Relações entre Brasil e China mudam de rumo diante de incertezas políticas e econômicas, e investimentos chineses ficam parados enquanto investidores analisam o cenário eleitoral brasileiro.
As relações econômicas entre Brasil e China entraram em compasso de espera diante do cenário de incerteza política brasileiro e do impacto das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos.
De acordo com informações divulgadas pela CNN Brasil em julho de 2025, fontes do alto escalão do Partido Comunista Chinês teriam afirmado que o país asiático decidiu suspender temporariamente novos investimentos no Brasil.
O motivo principal seria a insegurança gerada pelo histórico recente da política nacional e o receio de instabilidade, especialmente em função das eleições presidenciais previstas para 2026.
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Segundo Lourival Sant’Anna, analista de Internacional da CNN Brasil, a China não planeja ampliar os aportes enquanto não houver clareza sobre o futuro político brasileiro.
“Me disseram também o seguinte: olha, nós não vamos aumentar nossos investimentos no Brasil antes da eleição do ano que vem porque aquela experiência com Bolsonaro naquele período da pandemia foi bastante traumática para a China. Então, se vem governo de direita para o Brasil, nós temos receio de haver insegurança em relação aos nossos investimentos”, relatou Sant’Anna, citando a fonte chinesa.
Ainda de acordo com a análise, a China vive atualmente um cenário econômico interno de deflação, envelhecimento populacional, queda de renda e excesso de capacidade produtiva, o que limita seu apetite por importações.
China suspende investimentos no Brasil
O trauma citado refere-se ao período da pandemia de Covid-19, quando episódios de tensão diplomática marcaram o relacionamento entre os dois países, especialmente durante o governo de Jair Bolsonaro.
A situação levou a uma postura mais cautelosa por parte dos chineses em relação a novos investimentos em território brasileiro.
Desde então, Pequim monitora de perto o cenário eleitoral e aguarda sinais de estabilidade antes de retomar qualquer ampliação dos negócios bilaterais.
Essa cautela da China ocorre justamente em um momento em que o Brasil enfrenta dificuldades no comércio exterior, principalmente após a decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.
Diante desse cenário, muitos especialistas e representantes do setor produtivo esperavam que a China pudesse absorver parte das exportações destinadas originalmente ao mercado norte-americano.
No entanto, segundo as fontes consultadas pela CNN Brasil, não há interesse imediato dos chineses em ampliar as compras, especialmente de produtos que já possuem excedente interno.
Lula enfrenta desafio eleitoral e críticas sobre negociações
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi criticado por especialistas como o economista Roberto Dumas, do Insper, que avaliam que o Planalto tem priorizado estratégias políticas domésticas em detrimento de ações mais assertivas na área internacional.
“Ao invés de fazer uma política direcionada para o aspecto internacional, parece que [Lula] está fazendo uma política doméstica querendo levantar a arquibancada para tentar uma reeleição de 2026”, analisou Dumas em entrevista à CNN Brasil.
Segundo o professor, o governo brasileiro perdeu oportunidades de abrir canais de negociação desde o anúncio das tarifas americanas, no início de julho.
Dumas também ressaltou que o Executivo brasileiro encontra dificuldades para estabelecer interlocução com autoridades do alto escalão da administração de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.
A ausência de diálogo eficaz tem sido motivo de críticas tanto por parte da oposição quanto de setores do empresariado nacional, que cobram maior empenho do governo na defesa dos interesses do Brasil no cenário internacional.
Desalinhamento político agrava impasse com EUA e China
A distância ideológica entre o governo Lula e a gestão Trump nos Estados Unidos tem dificultado a busca por soluções para o impasse comercial.
Nos dias seguintes à imposição das tarifas, Lula esteve reunido com líderes de esquerda na América Latina, o que foi interpretado por analistas como um movimento que desagrada diretamente o governo norte-americano.
Além disso, a retomada de pautas como a ampliação dos BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a defesa da desdolarização das transações internacionais aumentaram ainda mais o desalinhamento entre os dois países.
Segundo Dumas, “já estão voltando com a história do BRICS, que foi justamente o ‘pomo da discórdia’ de Donald Trump. [E ao] falar de BRICS, Lula vai querer chamar atenção novamente sobre a desdolarização”.
Essas iniciativas, segundo o economista, tendem a complicar as negociações e afastar possíveis acordos, mantendo o Brasil em posição delicada tanto com os Estados Unidos quanto com a China.
Exportações brasileiras e o congelamento dos aportes chineses
No contexto das exportações, o Brasil enfrenta dificuldades para diversificar sua pauta de produtos vendidos à China.
Segundo Dumas, os embarques para o gigante asiático são concentrados em commodities como soja, minério de ferro, petróleo e outros produtos de baixo valor agregado.
“O que o [chanceler] Celso Amorim falou é completamente desproporcional: ‘Nós vamos diversificar nossas exportações com a China’. Como vai diversificar a exportação com a China se ela [já] é o principal parceiro econômico? Deveria [buscar] diversificar com outros parceiros”, argumentou Dumas.
O economista aponta que o discurso de ampliar o envio de produtos de maior valor agregado para a China permanece recorrente há quase duas décadas, mas nunca se concretizou de fato.
O mercado chinês, conforme os especialistas, já está saturado de muitos dos produtos ofertados pelo Brasil, tornando improvável o aumento de compras por parte do país asiático nesse momento.
Eleições brasileiras influenciam investimentos estrangeiros
Apesar de sinalizações anteriores sobre possíveis parcerias em infraestrutura, especialmente em setores como tecnologia e transição energética, fontes chinesas reforçam que os investimentos estão congelados até que o cenário eleitoral brasileiro esteja mais definido.
O histórico recente e as experiências traumáticas anteriores contribuem para essa postura cautelosa.
Segundo especialistas, a aproximação entre Brasil e China pode ser positiva do ponto de vista comercial, mas também exige atenção quanto ao aumento da influência geopolítica chinesa no país.
Diante de tantas incertezas, surge a dúvida: como o Brasil pode reconquistar a confiança de seus maiores parceiros econômicos e retomar o fluxo de investimentos estrangeiros em meio a um cenário de disputas políticas e choques globais?