Com investimento bilionário, Ambev aposta em nova unidade de vidro no Paraná para fortalecer logística, ampliar eficiência produtiva e competir com rivais no mercado de cervejas, em um polo industrial já estratégico para a companhia.
A Ambev vai instalar uma fábrica de garrafas de vidro em Carambeí (PR), nos Campos Gerais, com investimento de R$ 870 milhões e previsão de início de operações até o último quadrimestre deste ano, segundo informações originalmente publicadas pelo portal A Rede e confirmadas pela companhia.
O projeto amplia a presença industrial da empresa na região, onde já opera, desde maio de 2016, a cervejaria de Ponta Grossa, e tem como objetivo reforçar a logística própria e a eficiência operacional em meio ao avanço de concorrentes como a Heineken e do segmento de cervejas artesanais.
Nova fábrica de vidro reforça logística no Paraná
Localizada a poucos quilômetros da planta cervejeira, a unidade de Carambeí foi concebida para abastecer de embalagens marcas do portfólio da Ambev, como Brahma e Spaten.
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A proximidade com a linha de produção de Ponta Grossa reduz percursos de transporte, encurta prazos e mitiga riscos de ruptura, pontos considerados críticos em cadeias que dependem de garrafas retornáveis e de longo ciclo de reuso.
Além do ganho de tempo, a integração fabril diminui custos logísticos e concentra fornecedores estratégicos no mesmo polo, o que facilita o planejamento de safras e campanhas promocionais.
“Vai ser uma fábrica de garrafas de vidro que vai trazer várias marcas, como a garrafa da Brahma, da Spaten”, descreveu o diretor da cervejaria de Ponta Grossa, Aurélio Pessoa Junior, ao destacar a relevância do projeto para a malha operacional.
Cervejaria de Ponta Grossa mantém modernização constante
A cervejaria de Ponta Grossa foi inaugurada em 2016 com investimento inicial superior a R$ 800 milhões e, desde então, passou por ampliações e ajustes tecnológicos.
Conforme Pessoa Junior, “desde o início, já investimos, só nessa cervejaria, na ordem de R$ 1 bilhão. Estamos modernizando constantemente, entramos com novas marcas, e inclusive também investimos em capacidade produtiva, em logística”.
Com cerca de mil trabalhadores entre equipe própria e parceiros, a planta fabrica seis rótulos: Budweiser, Original, Brahma, Brahma Duplo Malte, Skol e Antarctica.
A produção é envasada em garrafas long neck, 600 ml e 1 litro, além de latas de 350 ml e 473 ml.
O Brahma Chopp sai em barris de 10, 30 e 50 litros. A distribuição prioriza os mercados Sul e Sudeste, regiões de maior densidade de consumo e com redes logísticas mais maduras para entregas frequentes.
Integração “do campo ao copo” impulsiona produção
Segundo o diretor, o Paraná reúne os elos essenciais para a cadeia da cerveja: matéria-prima, mão de obra, água de qualidade e, agora, a futura oferta de garrafas.
“Costumamos dizer que é ‘do campo ao copo’”, afirmou Pessoa Junior, ao explicar a lógica de verticalização que reduz dependências externas e amplia a previsibilidade de custos.
A produção local de vidro também favorece ajustes finos de especificação, rotulagem e padronização de retornáveis, além de facilitar testes de novas embalagens sem alongar o tempo de desenvolvimento.
Para a operação, isso significa menor risco de paradas por falta de insumo e maior velocidade para responder a mudanças de demanda no varejo, como destacou o A Rede.
Sustentabilidade aliada à eficiência industrial
A unidade de Ponta Grossa é apontada pela empresa como a primeira cervejaria do grupo no Brasil a ser carbono neutro, o que associa metas ambientais a ganhos de produtividade.
Medidas como reaproveitamento de água, eficiência térmica e logística otimizada com rotas mais curtas contribuem para reduzir emissões e, ao mesmo tempo, custos recorrentes.
No caso do vidro, a proximidade entre forno e linha de envase tende a diminuir emissões de transporte e perdas na cadeia.
A adoção de garrafas retornáveis, comum no portfólio da Ambev, também se beneficia de ciclos mais rápidos de coleta, inspeção e reenvase, fortalecendo o modelo de economia circular.
Estratégia para competir com rivais e manter prazos
Ao internalizar parte da produção de garrafas no mesmo polo, a Ambev espera diminuir a exposição a choques externos na cadeia de suprimentos.
Interrupções de transporte, variações de custo de frete e restrições de fornecedores passam a ter impacto mitigado.
Em um setor com competição intensa, sobretudo contra a Heineken e marcas artesanais em nichos de valor agregado, garantir disponibilidade constante e agilidade de reposição tende a ser determinante para sustentação de participação de mercado.
A empresa destaca ainda que o estado reúne matéria-prima, mão de obra qualificada e água de qualidade, condições que, somadas à nova fábrica de garrafas “na porta” da cervejaria, devem simplificar rotinas e dar escala aos ganhos de eficiência.
Próximos passos para o reforço operacional
A expectativa oficial é iniciar as operações de Carambeí até o último quadrimestre do ano, alinhando a entrada do forno de vidro ao plano de produção da cervejaria.
Enquanto isso, Ponta Grossa segue em modernização, com investimentos voltados a tecnologia, logística e ampliação de capacidade, conforme o diretor.
O objetivo declarado é manter a unidade no topo do parque fabril da empresa, com processos atualizados e maior integração com a nova fornecedora interna de embalagens.
Em um cenário de consumo volátil, a estratégia converge para três frentes de reforço operacional: sincronizar produção e envase, encurtar a cadeia de suprimentos de embalagens e preservar flexibilidade para manobrar o portfólio entre marcas de alto volume e linhas premium.
Diante desse desenho, que outros impactos a integração entre Carambeí e Ponta Grossa pode trazer para o abastecimento do Sul e do Sudeste?