Tocantins bate recorde de produção de melancia em 2025, movimenta milhares de toneladas e começa a exportar para países da África, abrindo nova rota global e se consolidando como o segundo maior estado brasileiro que mais produz.
Em pleno coração do Brasil, o Tocantins deixou de ser apenas um estado emergente na pecuária e na produção de grãos para se transformar em um dos maiores polos de frutas do país. E, entre todas, a melancia é a grande estrela. Em 2025, a produção bateu recordes históricos, com milhares de toneladas colhidas e escoadas para diferentes mercados dentro e fora do Brasil.
Não se trata mais de uma cultura de subsistência ou de pequenos produtores familiares: o Tocantins assumiu a dianteira como celeiro nacional de melancia, com áreas irrigadas que sustentam colheitas em larga escala. A fruta, que já dominava os mercados do Nordeste e do Sudeste, agora começa a ganhar espaço também em mercados da África, abrindo uma nova rota para a fruticultura brasileira.
Produção recorde no Cerrado
A safra de melancia em Tocantins surpreende até os produtores mais experientes. De acordo com a Secretaria da Agricultura e Pecuária, o estado já ultrapassa milhares de hectares cultivados, com produtividade superior à média nacional.
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O clima, antes visto como obstáculo, virou aliado. A combinação de calor intenso, disponibilidade de água por meio de irrigação e solo fértil do Cerrado permitiu que o Tocantins atingisse produção de até 40 toneladas por hectare, números que colocam o estado no topo dos rankings nacionais.
Caminhões carregados de melancia saem diariamente de cidades como Formoso do Araguaia, Lagoa da Confusão e Gurupi, rumo a centros consumidores como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Só em 2024, mais de mil carretas foram exportadas para diferentes estados e também para países vizinhos.
A rota internacional e a conquista da África
O salto mais impressionante aconteceu em 2025: parte da produção tocantinense começou a ser destinada a países africanos, especialmente do Norte e do Oeste do continente.
As exportações para o mercado africano ainda são pequenas em volume, mas têm valor simbólico enorme — é a prova de que a fruticultura tocantinense não está mais restrita ao mercado interno ou aos vizinhos da América do Sul.
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior, as primeiras remessas de melancia para a África foram enviadas por meio do Porto do Itaqui (MA), aproveitando a proximidade logística. A nova rota consolida o Tocantins como fornecedor estratégico em um continente que deve dobrar sua população até 2050 e aumentar a demanda por alimentos.
Impacto econômico e social
O crescimento da cadeia da melancia no Tocantins é também uma história de transformação social. A cultura emprega milhares de trabalhadores sazonais em cada safra, movimentando a economia local e gerando renda em municípios antes dependentes apenas da pecuária extensiva.
Pequenos e médios produtores também se beneficiam: muitos participam de programas de cooperativas e associações, que ajudam na venda conjunta, na compra de insumos e no acesso a mercados maiores. Além disso, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) já incorporou a melancia tocantinense na merenda escolar, garantindo destino para parte da produção e melhorando a alimentação de crianças da rede pública.
A tecnologia que impulsiona o campo
A expansão só foi possível graças à incorporação de tecnologias modernas. O cultivo de melancia no Tocantins hoje envolve irrigação por gotejamento, drones para monitoramento de lavouras, sensores de solo e uso de sementes híbridas de alto rendimento.
Produtores afirmam que o investimento inicial é alto, mas o retorno compensa: em média, cada hectare de melancia pode render lucros líquidos de até R$ 15 mil por safra, dependendo da produtividade e do mercado. Com ciclos curtos — cerca de 90 dias do plantio à colheita —, é possível realizar duas ou até três safras por ano, aumentando ainda mais a rentabilidade.
Comparação com outros estados
Tradicionalmente, estados como Rio Grande do Norte, Bahia e Goiás lideraram a produção de frutas irrigadas para exportação. Mas em 2025 o Tocantins desponta como nova fronteira agrícola da fruticultura brasileira.
Enquanto o RN foca no melão, exportando 350 mil toneladas anuais para a Europa, o Tocantins aposta na melancia como carro-chefe. O estado já se destaca no abastecimento nacional e agora começa a se posicionar internacionalmente, em um movimento que pode torná-lo referência global até o fim da década.
Apesar do crescimento impressionante, ainda existem gargalos. O maior deles é a logística: estradas precárias e custos elevados de transporte limitam a competitividade da melancia tocantinense. Além disso, a ausência de câmaras frias e centros de armazenagem próximos às áreas de produção encarece o escoamento.
Outro desafio é a oscilação de preços no mercado interno. Em anos de safra cheia, a melancia pode ser vendida a preços muito baixos, reduzindo a margem de lucro dos produtores. Exportar, portanto, é mais do que oportunidade: é necessidade para equilibrar o mercado e garantir estabilidade à cadeia produtiva.
O futuro: consolidar o mercado externo
O próximo passo é consolidar a presença da melancia tocantinense no mercado africano e expandir para a Europa e Ásia. Já existem negociações em andamento para o envio de contêineres refrigerados diretamente para o Porto de Roterdã, na Holanda, principal porta de entrada de frutas no continente europeu.
Se bem-sucedida, a iniciativa pode colocar o Tocantins no mesmo patamar de outros polos frutícolas brasileiros, como o Vale do São Francisco. A expectativa do setor é que, até 2030, o estado exporte mais de 50 mil toneladas de melancia por ano, consolidando sua posição no comércio global.
Do cerrado para o mundo
O caso da melancia no Tocantins é um exemplo do potencial transformador do agronegócio brasileiro quando aliado à tecnologia e à organização produtiva. De uma cultura vista como secundária, o estado construiu um polo que hoje abastece o país e já conquista espaço além-mar.
O desafio agora é avançar em infraestrutura, ampliar mercados e garantir que o crescimento seja sustentável e inclusivo. O que já está claro é que, em 2025, o Tocantins deixou de ser apenas um estado emergente para se tornar protagonista de uma história que conecta o coração do Brasil ao mundo, com a melancia como embaixadora verde e doce de sua força produtiva.