O projeto Lecar, do empresário Flávio Assis, ainda não tem carro rodando, nem fábrica construída, mas já pede reservas de clientes e investimento em concessionárias — situação que levou o Ministério Público a investigar possível captação irregular de poupança.
O empresário capixaba Flávio Assis, que se autointitula “Elon Musk brasileiro”, vem chamando atenção no setor automotivo com promessas ousadas. Seu projeto, batizado de Lecar, fala em produzir 120 mil veículos por ano, incluindo um sedã, uma picape no estilo da Fiat Strada e até um SUV.
O problema, segundo o jornalista automotivo Boris Feldman, é que não existe fábrica construída, nem carro rodando em testes.
Enquanto o discurso mira números de multinacionais já consolidadas, a realidade é de um empreendimento ainda no papel.
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A falta de estrutura e a busca por reservas de clientes e investidores levaram o Ministério Público a abrir investigação preliminar para apurar possível captação irregular de poupança.
O histórico de promessas e mudanças de rota do ‘Elon Musk brasileiro’
O projeto Lecar já passou por diversos anúncios de localização de fábrica.
Primeiro, o plano era erguer a planta no Rio Grande do Sul, depois no Espírito Santo, mais tarde na China, e novamente no Espírito Santo.
Assis também tentou adquirir a fábrica da Ford em Camaçari (BA), mas a operação foi fechada com a chinesa BYD.
Mais recentemente, ele citou negociações para usar a unidade de Jacareí (SP), que pertenceu à Caoa Chery, mas a própria montadora chinesa avalia retomar o espaço.
Esse vaivém de planos aumenta a desconfiança sobre a real capacidade de execução do projeto.
A difícil missão de um fabricante independente
Segundo Boris Feldman, o Brasil já testemunhou diversos fracassos de fabricantes independentes.
A IBAP nos anos 1960, a Obvio! nos anos 2000, a Engesa e até mesmo a Gurgel, que chegou a produzir mais de 20 mil veículos, não resistiram à falta de escala e capital.
No cenário global, até gigantes como Ford, GM e Volkswagen enfrentam dificuldades para bancar seus planos de eletrificação.
A tecnologia escolhida pela Lecar, de híbrido em série, já foi usada no BMW i3 e hoje aparece em modelos como o Nissan Kicks e-Power, mas ainda enfrenta barreiras de desempenho e aceitação em mercados de grande extensão territorial, como o Brasil.
Venda antecipada e risco de irregularidades
Assis chegou a pedir sinal de 1% do valor do carro (cerca de R$ 15,5 mil) para quem quisesse reservar uma das primeiras unidades. A adesão foi baixa.
Depois, lançou o modelo de “concessionária Lecar”, no qual interessados desembolsavam R$ 15 mil por material de marketing e assumiam prestações mensais, com entrega do carro só após a quitação de metade do financiamento em até 60 meses.
Essa prática, segundo especialistas citados por Boris Feldman, pode configurar captação irregular de poupança, já que envolve a coleta de recursos sem produto homologado nem garantias formais.
O caso foi parar no radar do Ministério Público, que avalia se houve violação da legislação financeira.
O que está em jogo com o “Elon Musk brasileiro”
Enquanto promete competir com multinacionais e atrair investimentos bilionários, o projeto Lecar segue sem provas concretas de viabilidade.
Para Feldman, a iniciativa repete erros já conhecidos de outros fabricantes nacionais e pode gerar frustração em clientes e investidores.
A trajetória de Flávio Assis levanta dúvidas não só sobre a execução industrial, mas também sobre a transparência da captação de recursos.
Até que os primeiros carros rodem e a fábrica saia do papel, o título de “Elon Musk brasileiro” parece mais um slogan do que um reflexo da realidade.
E você, acredita que projetos como o da Lecar têm futuro no Brasil ou são apenas promessas inviáveis contra as grandes montadoras globais? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive isso na prática.