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EUA e China disputam mercado bilionário da carne bovina do Brasil: exportações batem recorde, tarifas ameaçam o setor e produtores veem risco de perder espaço no maior rebanho comercial do planeta

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 21/08/2025 às 15:35
Atualizado em 22/08/2025 às 11:10
EUA e China disputam mercado bilionário da carne bovina do Brasil
Foto: EUA e China disputam mercado bilionário da carne bovina do Brasil
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Brasil vive recorde nas exportações de carne bovina, mas disputa entre EUA e China expõe riscos de tarifas, dependência e vulnerabilidade do maior rebanho do planeta.

O Brasil vive um momento histórico no setor de proteína animal. Dono do maior rebanho comercial de bovinos do planeta, com mais de 230 milhões de cabeças, o país consolidou-se como maior exportador mundial de carne bovina, abastecendo tanto a Ásia quanto a América do Norte. Em 2025, as exportações bateram recordes sucessivos, impulsionadas por dois gigantes em disputa: China e Estados Unidos.

Mas o que poderia ser apenas uma vitória brasileira no comércio internacional está se transformando em um tabuleiro geopolítico delicado. De um lado, a China, que responde por mais de 50% da carne bovina embarcada pelo Brasil, busca ampliar a segurança alimentar de sua população. Do outro, os EUA, que se tornaram o segundo maior destino da carne brasileira e agora impõem tarifas que podem redesenhar o mapa das exportações. Entre ganhos e riscos, os produtores nacionais vivem uma tensão crescente: a fartura dos recordes pode virar vulnerabilidade em um piscar de olhos.

O peso da China na balança comercial da carne bovina

A relação entre Brasil e China no setor da carne bovina é de interdependência. Desde 2019, os chineses ampliaram de forma exponencial as compras, atraídos pelo surto de peste suína africana que devastou o rebanho de porcos do país. Em 2024 e 2025, o apetite chinês manteve-se elevado, garantindo ao Brasil bilhões em receitas de exportação.

Segundo dados da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), em 2025 a China foi responsável por mais da metade das exportações brasileiras, consolidando-se como cliente estratégico. O risco, no entanto, é claro: a dependência de um único mercado pode deixar os pecuaristas vulneráveis a mudanças repentinas de políticas sanitárias ou a tensões diplomáticas.

A chegada dos EUA como segundo maior comprador

Se a China domina a ponta do consumo, os Estados Unidos emergiram como segundo maior destino da carne bovina brasileira.

Nos últimos dois anos, houve uma abertura crescente do mercado norte-americano para cortes específicos, principalmente de carne in natura. Esse movimento trouxe diversificação às exportações brasileiras, reduzindo — ao menos em parte — a dependência da Ásia.

Mas em 2025, a Casa Branca adotou uma estratégia diferente. Pressionados por produtores locais, os EUA elevaram tarifas sobre parte das importações brasileiras, sob alegação de “defesa da indústria doméstica”. Para o Brasil, a medida foi recebida como um balde de água fria em um momento de expansão. O setor teme que o aumento de custos reduza a competitividade frente a outros fornecedores globais, como Austrália e Uruguai.

Recordes e vulnerabilidades

O Brasil embarcou, em julho de 2025, mais de 200 mil toneladas de carne bovina, volume histórico para um único mês. Os números impressionam, mas especialistas alertam para um paradoxo: quanto mais recordes são alcançados, maior a exposição do país às variações do cenário internacional.

Se a China decidir diversificar fornecedores para reduzir riscos de dependência, ou se os EUA mantiverem tarifas agressivas, o impacto sobre o agronegócio brasileiro pode ser profundo. Afinal, dois países concentram mais de 65% da receita de exportações da carne bovina do Brasil.

O custo das tarifas e a ameaça de perder espaço

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O aumento tarifário dos EUA gerou preocupação imediata. Exportadores calculam que a medida pode significar perdas de até US$ 500 milhões anuais caso os volumes sejam reduzidos. Além disso, abre espaço para que concorrentes ganhem mercado no território norte-americano, enquanto o Brasil pode acabar forçado a direcionar ainda mais carne para a China — reforçando a dependência já considerada perigosa.

