Pesquisadores identificaram eventos incomuns na Antártida que não se encaixam nas explicações da física atual, intrigando a comunidade científica.
Um experimento realizado a 40 quilômetros de altitude sobre o gelo da Antártida registrou sinais que a física atual não consegue explicar.
Os dados foram captados pelo detector ANITA, um equipamento de rádio instalado em balões, e indicam um fenômeno que intriga os cientistas: pulsos de rádio vindos de baixo, como se tivessem atravessado toda a Terra antes de emergir do gelo.
Sinais que desafiam a lógica
O projeto, chamado Antena Impulsiva Transiente Antártica (ANITA), envolve uma equipe internacional que inclui físicos da Penn State.
-
Milhares de bagres surpreendem ao escalar cachoeiras de quatro metros no Mato Grosso do Sul
-
Exército dos EUA aposta em foguete guiado com 98% de confiabilidade e amplia estoque estratégico
-
Novo método dos EUA promete aumentar em até 15% a produção de petróleo de xisto e recuperar parte dos 90% deixados para trás
-
Se os Estados Unidos desligarem o GPS, mais de 6 bilhões de dispositivos civis perderiam sinal imediato em todo o planeta
O experimento foi criado para detectar partículas cósmicas de alta energia. Normalmente, essas partículas, como os neutrinos, chegam do espaço e colidem com o gelo antártico, produzindo sinais de rádio que os sensores conseguem captar.
Mas desta vez foi diferente. Os pulsos vieram de ângulos extremamente íngremes — até 30 graus abaixo da linha do horizonte.
Isso significa que, para surgirem assim, as partículas teriam que atravessar milhares de quilômetros de rocha sólida da crosta terrestre. Algo que, segundo os modelos científicos atuais, não deveria acontecer.
A matemática não fecha
Stephanie Wissel, física da Penn State e integrante do projeto, explicou que esse tipo de sinal já deveria ter sido completamente absorvido pela Terra antes de emergir.
Para ela, os números simplesmente não fazem sentido. Embora os neutrinos sejam conhecidos por atravessarem a matéria com extrema facilidade, até mesmo eles teriam dificuldade em manter esse comportamento com tamanha intensidade e sob aquele ângulo.
“Você tem um bilhão de neutrinos passando pela sua unha do polegar a qualquer momento“, afirmou Wissel.
Mas detectar um deles é raro justamente por causa da sua baixa interação com a matéria. Ainda assim, os sinais observados não se encaixam nem no comportamento típico dessas partículas.
Neutrinos descartados
Com base nas informações coletadas, os pesquisadores passaram a questionar se os sinais teriam sido gerados por neutrinos. A conclusão, por enquanto, é que isso é pouco provável. A origem dos pulsos segue desconhecida.
Para reforçar a análise, os dados do ANITA foram comparados com os registros de dois outros grandes detectores de neutrinos: o IceCube, também na Antártida, e o Observatório Pierre Auger, na Argentina. Nenhum deles captou qualquer evidência parecida.
Sinais seguem sem explicação
Simulações e análises adicionais foram realizadas para eliminar a possibilidade de ruídos de fundo ou interferência de outros raios cósmicos. Mesmo após essas etapas, os cientistas não encontraram nenhuma explicação sólida para os sinais detectados.
“Os sinais permanecem anômalos”, disse Wissel. Isso abre margem para duas possibilidades: ou se trata de algum novo tipo de partícula ainda não identificado, ou estamos diante de um efeito natural raro e mal compreendido.
Nova geração de detector entra em ação
Para tentar esclarecer esse mistério, a equipe trabalha agora no desenvolvimento de uma nova versão do experimento. O detector será chamado PUEO e contará com maior sensibilidade e capacidade de análise.
Segundo Wissel, o novo aparelho poderá identificar mais sinais e ajudar os cientistas a entender se estão diante de uma nova física ou apenas de efeitos ambientais incomuns que ainda não foram completamente descritos.
“Meu palpite é que algum efeito interessante de propagação de rádio ocorre perto do gelo e também perto do horizonte”, afirmou. “É algo que eu ainda não entendo completamente.”
Apesar da incerteza, a equipe mantém o otimismo. Os pesquisadores acreditam que o próximo voo do detector pode trazer as respostas que ainda faltam.
O estudo com os resultados foi publicado na revista Physical Review Letters.