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Com um custo estimado superior a 13 bilhões de dólares, o país dos faraós aposta todas as fichas na transformação de terras áridas no deserto do Egito em um novo oásis agrícola de 1 milhão de hectares.
O Egito está executando uma das maiores e mais arriscadas apostas de engenharia de sua história recente. Em uma tentativa desesperada de garantir o futuro do país diante da escassez de recursos hídricos e crises alimentares, o governo iniciou um megaprojeto que visa, literalmente, inundar o deserto do Egito. A paisagem inóspita de areia escaldante e pedras rachadas está dando lugar a plantações verdes e complexos sistemas de irrigação, desafiando a natureza em uma escala monumental.
Este empreendimento, impulsionado pela urgência de uma população que já ultrapassa 110 milhões de habitantes e vive espremida em apenas 4% do território nacional ao longo do Nilo, busca criar uma nova fronteira de sobrevivência. Com a previsão de atingir 175 milhões de pessoas até 2050, e importando atualmente mais da metade dos alimentos que consome, o país vê na transformação radical de sua geografia a única saída viável para evitar uma catástrofe futura.
O escopo colossal do ‘New Delta‘
O projeto, batizado de New Delta, está sendo implementado na região de El Dabaa, no noroeste egípcio. Trata-se de uma vasta área desértica situada estrategicamente a cerca de 100 km ao sul do Mar Mediterrâneo e a oeste do tradicional Delta do Nilo. O objetivo é irrigar entre 1,5 e 2,2 milhões de fedãs, o que equivale a quase 1 milhão de hectares, uma área aproximadamente quatro vezes maior que a cidade de São Paulo. Mais de 9.000 km² de deserto estão sendo preparados para se tornarem cultiváveis.
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Além da simples plantação, o New Delta está sendo planejado como uma infraestrutura integrada e moderna. O projeto inclui canais revestidos de concreto com centenas de quilômetros, rodovias, linhas de energia, estações solares e até centros de pesquisa em biotecnologia. A visão de longo prazo é estabelecer uma cidade agrícola inteligente, focada não apenas na subsistência, mas também na tecnologia e na exportação.
Engenharia hídrica no limite
Para fazer a água chegar aonde antes só havia areia, foi necessário aplicar uma engenharia de ponta. O coração do sistema é o canal artificial de El Hammam, que se estende por cerca de 170 km, totalmente revestido de concreto para evitar perdas por infiltração. Este canal transporta aproximadamente 3,5 bilhões de metros cúbicos de água por ano, auxiliado por sistemas de bombeamento automatizados capazes de elevar a água a mais de 100 metros de altura para alcançar as terras mais altas.
A sustentabilidade do projeto depende crucialmente da reutilização de recursos. O Egito investiu pesadamente no tratamento de efluentes agrícolas, construindo estações gigantescas como a Bahr El-Baqar e a nova estação El Hammam, considerada a maior do mundo, com capacidade para tratar 7,5 milhões de metros cúbicos por dia. Parte da água também é extraída do Aquífero Núbio, um reservatório fóssil não renovável, o que gera alertas sobre a vida útil do empreendimento a longo prazo.
Riscos econômicos e sombras do passado
Apesar da grandiosidade, o New Delta enfrenta críticas severas e o peso de fracassos anteriores. O custo oficial já ultrapassou os 13 bilhões de dólares, e analistas apontam a falta de transparência no orçamento, controlado majoritariamente pelas forças armadas. Historicamente, projetos similares, como o “Toshka” nos anos 1960 e sua reativação décadas depois, fracassaram em atingir sequer 10% de suas metas iniciais, deixando um rastro de promessas frustradas no deserto.
Além disso, existe o temor de que o alto custo de produção, devido à energia necessária para bombear água e à necessidade de fertilizantes caros para o solo arenoso, torne os alimentos inacessíveis para a população pobre. Embora o governo prometa autossuficiência, grande parte da produção inicial está sendo orientada para culturas de alto valor destinadas à exportação para a Europa e o Golfo, visando equilibrar a balança comercial em vez de encher diretamente o prato dos egípcios mais necessitados.
O New Delta é mais do que uma obra de infraestrutura; é um símbolo de resistência de um país que se recusa a ser engolido pela própria geografia e pelo crescimento populacional. Se funcionará como o esperado ou se será mais um sonho enterrado nas dunas, apenas o tempo dirá.
Você acredita que esse investimento bilionário para transformar o deserto é a solução correta para a crise alimentar, ou os riscos ambientais e econômicos são altos demais? Compartilhe sua análise nos comentários.
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