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Cuba enfrenta a maior crise existencial de sua economia: o colapso da indústria do açúcar

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 16/06/2024 às 09:01
Indústria - açúcar - Cuba - produção - exportação
Cuba enfrenta a maior crise existencial de sua economia: o colapso da indústria do açúcar

Entenda a maior crise da indústria cubana: o colapso do açúcar. Veja como essa crise está impactando a economia e a produção de rum. Saiba mais sobre os desafios da indústria do açúcar em Cuba

Existem países que dependem de suas exportações, e Cuba é um deles. O que uma vez foi o orgulho do país e o motor da economia, hoje está em mínimos históricos e com poucas esperanças de recuperação por parte dos setores açucareiros. O açúcar é vital para Cuba não só para satisfazer a demanda interna e exportar, mas também para poder alimentar outra importantíssima indústria: a do rum.

Havia uma frase popular que dizia “sem açúcar, não há país”, e é algo que tristemente se está cumprindo nesses últimos anos.

O impacto da União Soviética

A Südzuicker é a empresa líder na produção de açúcar. Trata-se de um gigante alemão que tem quase 6.500 empregados e que faturou 4.200 milhões de euros em 2023. A cifra que nos interessa é a produção de 4,1 milhões de toneladas produzidas no ano passado. Bem, Cuba chegou a produzir oito milhões de toneladas de açúcar em 1990. No entanto, os bons dias acabaram com o colapso da União Soviética em 1991.

A produção era boa, mas as exportações não eram tão elevadas devido, entre outras coisas, ao bloqueio dos Estados Unidos, e pouco a pouco a indústria foi minguando. Entre 2002 e 2004, Cuba reduziu o número de refinarias de 156 para 61, o que provocou a eliminação de mais de 100.000 postos de trabalho e, além disso, reduziu a superfície de cultivo de uns espetaculares dois milhões de hectares para apenas 750.000 hectares. Em 2010, a produção total foi de 1,1 milhões de toneladas.

Pandemia e bloqueios afetam a indústria do açúcar

Após anos nefastos, o presidente Raúl Castro decidiu prescindir do ministério do Açúcar – MINAZ – para que um novo grupo empresarial, AZCUBA, passasse a controlar a produção tanto da cana quanto dos produtos derivados. A intenção era modernizar o processo de produção e reorganizar um setor em crise, mas parece que o remédio foi pior que a doença. A pandemia golpeou com dureza a indústria açucareira, mas o bloqueio que os Estados Unidos continuam impondo ao país é o que está provocando um panorama econômico funesto.

Miguel Guzmán, da cooperativa açucareira Yumurí, não só se queixa de seu salário perante a BBC, afirmando que não pode comprar quase nada devido à inflação disparada, mas também da falta de material. “Não há caminhões suficientes e a escassez de combustível (devido a preços cinco vezes mais altos desde 1º de março) significa que algumas vezes passam vários dias antes de que possamos trabalhar”. Isso atrasa absolutamente todo o processo e é algo que (somado a outros fatores) está prejudicando a produção.

Última colheita desastrosa

Em 2019 viu-se algo de recuperação, com uma produção de 1,3 milhões de toneladas, mas desde então tem ido ladeira abaixo. 2020 foi um ano perdido devido à pandemia, mas 2021 não foi muito melhor: 800.000 toneladas, supondo a cifra mais baixa desde 1908 e sendo 10% dos oito milhões de toneladas dos anos 90.

As coisas não foram melhores no ano passado, com uma produção de apenas 350.000 toneladas. Dionis Pérez é o diretor de Comunicação da empresa estatal AZCUBA e reconhece que quase não há refinarias funcionando neste momento. Os trabalhadores se queixam de materiais obsoletos e ferramentas enferrujadas que não podem garantir uma boa produção. Por sua vez, Juan Triana, do Centro de Estudos da Economia Cubana, afirma que “é um desastre. Hoje em dia, a indústria açucareira de Cuba quase não existe”.

Importando açúcar para sustentar outras indústrias

Tradicionalmente, Cuba consumia 700.000 toneladas e exportava o restante, mas com a produção atual, a situação mudou radicalmente. Juan aponta que estão produzindo a mesma quantidade de açúcar que produziam em meados do século XIX, quando não era uma indústria propriamente dita, e coloca parte da culpa nas agressivas políticas comerciais de Trump que Biden não revogou. No entanto, não são apenas problemas ocasionados pelo governo dos EUA.

Em abril deste ano, e com uma colheita por terminar, só haviam produzido 71% das 412.000 toneladas previstas, o que significa algo menos de 300.000 toneladas. Veremos onde fica a cifra na colheita atual, mas vozes como Omar Everleny, economista cubano, afirmam que “teremos que importar e, claro, menos açúcar significa que haverá menos álcool para diversas indústrias e, claro, menos rum”.

E é que essa fadiga na produção cubana do açúcar é uma bola de neve imensa. Se não há açúcar, não se pode satisfazer a demanda interna, mas também não exportar para conseguir dinheiro. Se não há açúcar, não se pode fabricar o outro orgulho nacional, o rum. Portanto, e como dizia a frase popular, se não há açúcar, não há país.

Imagens | Forest & Kim Starr, Rufino Uribe

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Noel Budeguer

De nacionalidade argentina, sou redator de notícias e especialista na área. Abordo temas como ciência, petróleo, gás, tecnologia, indústria automotiva, energias renováveis e todas as tendências no mercado de trabalho.

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