Atafona, no litoral norte do Rio de Janeiro, enfrenta erosão acelerada desde os anos 2000, com avanço do mar, destruição de casas e abandono do poder público em meio ao colapso ambiental
Uma cidade brasileira perdeu até 8 metros de faixa litorânea por ano nas últimas décadas, acumulando mais de 200 construções destruídas e um cenário de ruínas à beira-mar. Trata-se de Atafona, distrito do município de São João da Barra, no norte do Rio de Janeiro, onde o avanço do mar já alterou completamente a paisagem urbana.
A situação é resultado de um conjunto de fatores naturais e humanos, incluindo a elevação do nível do mar, a construção de barragens na bacia do Rio Paraíba do Sul e a ocupação urbana desordenada da orla. Moradores resistem como podem, enquanto especialistas alertam: o que já parece grave tende a piorar até 2050.
Como Atafona se tornou símbolo de destruição costeira
A área é uma planície sedimentar — uma faixa de terra formada ao longo de milhares de anos por areia e sedimentos.
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Historicamente instável, essa região passou a sofrer forte erosão costeira a partir da segunda metade do século XX.
O que antes era um balneário popular entre os moradores de Campos dos Goytacazes se transformou em um território de casas abandonadas, ruas interditadas e memórias engolidas pelas ondas.
Desde os anos 2000, o mar já avançou de 7 a 8 metros por ano em determinados trechos, arrastando imóveis e forçando a população local a viver em situação permanente de risco.
O que explica a erosão acelerada em Atafona
As causas são diversas, mas todas se cruzam: o avanço natural do mar, somado à força dos ventos nordestinos, afeta diretamente a estabilidade da costa.
Mas o agravamento mais recente está ligado à ação humana — mais de 900 barragens espalhadas pelo Rio Paraíba do Sul reduzem a chegada de sedimentos à praia, o que torna a linha de costa mais vulnerável à erosão.
A urbanização muito próxima da faixa de areia bloqueia o fluxo natural de sedimentos e impede a regeneração do solo costeiro.
De acordo com o pesquisador Álvaro Serpa dos Santos, as hidrelétricas contribuem para esse desequilíbrio, reduzindo o transporte de areia e acelerando o processo erosivo.
Impactos ambientais, sociais e econômicos
A pesca artesanal, base da economia local, sofreu impacto direto.
Com a perda de território e a distância maior dos pontos de pesca, muitos moradores enfrentam dificuldade para manter a atividade.
Pesquisa de Firmino e Alves (2021) apontou que 15% dos pescadores citaram a redução das capturas como a maior perda econômica da região.
O setor imobiliário também colapsou. Casas perderam valor ou foram interditadas pela Defesa Civil.
Moradores como Sônia Ferreira relatam ter perdido duas casas para o mar em menos de 10 anos.
Mais que bens materiais, a erosão arrastou com ela histórias de vida, vínculos afetivos e a memória coletiva de uma comunidade tradicional.
Como a população tem resistido no cotidiano
Mesmo com o cenário desolador, a maioria dos moradores não quer sair. Segundo estudos locais, 95% reconhecem a gravidade da erosão, mas preferem permanecer.
Eles constroem barreiras improvisadas com sacos de areia, entulho e madeira para conter o avanço do mar. Paredes são reforçadas, móveis ficam elevados, e a adaptação virou regra de sobrevivência.
A mobilização também ocorre em nível coletivo, mas sem resposta do poder público.
100% dos entrevistados nunca ouviram falar em Gerenciamento Costeiro Integrado (GCI) — política recomendada para frear a erosão de forma participativa, com envolvimento da comunidade, técnicos e governos.
Há saída para Atafona? O que dizem os exemplos de outras cidades
Soluções técnicas existem, mas exigem investimento, planejamento e participação social.
Em Balneário Camboriú (SC), o engordamento artificial da praia funcionou, mas custou caro e exige manutenção constante.
No Ceará, espigões ajudaram, mas causaram impactos em áreas vizinhas. Já no litoral paulista, projetos de replantio de restinga mostraram efeitos positivos com baixo custo.
Em Atafona, qualquer ação precisa considerar a identidade cultural e a dinâmica ambiental específica da região.
Espigões e engordamento podem aliviar, mas sem diagnóstico sedimentar, há risco de apenas deslocar o problema para outras praias.
Por enquanto, a solução real está longe, e a resistência segue sendo o único plano de curto prazo da comunidade.
Você já conhecia a história de Atafona? Acha que o poder público deveria agir com mais urgência? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem se importa com o futuro das nossas cidades costeiras.