De acordo com Fernanda Delgado, diretora-executiva corporativa do IBP, com a Rússia perdendo espaço como fornecedora em razão da guerra, as produtoras de petróleo do Brasil poderão ser beneficiadas devido ao desequilíbrio no mercado
O barril de petróleo na casa dos US$ 100, maior preço desde 2014, poderá beneficiar o Brasil, país que na última década se tornou um grande produtor e exportador de petróleo. De acordo com Fernanda Delgado, o fato de a Rússia estar perdendo espaço como fornecedora abrirá a possibilidade de importar de outros fornecedores, podendo reativar Irã, Venezuela e também trará possibilidades para o Brasil, devido ao seu mercado já consolidado e não adormecido. No cenário atual, o Brasil poderá se beneficiar com a alta demanda e ganho de parte do mercado internacional, o que incentivará a produção no Brasil.
Leia também:
- Produção dos campos marítimos no pré-sal registram recorde com 2,9 milhões de barris de petróleo dia e 98,6 milhões de metros cúbicos diários de gás natural, correspondendo a cerca de 75% do total nacional
- PetroReconcavo aumenta produção de petróleo e gás em Campos onshore
- Com instabilidade no mercado de petróleo mundial em razão da guerra na Ucrânia, Bento Albuquerque discorre sobre o pedido dos Estados Unidos ao Brasil e outras medidas realizadas no país
Para Flávio Conde, professor da Unesp, os efeitos da guerra no setor petroleiro do Brasil são divididos em duas fases: antes e depois do reajuste nos preços dos combustíveis da Petrobras. Antes, a área beneficiada era a de produtoras de petróleo bruto que importam o barril na cotação do mercado internacional, já que o lucro das produtoras é proporcional ao preço do barril de petróleo. Já a Petrobras só se beneficia quando reajusta os preços dos combustíveis nas refinarias, para que quando importe o petróleo a um preço maior no mercado externo, evite prejuízos.
De acordo com Conde “Antes do reajuste, eu calculava um prejuízo de R$ 12 bilhões no primeiro trimestre com essa diferença. Era um gasto adicional para não repassar preços”.
Reajuste da Petrobras levam cerca de 60 dias
Flávio Conde considera que os reajustes da Petrobras demoram em média 50 a 60 dias, um tempo razoável quando o mercado se encontra nas condições normais, mas não atualmente, com a alta brusca do barril de petróleo.
Já o ex-presidente da ANP e atual presidente da Enauta, Décio Oddone estima que para um país com um petróleo mais caro, os prejuízos serão, em média, o triplo dos ganhos. Para Décio, em relação a época que o país era completamente dependente das importações do barril, o cenário atual já é um avanço. Décio diz que “Para cada aumento de US$ 1 no valor do barril de petróleo, o Brasil tem um aumento da ordem de R$ 1 bilhão com arrecadação, mas o impacto dos aumentos dos principais derivados é da ordem de R$ 3 bilhões a mais em custos para a sociedade”.
Oddone explica o Brasil ainda é dependente da importação de derivados do petróleo para o consumo nacional, mesmo tendo atingido a autossuficiência no petróleo bruto. Ele acrescenta que na década de 80, a crise de petróleo era uma crise dupla, pois além dos preços elevados, o Brasil ainda tinha uma crise de dívida externa.
O ex-diretor da ANP, David Zylbersztajn, reforça que os malefícios do petróleo com valor tão elevado podem ser superiores aos benefícios. “Para a Petrobras, barril alto é bom negócio, mas é negativo para quem precisa comprar. Petróleo é insumo para muita coisa, de transporte rodoviário e aviação até o botijão de gás. Não vai ter jeito, tudo vai ficar mais caro.” diz Zylbersztajn.
Fonte: CNN