Empresas tentam garantir fornecimento de ferroníquel à Europa e reduzir resistências regulatórias à compra chinesa
As mineradoras Anglo American e MMG Limited apresentaram, em outubro de 2025, uma proposta formal à Comissão Europeia. O objetivo é assegurar o fornecimento contínuo de ferroníquel a clientes do bloco europeu. Além disso, o movimento busca facilitar a aprovação da venda das operações de níquel da Anglo no Brasil. As minas envolvidas são Barro Alto e Codemin, em Goiás, bem como os projetos Jacaré (PA) e Morro Sem Boné (MT). O negócio está avaliado em US$ 500 milhões, e por isso atraiu grande atenção de investidores e órgãos reguladores.
Acordo de compra garantida
De acordo com informações da Comissão Europeia, as companhias ofereceram um modelo de “compra garantida”. Nesse formato, a Anglo American se compromete a continuar vendendo à Europa o mesmo volume de ferroníquel atualmente exportado. Além disso, a empresa atuará como intermediária, adquirindo o produto da MMG e mantendo as entregas regulares aos clientes da União Europeia.
Essa medida, portanto, busca amenizar as preocupações concorrenciais levantadas por siderúrgicas europeias. Muitas delas temem uma redução na oferta de ferroníquel caso o controle das minas brasileiras passe integralmente às mãos chinesas. Por essa razão, a Eurofer, associação que representa o setor de aço europeu, classificou os complexos goianos como a “fonte mais confiável e sustentável” de ferroníquel do bloco. Assim, com a proposta, o prazo de análise da Comissão Europeia foi estendido em 10 dias, e a decisão final está prevista para o início de novembro de 2025.
Análise distinta no Brasil
Enquanto a Europa mantém uma investigação detalhada sobre o impacto concorrencial da transação, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), no Brasil, arquivou o caso sem restrições. O órgão, entretanto, não examinou a fundo a estrutura societária das empresas envolvidas, segundo apuração do Poder360. Como resultado, entidades e companhias que questionavam a operação desistiram de recorrer após a decisão.
Essa diferença de postura reflete abordagens regulatórias distintas entre Brasil e União Europeia. De um lado, a Europa adota um controle mais rígido sobre concentração de mercado. De outro, o Brasil prioriza a liberdade econômica em transações de grande porte, o que explica a rapidez do arquivamento.
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Contexto internacional e disputas comerciais
O negócio gerou repercussão internacional e reacendeu o debate sobre dependência chinesa em matérias-primas estratégicas. A Corex Holding, ligada ao grupo turco Yildirim, afirmou ter apresentado uma oferta superior, de US$ 900 milhões. Contudo, a empresa contesta a decisão tanto em Brasília quanto em Bruxelas, alegando risco de concentração de mercado e dependência excessiva da China no fornecimento global de níquel. O mineral, além disso, é essencial para a indústria de aço inoxidável e para a produção de baterias elétricas, setores que estão em franca expansão.
Nos Estados Unidos, o Instituto Americano do Ferro e do Aço (AISI) solicitou ao ex-presidente Donald Trump que pressione o Brasil e a Europa para reavaliar a transação. O argumento é que a aquisição fortalece o controle chinês sobre cadeias críticas de minerais, o que preocupa governos ocidentais. Assim, o tema surge em um momento de crescente tensão geopolítica e de disputa global por matérias-primas estratégicas.
Defesa das empresas envolvidas
A Anglo American declarou que o processo de venda foi competitivo e transparente, o que reforça a legitimidade da transação. Além disso, a proposta da MMG apresentou melhores condições comerciais e operacionais, com maior pagamento inicial e garantias robustas. A mineradora também afirmou que a decisão está alinhada à sua estratégia global, concentrando operações em cobre, minério de ferro premium e fertilizantes.
Com a conclusão da transação, a estatal chinesa China Minmetals passará a controlar cerca de 60% da produção nacional de níquel. Consequentemente, isso ampliará a influência de Pequim em cadeias de fornecimento consideradas estratégicas para a transição energética e para o setor de aço inoxidável global. Assim, o acordo marca mais um capítulo da crescente presença chinesa na mineração brasileira.