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Esqueça o aço e o concreto! Prédios de madeira estão dominando o mundo e prometem revolucionar a construção civil

Escrito por Lucas Carvalho
Publicado em 11/10/2024 às 11:13

Prédios de madeira estão surgindo em todo o mundo, substituindo o aço e concreto. Descubra por que essa tendência sustentável está ganhando força e como pode transformar a construção civil!

Na Universidade de Toronto, uma nova construção está ganhando vida, mas o que chama atenção não é apenas sua localização estratégica, perto do estádio de futebol, ou sua altura imponente de 14 andares. O diferencial desse prédio reside em como ele está sendo erguido — com a utilização de grandes vigas, colunas e painéis fabricados a partir de placas de madeira manufaturada. Esse processo de construção faz parte de uma inovação tecnológica chamada mass timber (madeira maciça).

O conceito por trás do mass timber vai além de simplesmente utilizar madeira em construções; ele envolve a fabricação de elementos gigantescos de madeira, capazes de substituir o concreto e o aço em várias etapas da edificação.

À medida que as peças de madeira chegam ao canteiro de obras, um guindaste as posiciona enquanto os trabalhadores as fixam com conectores metálicos, transformando gradualmente o projeto em uma imensa estrutura, lembrando a montagem de móveis planos.

O crescimento do uso de madeira maciça

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Embora ainda seja relativamente novo, o mass timber está se tornando cada vez mais popular e, aos poucos, tem aparecido nas paisagens urbanas ao redor do mundo.

O edifício mais alto feito com essa técnica atualmente é o Ascent, um arranha-céu de 25 andares em Milwaukee, concluído em 2022. De acordo com o Council on Tall Buildings and Urban Habitat, em 2022 já havia 84 edifícios de madeira maciça com oito andares ou mais, construídos ou em construção, e outros 55 em fase de proposta.

A maior parte dessas construções se concentra na Europa, com aproximadamente 70% dos projetos, enquanto 20% estão na América do Norte e o restante na Austrália e na Ásia.

Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 1.700 edifícios de madeira maciça já haviam sido construídos até 2023. Esse tipo de construção oferece uma alternativa atraente ao concreto e ao aço, materiais que juntos são responsáveis por quase 15% das emissões globais de dióxido de carbono.

Embora especialistas ainda debatam o papel da madeira maciça no combate às mudanças climáticas, muitos acreditam que essa tecnologia seja mais sustentável do que os métodos tradicionais de construção.

A beleza e a eficiência de prédios de madeira maciça

Madeira maciça pode emprestar calor e beleza a um interior. Na foto, uma unidade no condomínio Carbon12 de oito andares em Portland, Oregon.

Além dos benefícios ambientais, a madeira maciça oferece um apelo estético que diferencia os prédios construídos com esse material. A aparência quente e acolhedora da madeira, com suas variações naturais, pode ser mais agradável aos olhos do que o aço e o concreto.

Como aponta Ted Kesik, cientista de construção da Universidade de Toronto, “as pessoas se cansam de aço e concreto“, mas o visual da madeira pode proporcionar uma experiência mais agradável.

É importante destacar que o uso de madeira em grandes construções não é uma novidade. Durante os séculos 18 e 19, muitas fábricas e armazéns foram construídos com estruturas de vigas de madeira e paredes externas de tijolos.

No entanto, com a evolução da arquitetura e a demanda por prédios cada vez mais altos, a madeira deu lugar ao concreto e ao aço.

Isso mudou há cerca de 30 anos, quando engenheiros e arquitetos da Alemanha e da Áustria começaram a experimentar técnicas para criar elementos massivos de madeira a partir de peças menores, sem a necessidade de derrubar árvores de grande porte.

Como funciona a construção com madeira maciça

Assim como os móveis da Ikea, os edifícios de madeira maciça são montados a partir de peças pré-fabricadas. O condomínio Origine na Cidade de Quebec foi construído cerca de 25 por cento mais rápido do que um edifício convencional.

