Ladrilhos de micélio inspirados em “pele de elefante” resfriam ambientes e oferecem estética inovadora. Solução sustentável para arquitetura e clima quente
Uma nova combinação de materiais inusitados pode transformar a maneira como as construções enfrentam o calor e a umidade. Engenheiros de Cingapura desenvolveram um ladrilho resistente e ecológico, feito com cogumelos e restos de móveis de bambu, que promete manter edifícios mais frescos.
O ladrilho, criado com base na biomimética, imita a pele de elefante, com saliências e fendas que ajudam a resistir aos elementos naturais e oferecem resfriamento passivo.
A criação do ladrilho ecológico foi liderada por cientistas da Universidade Tecnológica de Nanyang (NTU Singapore). Eles chamam o novo material de “telhas de fungos” e afirmam que o objetivo é melhorar a eficiência energética das construções, especialmente em climas tropicais, onde as temperaturas elevadas e chuvas intensas são comuns.
-
Pesquisadores descobriram um pequeno mundo misterioso em nosso sistema solar
-
A Lua esconde um tesouro abundante que vale US$ 20 milhões o quilo — e os cientistas estão prontos para extraí-lo
-
Ameaça à Starlink? Cientistas chineses estudam formas de destruir satélites de Elon Musk em caso de conflito
-
TV como você conhece está com os dias contados: nova geração com 8K, inteligência artificial e conectividade total chega ao Brasil
Alternativa ecológica aos isolantes sintéticos
“Materiais isolantes são cada vez mais integrados em paredes de construção para aumentar a eficiência energética, mas estes são principalmente sintéticos e vêm com consequências ambientais ao longo de seu ciclo de vida“, explicou Hortense Le Ferrand, professora associada das Escolas de Engenharia Mecânica e Aeroespacial (MAE) e Ciência e Engenharia de Materiais (MSE) da NTU.
Ela destaca que o novo ladrilho ecológico é feito com micélio, parte estrutural dos fungos, que é altamente poroso e biodegradável. Essa porosidade o torna um bom isolante térmico, com condutividade comparável ou até superior a materiais sintéticos usados atualmente.
O micélio tem ganhado espaço como base de novos materiais biotecnológicos. Já vem sendo explorado para isolamento acústico, fabricação de cimento e até como ferramenta para conter derramamentos de óleo.
No caso das telhas criadas em Cingapura, os pesquisadores usaram o micélio do cogumelo ostra comum (Pleurotus ostreatus), combinado com aparas de bambu recicladas de uma loja de móveis.
Crescimento lento, mas eficiente
A mistura do núcleo inclui ainda aveia e água. Essa massa foi prensada em moldes especiais com formatos que lembram bolhas e linhas ásperas.
Após o molde, os ladrilhos ecológicos passaram por um processo de crescimento no escuro por quatro semanas — metade do tempo dentro do molde e metade após serem retirados. Em seguida, foram secos por três dias em forno quente.
O molde, com seu design inspirado na pele de elefante, foi desenvolvido em colaboração com a empresa de design bioSEA, especializada em ecologia e biomimética. A pele do elefante foi escolhida como modelo devido à sua eficiência no controle de temperatura.
Novo ladrilho ecológico: Elefantes como referência para arquitetura
“Elefantes são animais grandes que vivem em climas tropicais quentes e às vezes úmidos“, explicou Anuj Jain, Diretor Fundador da bioSEA. “Para suportar o calor, os elefantes evoluíram para desenvolver uma pele muito enrugada, o que aumenta a retenção de água e resfria o animal por evaporação”.
Segundo Jain, o projeto buscou copiar esses mecanismos naturais de sombreamento, retenção de água e maior área para evaporação. O objetivo foi aplicar esses princípios no design das telhas, que também funcionam sem o uso de energia elétrica.
Os pesquisadores testaram o desempenho térmico das telhas colocando-as sobre uma superfície aquecida a 100 °C durante 15 minutos. Usando uma câmera infravermelha, monitoraram como o calor se propagava.
O design inspirado na pele de elefante retardou a absorção de calor. A parte inferior do ladrilho ficou mais fria por mais tempo e esfriou mais rápido ao final do teste.
Resfriamento com ajuda da água
Também foram realizados testes de chuva simulada. As gotas de água ficaram retidas nas fendas das telhas, mas não foram absorvidas. Esse comportamento favoreceu o resfriamento evaporativo.
De acordo com Eugene Soh, primeiro autor do estudo e pesquisador da NTU, a “pele fúngica” que se forma na superfície do ladrilho ajuda nesse processo.
“A pele fúngica que se desenvolve na superfície do ladrilho repele a água, permitindo que as gotas permaneçam na superfície em vez de rolarem imediatamente“, explicou Soh. “Isso promove o resfriamento evaporativo, aumentando a taxa de resfriamento.”
Desafios para o crescimento do ladrilho ecológico
A equipe agora testa a durabilidade do ladrilho ecológico, além de explorar outras espécies de cogumelos que possam oferecer melhorias. O projeto já está sendo ampliado com a ajuda da startup local Mykílio, que trabalha para aumentar a produção e realizar testes em ambientes externos.
Apesar dos avanços, há limitações. A principal é o tempo necessário para o crescimento do micélio. Um mês para produzir um único ladrilho ecológico significa que, para aplicação em larga escala, seria necessário um espaço de cultivo amplo. Essa questão continua sendo estudada pelos pesquisadores.
Segundo Le Ferrand, o projeto representa uma alternativa promissora e ecologicamente correta para materiais de construção. “Desenvolvemos uma alternativa promissora e ecologicamente correta que transforma resíduos em um recurso valioso, ao mesmo tempo em que repensamos materiais convencionais de gerenciamento térmico“, disse.
Ela também destacou que o sucesso dessa pesquisa pode abrir caminho para novos modelos inspirados na pele de elefante, além de permitir o uso de diferentes linhagens de micélio. O objetivo é superar os desafios atuais e transformar esse tipo de ladrilho em uma solução viável para a construção civil.
Com informações de New Atlas.