irmã de Otaviano e ex-esposa de Marco Antônio. Ptolemeu Filadelfo provavelmente morreu ainda na infância. O paradeiro de Alexandre Hélio é desconhecido.
Cleópatra Selene II, no entanto, seguiu um novo rumo. Casou-se com Juba II, rei da Mauritânia, e se tornou rainha naquela região do norte da África.
Mistério sobre o túmulo
O local do túmulo de Cleópatra nunca foi encontrado. Plutarco relatou que ela e Marco Antônio foram sepultados juntos de maneira “esplêndida e real”, provavelmente no centro de Alexandria. No entanto, essa localização se perdeu.
Muitos pesquisadores acreditam que o túmulo tenha sido destruído por catástrofes naturais ou pelo avanço da linha costeira.
Hoje, parte da antiga cidade de Alexandria está submersa. Apesar das buscas arqueológicas, o túmulo permanece como um dos grandes mistérios da história.
Mais que uma sedutora
A imagem popular de Cleópatra, construída por poetas, romancistas e dramaturgos como William Shakespeare, reforça o estereótipo da mulher fatal.
Mas a trajetória da rainha do Egito mostra outra face: uma líder resiliente, que enfrentou rivais internos, negociou com potências estrangeiras, governou em um mundo dominado por homens e lutou até o fim por seu trono e por seus filhos.
Entre alianças políticas e batalhas perdidas, Cleópatra resistiu como pôde.
Sua história atravessou milênios não apenas por seu fim trágico, mas por sua força diante das pressões de um império em expansão.
Apesar das versões romanas tentarem diminuir seu papel, Cleópatra segue sendo lembrada como uma das figuras mais fascinantes da Antiguidade.
Sua vida e morte ainda despertam debates, buscas e reinterpretações, mais de dois mil anos depois de seu reinado.
E o mistério de seu túmulo segue desafiando arqueólogos e historiadores em todo o mundo.