Projeto implementado em estados dos EUA combate a crise climática ao unir geração de energia limpa com economia de água em regiões atingidas por secas extremas.
Na busca por soluções criativas para enfrentar a crise climática, os EUA estão apostando na instalação de painéis solares sobre canais de irrigação como uma forma de gerar energia renovável e, ao mesmo tempo, preservar os recursos hídricos. A iniciativa está em andamento em estados como Califórnia, Oregon, Utah e Arizona, regiões frequentemente afetadas por secas severas.
Com investimentos que superam US$ 25 milhões (cerca de R$ 140 milhões), a proposta une duas frentes importantes da agenda ambiental: a geração de energia renovável e a redução da evaporação da água nos sistemas de irrigação. A prática, embora inovadora nos Estados Unidos, já foi aplicada com sucesso em países como Índia e Espanha.
Projeto Nexus lidera iniciativa na Califórnia
O exemplo mais avançado nos EUA é o Projeto Nexus, instalado ao longo de sistemas de irrigação do Vale de San Joaquín, na Califórnia. A primeira fase do projeto recebeu US$ 15 milhões em financiamento, boa parte proveniente da Lei de Redução da Inflação, aprovada pelo governo federal para impulsionar a transição energética.
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A instalação inicial ocorreu no Distrito de Irrigação de Turlock, que atende cerca de 4.700 produtores rurais. Os painéis solares foram posicionados em duas orientações diferentes – sul e oeste – com o objetivo de testar qual posição oferece maior eficiência na geração elétrica. A expectativa é de produção de até 1,3 gigawatt-hora (GWh) por ano.
Além de gerar energia suficiente para abastecer residências e pequenas propriedades, o projeto contribui para a meta climática da Califórnia: reduzir em 40% as emissões de gases de efeito estufa até 2030. A sombra feita pelos painéis solares sobre a água reduz a evaporação, o que representa uma economia significativa em regiões com escassez hídrica.
Painéis solares sobre canais: dupla função e uso inteligente do espaço
A proposta de usar painéis solares sobre canais de irrigação combina eficiência energética e conservação ambiental. Em vez de ocupar áreas agrícolas com usinas solares convencionais, os EUA estão aproveitando espaços já existentes. Isso evita o desmatamento de novas áreas e preserva terras agricultáveis para produção de alimentos.
Segundo o site Ecoticias, essa estratégia ajuda a reduzir o impacto da geração de energia renovável no uso do solo, tornando os projetos mais sustentáveis e socialmente aceitáveis. Em Utah, por exemplo, o projeto Layton prevê uma economia de 3,7 milhões de litros de água por ano com o uso de estruturas elevadas sobre os canais.
Outras propostas estão sendo avaliadas no país, como a instalação de painéis solares flutuantes no canal Delta-Mendota, também na Califórnia, uma das principais estruturas de distribuição de água do estado. A expectativa é ampliar a produção energética sem comprometer o fornecimento hídrico.
Modelos internacionais inspiram projetos nos EUA
A instalação de painéis solares em canais de irrigação não é uma exclusividade americana. A Índia foi um dos primeiros países a testar essa abordagem em larga escala. O estado de Gujarat, em 2020, iniciou a aplicação de módulos solares ao longo de mais de 80 mil canais da região.
Além da geração de energia renovável, os projetos indianos contribuíram para a conservação de água e evitaram o uso de terras produtivas para a construção de usinas solares convencionais. A Espanha também experimentou iniciativas semelhantes, principalmente em áreas agrícolas com clima árido.
Esses modelos serviram de base para os EUA adaptarem suas soluções ao contexto local, respeitando as condições climáticas, regulatórias e ambientais de cada região.
Especialistas alertam para possíveis impactos ambientais
Apesar das vantagens aparentes, especialistas pedem cautela. Uma pesquisa da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, mostrou que a cobertura excessiva de corpos d’água com painéis solares pode gerar efeitos adversos. Segundo o estudo, lagoas com até 70% de cobertura apresentaram aumento de 27% nas emissões de gases de efeito estufa.
A pesquisa sugere que o bloqueio da luz solar pode afetar o equilíbrio de ecossistemas aquáticos, alterando a atividade de microrganismos responsáveis por processos naturais como a decomposição orgânica. Os pesquisadores recomendam que projetos semelhantes sejam avaliados caso a caso, com acompanhamento ambiental constante.
Energia renovável avança nos Estados Unidos
O avanço das renováveis nos EUA faz parte de um plano mais amplo de transição energética. Segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos, a capacidade instalada de energia solar e eólica cresceu significativamente nos últimos cinco anos. A expectativa é que essas fontes representem a maior parte da matriz energética até 2040.
Projetos como o Nexus e outras iniciativas sobre canais de irrigação se somam a investimentos em redes inteligentes, armazenamento de energia e eficiência energética. A meta do governo americano é reduzir a dependência de combustíveis fósseis e tornar a matriz mais resiliente às mudanças climáticas.
Fonte: Olhar Digital