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Construção sem entulho: sistema modular austríaco permite separar paredes e pisos como peças de LEGO

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 27/08/2025 às 07:15
construção
O elemento de gancho se conecta ao componente. Fonte da imagem: IAT – TU Graz
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Inspirado no velcro, projeto ReCon permite separar e reutilizar componentes de edifícios, reduzindo entulho, custos de reformas e emissões de CO₂.

Pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Graz (TU Graz), na Áustria, apresentaram uma inovação que pode transformar o setor da construção. Trata-se do projeto ReCon, desenvolvido em parceria com empresas como Axtesys e NET-Automation.

O objetivo é simples, mas ambicioso: criar conexões modulares do tipo velcro para permitir a fácil separação e reutilização de partes de edifícios.

Essa abordagem pretende reduzir o enorme desperdício de materiais provocado pelas demolições tradicionais.

Ao invés de destruir e descartar componentes, o sistema permite desacoplar peças estruturais ou de interiores de maneira rápida e limpa.

Como funciona a tecnologia

O sistema usa ganchos em formato de cogumelo ou elementos fabricados em impressão 3D. Eles são aplicados em concreto, madeira ou até derivados de papel.

Essa conexão garante firmeza comparável às soluções convencionais, mas com uma diferença essencial: pode ser desmontada sem perder a integridade.

Segundo os pesquisadores, isso permite separar estruturas de longo prazo, como paredes de suporte, das partes mais temporárias, como divisórias internas ou instalações elétricas. Dessa forma, reformas deixam de gerar grandes quantidades de entulho.

Além disso, o modelo se inspira diretamente no velcro, facilitando tanto a montagem quanto a desmontagem. É como um encaixe que mantém firmeza e, ao mesmo tempo, oferece reversibilidade.

Aplicações em interiores

Na primeira fase, a TU Graz concentra os testes em ambientes internos. Divisórias, pisos elevados, painéis técnicos e outras superfícies podem ser instalados como peças de LEGO.

Essa flexibilidade reduz custos, acelera reformas e ainda amplia a vida útil de cada componente.

Há também estudos para substituir a impressão 3D por moldagem por injeção ou estampagem metálica.

Isso aumentaria a durabilidade das conexões e abriria espaço para aplicações mais exigentes, como fachadas removíveis ou até mobiliário urbano reconfigurável.

Economia circular aplicada à construção

O projeto segue o conceito de economia circular, que prioriza reutilização, reparo e prolongamento do ciclo de vida de produtos.

No setor da construção, isso representa uma mudança profunda, porque o modelo tradicional ainda é linear e baseado no descarte.

Com a modularidade, um mesmo painel de parede pode ser retirado de um prédio e utilizado em outro. Essa lógica praticamente não existe na indústria atual, onde o destino mais comum é o entulho.

Portanto, o sistema ReCon pode se tornar um divisor de águas para um setor que representa cerca de 35% de todo o resíduo gerado na Europa.

Digitalização e rastreabilidade

Outro destaque do projeto é a integração de chips RFID e códigos QR nos componentes. Cada peça pode carregar informações como data de fabricação, composição, origem e possíveis contaminantes.

Esses dados digitais oferecem rastreabilidade total, algo raro na construção civil. Com isso, técnicos e engenheiros conseguem saber exatamente o que estão reutilizando ou reciclando, mesmo décadas após a instalação.

Esse diferencial atende também às novas regras europeias. A Taxonomia Verde da União Europeia e a revisão do Regulamento de Produtos de Construção (CPR) exigem mais transparência, menos desperdício e maior incentivo à reutilização.

Impactos ambientais e econômicos

A adoção do sistema ReCon pode trazer efeitos diretos na redução das emissões de CO₂.

Como os componentes ganham mais de uma vida útil, há menos necessidade de produção de novas matérias-primas. Além disso, o transporte e o descarte de resíduos também diminuem.

Na prática, isso representa economia financeira e ambiental. Reformas podem se tornar mais rápidas, menos custosas e sustentáveis. Edifícios inteiros podem ser adaptados a novas funções sem demolições pesadas ou dispendiosas.

Essa reversibilidade ainda promove uma nova cultura no setor. Em vez de demolir, o foco passa a ser adaptar e manter. Isso abre espaço para cidades mais flexíveis e resilientes, capazes de responder a mudanças sociais e ambientais com mais agilidade.

Reconhecimento e futuro

O sistema hook-and-loop já conquistou o Prêmio de Sustentabilidade 2024 na Áustria, um sinal claro de seu potencial. Atualmente, está em fase de demonstração no Museu de Ciência e Tecnologia de Viena, onde ficará em exposição até 2026.

Os pesquisadores acreditam que, se o sistema for padronizado e aplicado em larga escala, pode se tornar fundamental para a construção de cidades alinhadas às metas climáticas de longo prazo.

O projeto ReCon surge como uma resposta direta a um problema antigo: o excesso de resíduos da construção civil.

Ao adotar conexões modulares e rastreáveis, o setor pode economizar recursos, reduzir impactos ambientais e preparar edifícios para o futuro.

Ainda em desenvolvimento, a proposta já demonstra viabilidade técnica e regulatória.

Se avançar para além dos protótipos, o sistema tipo velcro pode marcar o início de uma nova era na forma de construir, reformar e manter os espaços urbanos.

Com informações de TU Graz.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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