Conheça a história da região que deixou galpões para trás e hoje abriga os aluguéis mais caros e os restaurantes mais badalados da capital.
O antigo apito da fábrica foi trocado pelo tilintar de taças em bares modernos. O cheiro de metal deu lugar ao aroma de pratos sofisticados. Essa é a nova realidade do Brooklin, um bairro em São Paulo que passou por uma das mais rápidas transformações urbanas da cidade. Deixou de ser uma área industrial esquecida para se tornar um sofisticado polo gastronômico, ganhando o apelido de ‘Brooklyn paulistano’.
A herança alemã e o declínio das fábricas
A história do Brooklin começou no início do século XX. Em 1922, a região foi nomeada “Brooklin Paulista”, uma inspiração no famoso distrito de Nova York. Naquela época, o nome representava modernidade e progresso industrial. O bairro se desenvolveu como uma área fabril, atraindo muitos imigrantes alemães.
Essa herança germânica deixou marcas profundas. Um exemplo é a Maifest, um festival tradicional que celebra a cultura alemã e se tornou um marco na região. A paisagem era dominada por chaminés e galpões. Com o tempo, as fábricas se tornaram obsoletas ou se mudaram, e o bairro entrou em declínio. Grandes terrenos ficaram subutilizados, como o da antiga fábrica de sorvetes Kibon, um espaço que seria o centro de uma mudança radical.
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O novo polo gastronômico: sabores e experiências de alto padrão
A face mais visível da transformação do bairro é sua gastronomia. O Brooklin se consolidou como um polo gastronômico sofisticado, focado em um público com alto poder aquisitivo. Os restaurantes oferecem uma grande diversidade de especialidades, mas não de preços.
A cena culinária inclui desde restaurantes contemporâneos com ingredientes brasileiros refinados até charmosas trattorias italianas. Há também opções especializadas, como parrillas argentinas tradicionais e restaurantes japoneses de alta qualidade (premium). A vida noturna segue a mesma lógica. Bares de alta coquetelaria, cervejarias artesanais e locais com “petiscos gourmet” criam um ambiente de descontração sofisticada para um público exigente.
Qual a verdadeira face da “cena descolada”? Uma análise do polo gastronômico
Apesar de ser chamado de “polo criativo”, a realidade do bairro é outra. A principal manifestação cultural da região ainda é a Maifest, um evento que celebra a herança do passado, não uma cena criativa contemporânea. Não há registros de galerias de arte relevantes, ateliês de artistas ou espaços de performance independentes.
O termo “criativo” no Brooklin paulistano foi ressignificado. A criatividade celebrada não é a do artista, mas a do chef de cozinha, do mixologista e do arquiteto. É uma criatividade voltada para o consumo de alto padrão. No Brooklyn de Nova York, os artistas chegaram primeiro e o capital veio depois. Em São Paulo, o capital chegou antes e atraiu os “criativos” que servem a este mesmo capital.
O bairro mais caro de São Paulo e o futuro da região
Toda essa transformação tem um preço alto. Em março de 2025, o Brooklin se tornou o bairro com o aluguel residencial mais caro de São Paulo. O preço médio do metro quadrado para locação atingiu R$99,65, após uma impressionante valorização de 15,3% em apenas 12 meses.
Essa hipervalorização torna impossível a permanência de moradores com rendas mais baixas, causando um processo de substituição da população. O futuro do bairro aponta para a consolidação como um enclave de luxo, uma “ilha de prosperidade” para poucos. O caso do Brooklin levanta um debate importante: este é o modelo de cidade que queremos para o futuro ou um alerta sobre a criação de bairros que se tornam produtos exclusivos?