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Corrida global pelo cobalto expõe desequilíbrio: China e Congo concentram poder e o Brasil busca seu espaço na revolução verde

Escrito por Caio Aviz
Publicado em 17/10/2025 às 14:06
Minério de cobalto com brilho azul metálico ao lado de moedas brasileiras, simbolizando o papel do Brasil no mercado global dominado por China e Congo.
Fragmentos de cobalto reluzente e moedas de real representam a disputa internacional pelo metal que impulsiona a revolução verde e expõe a dependência mundial de China e Congo.
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Metal essencial para baterias e aviões é dominado por duas potências e expõe o desafio do Brasil em entrar na nova economia verde

O cobalto, peça-chave na transição energética global, tornou-se o novo campo de disputa entre China e República Democrática do Congo (RDC). Usado em baterias de carros elétricos, celulares, superligas metálicas e aeronaves militares, o metal define o rumo da revolução tecnológica que promete mudar o planeta.

Em 2024, segundo dados do Cobalt Institute, a RDC respondeu por mais de 70% da produção mundial, enquanto a China concentrou 80% do refino. Essa dependência entre países em desenvolvimento e potências industriais reacende debates sobre soberania, ética e segurança energética.

Empresas ocidentais — muitas sediadas nos Estados Unidos e Europa — continuam dependentes do material extraído sob condições precárias na África e refinado sob controle chinês.

Concentração geopolítica e dilemas éticos

A maior parte do cobalto vem das províncias congolesas de Katanga e Lualaba, regiões exploradas desde o período colonial. De acordo com relatórios de 2023 e 2024 da Amnesty International e da ONU, há indícios de trabalho infantil, exploração de comunidades locais e violações de direitos humanos em dezenas de minas.

Especialistas alertam que, enquanto o mundo corre para reduzir emissões de carbono, a base dessa transição continua marcada por contradições sociais profundas. Além disso, a China ampliou seu domínio sobre o setor ao investir pesadamente em refinarias, ampliando o poder de influência nas cadeias globais de suprimento.

Com isso, as grandes fabricantes de tecnologia — como Apple, Tesla e Samsung — permanecem dependentes de um sistema que combina risco humanitário e vulnerabilidade logística.

As gigantes que ditam o ritmo da produção mundial

Entre as líderes do mercado de cobalto estão a Glencore (Suíça), a CMOC e a Huayou Cobalt (China), além da ERG (Cazaquistão), CNGR (China), Umicore (Bélgica) e GEM (China). Juntas, essas companhias controlam praticamente toda a extração e o refino industrial do metal.

A Finlândia, segundo maior refinador do mundo, detém cerca de 7% da capacidade global, muito atrás da China, que também importa grandes volumes do Congo para processar internamente. Segundo especialistas, esse cenário garante a Pequim um poder estratégico incomparável, influenciando desde os custos das baterias até os preços internacionais de veículos elétricos.

Brasil tenta retomar espaço na cadeia do cobalto

Minerador segura mineral que contém cobalto em uma mina artesanal em Kolwezi, na República Democrática do Congo – Junior Kannah/AFP

No Brasil, ainda não há minas de cobalto em operação. Embora o metal esteja presente em áreas associadas ao níquel e ao cobre, ele é tratado apenas como subproduto. A Anglo American, por exemplo, já avaliou aproveitar rejeitos de minério para extrair o material, mas sem avanços práticos até 2025.

Atualmente, dois projetos despontam: o da Horizonte Minerals, no Pará, e o da Brazilian Nickel, no Piauí. Ambos pretendem iniciar a produção conjunta de níquel e cobalto nos próximos anos. No entanto, a Horizonte passa por recuperação extrajudicial, o que adia qualquer operação imediata.

No setor de refino, a australiana Jervois tenta reativar a refinaria de São Miguel Paulista (SP), desativada pela Votorantim Metais em 2016. O projeto, estimado em US$ 22,5 milhões, pretende iniciar atividades em 2027, produzindo 10 mil toneladas de níquel e 2 mil toneladas de cobalto por ano.

Essa reabertura representa uma oportunidade de o Brasil recuperar parte da cadeia industrial e diversificar sua matriz mineral, ainda que de forma tímida.

Um metal pequeno com poder global

Mais do que um simples insumo, o cobalto é hoje um símbolo das novas disputas industriais e ambientais. À medida que cresce a demanda por baterias elétricas e energia limpa, o metal se torna ainda mais valioso e disputado.

Entretanto, a dependência de poucos países produtores e refinadores evidencia um desequilíbrio estrutural que ameaça a segurança global. Governos e empresas debatem como conciliar crescimento econômico, sustentabilidade ambiental e responsabilidade social em uma cadeia que concentra poder e desigualdade.

O desafio, portanto, é global: será possível garantir que o cobalto, pilar da revolução verde, seja extraído e refinado de forma ética, sustentável e transparente?

O que você acha: o mundo deve reduzir a dependência da China e do Congo, investindo em novos polos como o Brasil, ou aceitar a centralização atual como parte inevitável da transição energética?

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Caio Aviz

Escrevo sobre o mercado offshore, petróleo e gás, vagas de emprego, energias renováveis, mineração, economia, inovação e curiosidades, tecnologia, geopolítica, governo, entre outros temas. Buscando sempre atualizações diárias e assuntos relevantes, exponho um conteúdo rico, considerável e significativo. Para sugestões de pauta e feedbacks, faça contato no e-mail: avizzcaio12@gmail.com.

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