Com energia gerada por Itaipu e tarifas até quatro vezes menores que as do Brasil, moradores do Paraguai desfrutam conforto constante, contas de luz de R$ 50 e até água gratuita em algumas cidades.
O relato da influenciadora digital Lu Sales, que vive no Paraguai, despertou curiosidade ao mostrar que, mesmo deixando o ar-condicionado ligado o dia inteiro, sua conta de luz mensal não passa de R$ 50.
A publicação no Instagram ganhou repercussão entre brasileiros, que compararam o valor com as tarifas cobradas no Brasil — onde o mesmo consumo poderia ultrapassar facilmente os R$ 300. Mas o que explica tamanha diferença?
A estrutura energética paraguaia
O Paraguai é um dos países mais privilegiados do mundo em geração elétrica renovável. Graças às hidrelétricas de Itaipu, construída em parceria com o Brasil, e Yacyretá, em parceria com a Argentina, o país produz muito mais energia do que consome.
-
INSS aperta controle e freia fraudes: empréstimos para aposentados desabam
-
Argentinos driblam crise e controles do Banco Central com stablecoins, que virou febre e rende lucros rápidos
-
Bolsista é obrigada a devolver R$ 245 mil à Capes após manter vínculo de trabalho durante pós-doutorado
-
Maior franquia de bolos do Brasil inaugura loja em SP e distribui bolo de graça
Estima-se que 90% da energia gerada em Itaipu seja exportada, o que garante sobra para uso interno e permite manter tarifas domésticas extremamente baixas.
A estatal Administración Nacional de Electricidad (ANDE) é responsável por distribuir energia em todo o território paraguaio.
Em 2024, o preço médio residencial girava em torno de G 373 por kWh, equivalente a US$ 0,05 — cerca de R$ 0,25 com câmbio atual. Mesmo após reajustes recentes, continua sendo uma das menores tarifas da América Latina.
Comparação direta com o Brasil
No Brasil, o cenário é muito diferente. O país depende de uma matriz mais complexa, que inclui usinas térmicas, e enfrenta custos maiores com transmissão, encargos setoriais e impostos.
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o preço médio residencial brasileiro oscila entre R$ 0,60 e R$ 1,00 por kWh, dependendo da bandeira tarifária e da distribuidora.
Enquanto o Paraguai mantém um custo estável, no Brasil o valor muda conforme o nível dos reservatórios das hidrelétricas e o uso de energia térmica.
Em períodos de seca, o acionamento das bandeiras amarela ou vermelha pode elevar as contas em até 15%. Assim, o consumidor brasileiro chega a pagar três ou quatro vezes mais por cada quilowatt-hora do que um paraguaio.
Um caso prático: os números de Lu Sales
As faturas divulgadas pela influenciadora ajudam a visualizar essa diferença. Em julho, ela pagou 66.000 Gs (≈ R$ 50,77); em agosto, 69.000 Gs (≈ R$ 53,07); e em outubro, 65.000 Gs (≈ R$ 50). Mesmo considerando variações cambiais e consumo mais alto devido ao uso contínuo do ar-condicionado, o gasto se mantém estável.
Se fosse no Brasil, um consumo semelhante de energia poderia custar algo entre R$ 180 e R$ 300, dependendo da região.
Isso significa que, para o mesmo conforto térmico, o custo no Paraguai é de apenas 20% a 30% do valor pago por um consumidor brasileiro médio.
Fatores que reduzem o custo no Paraguai
O principal motivo é o baixo custo de geração hidrelétrica. Itaipu e Yacyretá produzem energia em grande escala com custo marginal reduzido, já que não dependem de combustíveis fósseis. Além disso, o Paraguai aplica subsídios cruzados e isenções fiscais para consumidores residenciais de baixa e média renda.
Outro fator é a baixa carga tributária sobre a eletricidade. No Brasil, impostos e encargos podem representar até 40% da conta de luz, enquanto no Paraguai essa fatia é muito menor. O sistema tarifário paraguaio também não tem bandeiras mensais de variação, o que garante previsibilidade ao consumidor.
Contexto histórico e dependência energética
A situação favorável do Paraguai não é casual. Desde o tratado de Itaipu, firmado em 1973, o país tem direito à metade da energia gerada pela usina binacional, embora consuma apenas cerca de 15%. O excedente é vendido ao Brasil, gerando receita e permitindo manter tarifas internas muito baixas.
Essa estrutura energética altamente exportadora garante autossuficiência elétrica e estabilidade tarifária, mesmo em cenários globais de crise. A produção 100% renovável também posiciona o Paraguai como um dos países mais limpos do planeta em matriz energética, algo que o Brasil, com sua dependência parcial de termelétricas, ainda busca alcançar.
O contraste percebido nas redes sociais
O caso viral de Lu Sales simboliza o contraste crescente entre o custo de vida paraguaio e o brasileiro. Para muitos internautas, pagar R$ 50 por mês em energia parece quase impossível, especialmente em tempos de tarifas cada vez mais elevadas no Brasil.
Nos comentários, brasileiros relatam contas que superam R$ 400 em meses quentes, mesmo com consumo controlado. A postagem serviu, portanto, como um lembrete de como fatores estruturais, tributários e energéticos impactam o dia a dia das famílias — e de como o país vizinho conseguiu, até agora, manter um modelo eficiente e acessível.
Perspectivas futuras
Especialistas afirmam que o Paraguai deve manter suas tarifas competitivas, mas alertam para a necessidade de modernização da rede e maior diversificação da matriz para sustentar o crescimento econômico. A ANDE projeta investimentos em linhas de transmissão e em geração solar, mas a prioridade segue sendo preservar a energia barata como vantagem estratégica.
Já no Brasil, a tendência é de aumento gradual dos custos, pressionados por encargos, subsídios e inflação do setor elétrico.



Seja o primeiro a reagir!