Após ser rotulado como fracasso na China, SkyRail da BYD ganha uma nova chance no Brasil com a Linha 17-Ouro, projeto bilionário que pode redefinir o futuro da mobilidade urbana e recuperar a credibilidade global da empresa chinesa.
A gigante chinesa BYD, reconhecida mundialmente pelo sucesso no mercado de veículos elétricos, enfrenta agora um grande desafio. A empresa quer provar que também pode revolucionar o transporte sobre trilhos. O projeto SkyRail, lançado há quase uma década, nasceu com promessas futuristas, mas enfrentou dificuldades desde o início em seu país de origem.
Criado em 2016 pelo empresário Wang Chuanfu, o monotrilho foi apresentado como uma aposta em mobilidade urbana sustentável na China. A companhia investiu mais de US$ 1 bilhão no sistema e planejava levá-lo a 200 cidades chinesas. No entanto, o projeto avançou apenas em poucas localidades, como Xi’an, Yinchuan e Shenzhen, onde opera de maneira limitada.
Além disso, conforme reportagem da Bloomberg publicada em outubro de 2025, o SkyRail foi descrito como o “primeiro grande fracasso” da BYD. A fabricante, que domina o mercado de veículos elétricos e baterias, ainda luta para se consolidar no transporte ferroviário, embora mantenha planos ambiciosos de expansão global.
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Estações abandonadas e trens enferrujados revelam o impasse na China
De acordo com a Business Standard, a expansão do SkyRail não alcançou o resultado esperado. Em cidades como Anyang e Guilin, há estações inacabadas e trens enferrujados, sinais claros de interrupção nas obras. Além disso, o cenário expôs o impacto da falta de apoio governamental e da desaceleração econômica chinesa.
Em 2021, o governo chinês suspendeu novos financiamentos para sistemas sobre trilhos. A decisão buscava conter o endividamento local, mas acabou prejudicando projetos promissores. A BYD, que dependia desses recursos, viu seus planos ficarem parados e, consequentemente, precisou reformular sua estratégia.
Ainda assim, a empresa reagiu com o SkyShuttle, um sistema mais compacto, automatizado e econômico. O modelo, semelhante a um people mover, não atraiu novos contratos, embora tenha reforçado o compromisso da companhia com soluções sustentáveis. Wang Chuanfu, porém, continua defendendo a visão de um transporte urbano moderno, limpo e eficiente — e, acima de tudo, adaptado às necessidades das grandes cidades.
Brasil vira palco da redenção da BYD
Com o declínio da experiência chinesa, o Brasil surgiu como o cenário ideal para um recomeço. Assim, a BYD assumiu o comando da Linha 17-Ouro do Metrô de São Paulo, um projeto paralisado há anos após a falência da malaia Scomi, antiga fornecedora dos trens.
A fabricante chinesa herdou o desafio de adaptar o SkyRail à infraestrutura existente e também de instalar sistemas de sinalização, controle e portas de plataforma. Por isso, o contrato, avaliado em R$ 989 milhões, prevê 14 trens com cinco carros, 60,8 metros de comprimento e capacidade para 616 passageiros. Além disso, o acordo inclui a execução da infraestrutura associada ao sistema, o que reforça o compromisso da BYD com a entrega.
O primeiro trem chegou ao Porto de Santos em julho de 2024, enquanto o segundo desembarcou em dezembro do mesmo ano, segundo o Metrô de São Paulo. A previsão é de que o sistema comece a operar em março de 2026, tornando-se o primeiro SkyRail funcional fora da Ásia. Dessa forma, a BYD pretende mostrar ao mundo que o projeto pode dar certo quando bem estruturado.
Linha 17-Ouro simboliza desafio técnico e esperança comercial
Apesar do entusiasmo, o caminho até 2026 ainda apresenta muitos desafios técnicos. O monotrilho brasileiro precisou de adaptações para funcionar sobre uma viga-guia projetada para outro modelo. Além disso, a BYD precisa reconquistar a confiança do público, abalada pelos problemas da Linha 15-Prata, que enfrentou falhas e atrasos.
Mesmo com esses obstáculos, a empresa mostra avanços consistentes. Conforme relatórios recentes do governo paulista, há progresso constante nas obras e melhorias semanais no sistema. Assim, o objetivo é transformar o antigo “projeto amaldiçoado” em um símbolo de eficiência tecnológica e superação.
De acordo com o secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, o novo monotrilho deve ligar o Morumbi ao Aeroporto de Congonhas, reduzindo o tempo de deslocamento e conectando polos econômicos essenciais da capital. Além disso, a integração do sistema deve impulsionar a economia local e atrair novos investimentos em mobilidade.
De fracasso a redenção: o que está em jogo para a BYD
O desempenho da Linha 17-Ouro poderá definir o futuro da BYD no setor ferroviário. Se o projeto for bem-sucedido, a empresa conseguirá reverter o estigma do SkyRail e abrir portas para novos contratos internacionais. Entretanto, se o sistema falhar, o risco de consolidar a imagem de um investimento bilionário mal-sucedido aumentará consideravelmente.
Wang Chuanfu, reconhecido por sua persistência e pela transformação da BYD em uma potência global, afirmou recentemente que a Linha 17 marcará o início de uma nova era tecnológica. Para ele, o Brasil é “a vitrine ideal” para provar que o SkyRail pode ser eficiente, sustentável e rentável, mesmo em contextos desafiadores.
Com a inauguração prevista para março de 2026, o país se prepara para descobrir se o trem do futuro realmente deixará para trás a imagem de abandono e finalmente conquistará os passageiros brasileiros. Assim, a BYD busca transformar um antigo fracasso em orgulho nacional e mostrar que persistência e inovação ainda são trilhos possíveis para o sucesso.
O que você acha que deve acontecer com o SkyRail da BYD? Ele conseguirá provar sua eficiência e transformar o transporte no Brasil ou repetirá os erros cometidos na China?