Produtores brasileiros também lembram que a disputa não é apenas comercial, mas estratégica. A carne bovina é vista como um ativo de segurança alimentar, e tanto EUA quanto China enxergam no Brasil uma peça central em suas políticas de abastecimento.

Brasil possui o maior rebanho comercial do planeta

O Brasil possui o maior rebanho comercial do planeta, mas enfrenta desafios internos que podem afetar sua competitividade no longo prazo. Questões como rastreabilidade, exigências ambientais e pressão por desmatamento zero colocam o país sob vigilância internacional.

A União Europeia, por exemplo, já aprovou o Regulamento Antidesmatamento (EUDR), que afetará exportações de carne a partir de 2025/2026. Isso significa que, além da disputa EUA-China, o Brasil terá de lidar com barreiras ambientais e regulatórias que podem restringir mercados de alto valor agregado.

A disputa que vai muito além da carne

No fundo, a disputa entre EUA e China pela carne bovina brasileira é um reflexo de algo maior: a competição pela influência sobre o agronegócio e os recursos estratégicos do Brasil. Quem garantir presença estável na cadeia de proteína animal terá não apenas acesso a alimentos, mas também influência geopolítica sobre um setor vital para a segurança global.

Essa guerra comercial coloca o Brasil em uma posição ambígua: de fornecedor cobiçado a refém das tensões entre as duas maiores potências do planeta.

O futuro da carne brasileira

O cenário para 2026 é de incerteza. Se o Brasil conseguir diversificar mercados, ampliar vendas para países do Oriente Médio e manter acordos sanitários robustos, poderá reduzir a dependência dos dois gigantes. Mas se permanecer preso ao jogo EUA-China, corre o risco de ver sua liderança fragilizada.

O fato é que, com um rebanho de proporções continentais e capacidade de produção recorde, o Brasil seguirá como protagonista. A dúvida é se será um protagonista soberano, capaz de negociar com múltiplos parceiros, ou um fornecedor pressionado por dois polos de poder global.

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Omar
Omar
22/08/2025 14:31

A pecuária tem que utilizar mais o modelo intensivo e diversificar os parceiros comerciais, pois assim aumenta a produção, melhora a qualidade do produto final, gera mais segurança comercial e empregos e ainda abastece melhor o mercado local. Isto contribuiria em muito para que a população apoiasse ainda mais o nosso Agro!!

Sandro Teixeira
Sandro Teixeira
22/08/2025 11:52

De que adianta o País exportar toda essa carne e eu comendo osso, pois o preço aqui está nas alturas??? Todo país deve pensar no seu povo primeiro, não em uma pequena camada de milionários exportadores, que tem auxílios do governo, crédito fácil, devastam as florestas e ainda investem seus milhões lá fora .

Clóvis
Clóvis
Em resposta a  Sandro Teixeira
22/08/2025 13:03

O osso tá muito caro também, daqui um pouco vamos estar comendo só a essência feita em laboratório 😂

Ricardo
Ricardo
22/08/2025 09:58

O agronegócio extensivo não é bom economicamente só para uma micro parcela da população que vende para China e vai comprar camaro **** e casa em Miami.
Não é bom ecologicamente devasta área extensas e vai deixar desertos e inundações e térrea contaminadas com agrotóxico pra trás.
Não é bom socialmente não distribui rendas e não leva a igualdade social. Produz contaminação e mono-alimentação levando a câncer Alzheimer e TDH nas crianças…Esse modelo sociail tem ódio de povo.
Esse modelo de desenvolvimento tipo fazendão, o Brasil repete por 500 anos e só dá retorno para uma reduzida elite. E não tem futuro pois com a robotização os países não importarão mais os alimentos, pois todos, países cidades e até famílias, serão capazes de produzir seus próprios alimentos!
Temos que buscar novos modelos de desenvolvimento que inclua a população. Um novo pacto social.
Só quando entendemos que a população é a parte mais rica de um país nós vamos ser um país justo e desenvolvido.

Fonte
Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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