Na natureza, ser um “bom pai” envolve estratégias para garantir a sobrevivência dos filhotes — mas isso nem sempre significa cuidar deles
O que define um bom pai? Essa pergunta parece simples, mas a resposta é bem mais complexa. E ela muda bastante dependendo do ponto de vista. Na biologia, por exemplo, a ideia de um “bom pai” vai muito além dos padrões sociais e culturais que conhecemos.
A definição biológica se baseia em uma única lógica: garantir que os filhos sobrevivam até a idade reprodutiva.
Ou seja, qualquer comportamento que aumente as chances de reprodução dos descendentes é considerado vantajoso para a espécie.
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A questão é que, por mais estranho que pareça, os cuidados dos pais com os filhos são exceções no mundo animal. Mesmo quando eles seriam úteis, muitos machos simplesmente não interagem com sua prole. E os motivos para isso são variados.
Filhos diferentes demais dos pais
Uma das razões para a ausência de cuidados tem a ver com a aparência dos filhotes. Em muitas espécies, os filhotes nascem tão diferentes dos pais que não há como reconhecer qualquer semelhança.
Em animais com fase larval, como mosquitos, a diferença é tão grande que, no passado, as fases da mesma espécie chegaram a ser classificadas como espécies distintas.
Além disso, pais e filhos muitas vezes vivem em ambientes totalmente diferentes. As larvas de mosquito vivem na água, enquanto os adultos voam pelo ar. Isso torna qualquer tipo de cuidado impossível, já que não existe convivência entre eles.
Pais que morrem ao reproduzir
Outro fator biológico importante é a sobrevivência dos pais após a reprodução. Espécies como o salmão, por exemplo, morrem logo depois da desova. Mesmo que quisessem, não poderiam cuidar dos seus filhotes.
Também é preciso considerar a quantidade de filhotes. Em espécies que produzem milhares de descendentes por ciclo reprodutivo, como acontece com muitos peixes e animais marinhos, o cuidado individual se torna inviável.
Não dá para proteger ou alimentar milhares de filhotes, ainda mais quando estão misturados com os de outros pais.
O ambiente faz diferença
Outro ponto essencial para que haja cuidado é a existência de um ambiente seguro, como um ninho. Sem isso, os pais não teriam como proteger os filhotes enquanto saem em busca de comida.
Mamíferos, aves e insetos sociais, como abelhas, costumam ter esse tipo de “lar” para os filhotes. Nessas espécies, os cuidados são mais comuns.
O ambiente natural também interfere. Um exemplo curioso é o da fêmea do aracnídeo Mastigoproctus giganteus.
Ela transporta os filhotes em uma câmara no abdômen, garantindo a umidade necessária em locais áridos.
Já entre tubarões, existem as chamadas nursery grounds, áreas onde as mães nadam em torno dos filhotes para protegê-los até que fiquem mais fortes.
Filhotes dependentes precisam de cuidados
Mas talvez o fator mais determinante seja o grau de dependência dos filhotes. Mamíferos precisam de leite materno. Aves precisam ser alimentadas no ninho. Se o filhote não consegue sobreviver sozinho, a presença dos pais é essencial.
Com isso, os cuidados parentais se desenvolveram em espécies que não morrem ao se reproduzir, que não têm fase larval, que têm poucos filhotes por vez, que não enxergam os filhotes como alimento e, principalmente, que geram descendentes altamente dependentes.
Esse é o caso de aves modernas, mamíferos e alguns insetos sociais. São grupos reduzidos, mas com forte tendência ao cuidado parental.
Pais que fazem sua parte
Mesmo entre os animais que cuidam dos filhos, as formas de cuidado variam bastante. Entre os vertebrados, por exemplo, existe uma certa “especialização”.
Nos peixes ósseos que cuidam dos filhotes, o cuidado geralmente fica com os machos. O exemplo mais famoso é o do cavalo-marinho. Nessa espécie, é o pai que carrega os ovos em uma bolsa até os filhotes estarem prontos para nadar.
Outro caso interessante é o dos machos cíclidos, peixes de água doce. Eles produzem um tipo de muco nutritivo na pele para alimentar os filhotes, em parceria com as fêmeas.
Mas são as aves que mais se destacam. O cuidado é feito pelos dois pais na maioria dos casos. Como os ovos precisam de calor constante, os pais se revezam na incubação.
Isso favoreceu o surgimento da monogamia em muitas espécies. Em 95% das aves, o casal permanece junto durante o período reprodutivo.
Nos mamíferos, o cuidado é da mãe
Entre os mamíferos, o cuidado geralmente fica com a mãe. Como o desenvolvimento ocorre dentro do útero e continua na fase de amamentação, o vínculo materno é inevitável. Isso garante proteção e nutrição durante os primeiros meses de vida.
Nos primatas, e especialmente entre os humanos, o cuidado vai além do físico. Os pais também transmitem cultura e conhecimento, o que aumenta ainda mais a chance de sucesso dos filhos.
Mas esse benefício da viviparidade e do aprendizado intensivo é quase todo pago pelas mães. São elas que geram, alimentam e ensinam os filhos.
Por isso, entre os humanos, um “bom pai” é aquele que reconhece essa carga e busca equilibrá-la com amor, tempo e presença ativa na criação dos filhos.
Felizmente, cada vez mais homens têm assumido esse papel com orgulho e responsabilidade.
Com informações de BBC.