Enquanto vagou sem rumo em águas brasileiras, a embarcação militar causou vários conflitos, polêmicas e prejuízos
O ex-porta-aviões NAe São Paulo foi afundado pela Marinha nessa sexta-feira (03). Mas ainda não se sabe se esse foi o capítulo final de uma grande polêmica que vem acontecendo desde que a embarcação foi impedida de rumar à Turquia, em outubro, onde seria desmanchado. Acontece que as autoridades brasileiras não garantem se o afundamento foi um procedimento que não causará riscos ambientais, nem esclarecem se vão acompanhar os possíveis danos ao ecossistema marinho.
Não se sabe também como aconteceu o afundamento, nem quanto a operação custou. O procedimento aconteceu a 350 quilômetros da costa brasileira, numa área com mais de 5 mil metros de profundidade, mas só depois de uma decisão da Justiça Federal. Antes disso, a Ministério Público Federal pediu ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região que a decisão de afundar o ex-porta-aviões da fosse revista.
A embarcação contém cerca de 10 toneladas de amianto, um mineral potencialmente cancerígeno e tóxico. O naufrágio foi autorizado baseado num laudo da Marinha que detalha as condições extremamente precárias do casco. Segundo os militares, havia um buraco de 5m x 2m parcialmente imerso, outro de 0,3m x 0,3m na altura da linha d’água e mais um de cerca de 0,08 metros, ambos do lado esquerdo (bombordo).
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Esses e outros danos provocaram a invasão de 2.787 metros cúbicos de água em compartimentos internos da embarcação, o que estava fazendo com que a embarcação estivesse inclinada para o lado esquerdo. Essas condições levantam as seguintes questões: será que houve falta de atenção devida no procedimento de aposentadoria do ex-porta-aviões? Se sabia que cuidar melhor do navio iria favorecer o desmanche verde no futuro?
Governo de Pernambuco aponta riscos ambientais que podem ser causados pelo afundamento
O Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, alerta sobre a proliferação de uma praga, conhecida como coral-sol, que seria uma enorme ameaça à biodiversidade marinha do Estado, pois naufrágios como esse do ex-porta-aviões favorecem o estabelecimento dessas espécies invasoras.
O Governo lembra ainda do desastre ocorrido em 2019, quando houve aparição de grande quantidade de óleo no litoral de Pernambuco. Naquela ocasião, cientistas descobriram que a origem do produto que invadiu as praias e causou enormes danos ambientais se situava a mais de 400 quilômetros da costa. O afundamento do ex-porta-aviões da Marinha aconteceu numa distância menor.
Portanto, toda a substância tóxica localizada na embarcação de que se tem conhecimento poderia ser trazida ao litoral por meio das correntes marítimas.
Entenda como toda essa polêmica começou
Com 266 metros de cumprimento, uma boca de mais de 50 metros e capacidade de deslocar cerca de 30 mil toneladas, o NAe São Paulo pertencia à Marinha do Brasil desde 2000. A embarcação foi comprada da marinha francesa por US$ 12 milhões. Ao chegar aqui, passou a ser o maior equipamento de guerra do Brasil, e ainda o maior navio militar do hemisfério sul.
Mas enquanto pertenceu ao Brasil, a embarcação foi o centro de muitas polêmicas, desastres e prejuízos. No ano passado, o ex-porta-aviões foi vendido a um estaleiro da Turquia. Quando rumava em águas marroquinas, com destino a um estaleiro turco, teve que voltar ao Brasil após o Greenpeace emitir um alerta de que havia muito amianto no casco.
A Marinha ordenou que a atracação acontecesse no Porto de Suape, em Pernambuco. Mas o governo local não permitiu, devido ao risco ambiental, sanitário e à própria operação portuária. A história se espalhou e aí nenhum outro porto brasileiro aceitou receber o ex-porta-aviões.
Sem rumo, o ex-porta-aviões vagou em círculos em águas brasileiras, a 30 quilômetros do litoral pernambucano. Sem conseguir mais sustentar o prejuízo diário de manter o navio e o rebocador enquanto a situação não era resolvida, as empresas MSK Maritime Services & Trading e a SÖK, compradoras da embarcação e responsáveis pelo o que seria o desmanche, resolverem renunciar a propriedade.
A medida foi vista como “abandono definitivo” pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Então, a Marinha, que havia afirmado que o amianto existente no ex-NAe São Paulo não oferecia riscos à saúde no início de toda a história, resolveu realizar o afundamento.