Em uma transação estratégica concluída em fevereiro de 2025, a australiana St. George Mining adquiriu um projeto de nióbio e terras raras em Minas Gerais, posicionando-se para liderar a nova corrida por minerais críticos no país.
Uma transação de até US$ 21 milhões está redefinindo o futuro da mineração de minerais estratégicos no Brasil. Em um movimento que reflete a nova geopolítica dos recursos naturais, a mineradora júnior australiana St. George Mining comprou da empresa americana Itafos um promissor projeto de nióbio e terras raras em Araxá, Minas Gerais.
O negócio, concluído em fevereiro de 2025, não é apenas uma troca de ativos. Ele representa a entrada de um novo e ambicioso player no coração do Brasil, com uma aposta clara no potencial do país para se tornar um fornecedor global de matérias-primas essenciais para a transição energética e tecnológica, longe da dependência chinesa.
Um negócio estratégico: a compra do projeto de Araxá
O acordo para a aquisição do projeto de Araxá foi anunciado em 5 de agosto de 2024 e oficialmente concluído em 26 de fevereiro de 2025. A compradora foi a australiana St. George Mining, e a vendedora, a americana Itafos Inc.
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A estrutura financeira foi sofisticada. A St. George pagou US$ 10 milhões em dinheiro na conclusão do negócio e se comprometeu com mais US$ 11 milhões em pagamentos futuros. Além disso, a Itafos recebeu uma participação de 10% na própria St. George, mantendo assim um interesse no sucesso futuro do projeto.
O que foi comprado? O tesouro de nióbio e terras raras ao lado da maior mina do mundo
O ativo adquirido pela St. George é de classe mundial. Localizado em Araxá (MG), o projeto é vizinho da mina da CBMM, a maior e mais importante produtora de nióbio do planeta. Essa proximidade confirma o imenso potencial geológico da área.
Em 1º de abril de 2025, a St. George anunciou a primeira estimativa oficial dos recursos do projeto, que confirmou a existência de 41,2 milhões de toneladas de nióbio e 40,6 milhões de toneladas de terras raras, incluindo elementos valiosos como neodímio e praseodímio, essenciais para a fabricação de ímãs de alta performance.
A estratégia da compradora: o “manual da CBMM” da St. George Mining
A compra transformou a St. George. De uma pequena exploradora focada na Austrália, ela se tornou uma desenvolvedora de um ativo de importância global. Para garantir o sucesso, a empresa adotou uma estratégia inteligente: contratar os melhores talentos locais.
A St. George montou uma equipe de gestão no Brasil formada por ex-executivos da gigante CBMM. Esses profissionais trazem décadas de experiência específica na geologia de Araxá e nos processos de mineração de nióbio, o que reduz drasticamente os riscos técnicos do projeto.
A lógica da vendedora: por que a Itafos se desfez do ativo?
Para a Itafos, uma empresa focada em fertilizantes fosfatados, o projeto de nióbio e terras raras em Araxá era um ativo “não essencial”. A venda foi um movimento para otimizar seu portfólio e focar em seu negócio principal.
A transação permitiu à empresa monetizar um ativo que estava parado em seus livros. Com o dinheiro da venda, a Itafos recompensou diretamente seus acionistas, anunciando um dividendo especial em março de 2025, um sinal de disciplina de capital e foco estratégico.
A corrida pelos minerais e o papel do Brasil
A aquisição do projeto de Araxá acontece em um momento de intensa disputa geopolítica por minerais críticos. Nações ocidentais, como EUA e Austrália, buscam desesperadamente criar novas cadeias de fornecimento de nióbio e terras raras para reduzir sua dependência da China, que hoje domina o mercado.
O Brasil está emergindo como um parceiro-chave nessa estratégia. O governo brasileiro apoia ativamente o setor, com iniciativas como o programa MAGBRAS, que visa criar uma cadeia de produção de ímãs permanentes no país. A St. George já foi selecionada para participar do programa, o que garante um mercado doméstico e um forte apoio governamental para o seu projeto em Araxá.