Na prática, o mass timber funciona de maneira semelhante ao compensado, mas em uma escala muito maior. Peças menores de madeira são coladas e pressionadas para formar massas sólidas e resistentes.

Hoje, vigas de madeira de até 50 metros de comprimento, feitas com o chamado glulam (glue-laminated timber), podem substituir elementos de aço, enquanto painéis de até 50 centímetros de espessura, geralmente de CLT (cross-laminated timber), podem substituir o concreto em paredes e pisos.

Esses compostos de madeira podem ser surpreendentemente fortes, muitas vezes mais resistentes que o aço por peso. No entanto, quanto mais alto o edifício, mais espessas precisam ser as vigas e os suportes de madeira, o que limita o uso exclusivo desse material em arranha-céus. Para esses projetos, como no caso do Ascent, muitas vezes é necessária uma combinação de madeira, aço e concreto para garantir a estabilidade estrutural.

Segurança Contra Incêndios e outras preocupações

Uma das principais preocupações com o uso de madeira em prédios altos sempre foi a segurança contra incêndios. Até recentemente, muitos códigos de construção limitavam o uso de madeira em edificações de poucos andares.

Entretanto, testes rigorosos em câmaras de gás e simulações de incêndios em modelos de madeira maciça demonstraram que esses materiais podem resistir ao fogo por tempo suficiente para que os bombeiros contenham as chamas e os ocupantes evacuem o edifício.

Esses testes convenceram reguladores e consumidores de que a madeira maciça pode ser tão segura quanto outros materiais, especialmente porque, em muitos casos, uma camada de carvão se forma na superfície da madeira quando exposta ao fogo, isolando o interior da peça e retardando o avanço das chamas.

Além do fogo, a umidade é outro grande desafio para esse tipo de construção. A madeira úmida é suscetível à deterioração causada por fungos e insetos, como cupins. Por isso, é crucial controlar a umidade, tanto no transporte quanto durante a construção.

Técnicas de gerenciamento de umidade incluem sistemas de ventilação adequados e, em alguns casos, o tratamento da madeira com pesticidas ou barreiras físicas contra insetos.

Benefícios potenciais da madeira maciça

Um dos principais motivos que tornam a madeira maciça atraente é sua capacidade de combater o aquecimento global. O setor de construção é responsável por 39% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Diana Ürge-Vorsatz, cientista ambiental da Universidade Central Europeia em Viena, afirma que a madeira maciça pode ser uma parte importante dos esforços para reduzir essas emissões. Um estudo de 2020, por exemplo, revelou que o edifício Brock Commons, de 18 andares, evitou a emissão de 2.432 toneladas métricas de CO2 em comparação com uma construção semelhante de concreto e aço.

No entanto, os benefícios ambientais da madeira maciça dependem de várias suposições, como o replantio de árvores após a extração da madeira e o destino dos resíduos de construção. Nem toda a madeira de uma árvore acaba no edifício, e o material que não é utilizado pode liberar carbono se for queimado ou descartado de maneira inadequada.

Ainda assim, a madeira maciça está liderando um novo modelo de construção chamado design integrado. Nesse modelo, o planejamento da construção envolve todos os profissionais desde o início, o que permite um maior controle sobre os componentes do prédio e acelera o processo de construção, que pode ser até 40% mais rápido que métodos convencionais.

O futuro da construção sustentável

Com a crescente popularidade do mass timber, o futuro da construção sustentável parece promissor. Embora ainda existam desafios a serem superados, como questões relacionadas à umidade e à durabilidade, a madeira maciça representa uma alternativa viável e ecologicamente correta ao concreto e ao aço.

À medida que a tecnologia avança e mais pesquisas são realizadas, é provável que esse tipo de construção continue a se expandir, oferecendo não apenas benefícios ambientais, mas também novas possibilidades estéticas e funcionais para a arquitetura.

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Lucas Carvalho

Jornalista experiente com ampla atuação na cobertura de temas relacionados a petróleo, gás e energia renovável. Especialista em análises aprofundadas e tendências do setor, com enfoque em inovações tecnológicas e impacto ambiental. Autor de artigos relevantes na área.

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