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China acelera uso do e-yuan, o “Pix chinês”, em acordos com países do BRICS e amplia rede financeira alternativa ao dólar

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 16/08/2025 às 11:10
China acelera uso do e-yuan, o “Pix chinês”, em acordos com países do BRICS e amplia rede financeira alternativa ao dólar
Foto: China acelera uso do e-yuan, o “Pix chinês”, em acordos com países do BRICS e amplia rede financeira alternativa ao dólar
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China expande uso do e-yuan em acordos com países do BRICS, cria rede financeira alternativa ao dólar e desperta preocupação em Washington.

A disputa silenciosa pela liderança do sistema financeiro global ganhou um novo capítulo. Pequim está acelerando o uso do e-yuan, sua moeda digital oficial, em transações internacionais com países do BRICS e parceiros estratégicos, criando uma rede financeira paralela que ameaça reduzir a dependência do dólar. Enquanto o projeto avança com acordos bilaterais e testes em mercados emergentes, os Estados Unidos observam com atenção — e crescente preocupação — o alcance desse movimento.

A iniciativa não apenas reforça a influência econômica da China, como também sinaliza um novo estágio na competição monetária global, com impactos diretos sobre o comércio, as reservas cambiais e o sistema de sanções internacionais.

Do piloto doméstico à expansão internacional

O e-yuan começou como um experimento interno em 2020, testado em grandes cidades chinesas como Shenzhen, Suzhou e Chengdu.

A ideia inicial era modernizar os meios de pagamento domésticos, reduzir a dependência de plataformas privadas como Alipay e WeChat Pay, e fortalecer o controle do Banco Popular da China (PBoC) sobre o fluxo monetário.

Com mais de 260 milhões de carteiras digitais abertas até 2024, o projeto alcançou massa crítica dentro do país. Agora, Pequim está direcionando a tecnologia para o comércio exterior, integrando-a a mecanismos de liquidação entre bancos centrais e plataformas de pagamento transfronteiriço.

BRICS como campo de expansão

O bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ao qual se juntaram recentemente novos membros como Irã, Egito e Etiópia, tornou-se a principal vitrine para o e-yuan no cenário internacional.

Nos últimos 18 meses, autoridades chinesas firmaram memorandos de entendimento para testar transações digitais com bancos centrais de países do grupo, especialmente em setores como petróleo, gás, minerais estratégicos e alimentos.

Um exemplo emblemático foi o acordo piloto com a Rússia, que permitiu pagamentos de exportações de energia diretamente em e-yuan, contornando bancos ocidentais e sistemas de compensação como o SWIFT.

No Brasil, a moeda digital chinesa tem sido tema de discussões técnicas entre o Banco Central e autoridades chinesas, no contexto de cooperação financeira do BRICS.

Alternativa ao dólar e escudo contra sanções

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A grande ambição de Pequim não é apenas modernizar transações, mas criar uma rede capaz de funcionar independentemente das engrenagens financeiras controladas pelo Ocidente.

Ao usar o e-yuan em pagamentos internacionais, países podem escapar de bloqueios ou confiscos de reservas aplicados por sanções. Essa lógica tem atraído especialmente nações sob pressão política e econômica dos EUA ou da União Europeia, como Rússia e Irã.

Economistas apontam que, embora o dólar ainda represente mais de 58% das reservas internacionais globais, a criação de alternativas confiáveis e de fácil uso pode acelerar uma erosão gradual dessa participação — especialmente em mercados emergentes.

Tecnologia e integração digital

O e-yuan é construído sobre uma arquitetura híbrida: não é uma criptomoeda descentralizada como o Bitcoin, mas também não depende de sistemas de compensação tradicionais.

Todas as transações passam por uma infraestrutura controlada pelo PBoC, com camadas de privacidade seletiva e possibilidade de rastreamento total pelo governo chinês.

Para o uso internacional, Pequim desenvolve protocolos que permitam integração direta com sistemas de outros bancos centrais, inclusive explorando o uso de contratos inteligentes para liquidação automática de operações comerciais.

Reação e monitoramento dos EUA

O avanço do e-yuan tem sido acompanhado de perto por órgãos como o Tesouro americano e a Reserva Federal. Em relatórios recentes, analistas de Washington alertaram que a expansão da moeda digital chinesa pode “enfraquecer a eficácia das sanções financeiras” e “reduzir a visibilidade sobre fluxos ilícitos de capital”.

Apesar da preocupação, especialistas americanos reconhecem que a substituição do dólar como moeda global dominante ainda é improvável no curto prazo. O maior risco, segundo eles, é a formação de blocos econômicos regionais que operem quase exclusivamente fora da esfera do dólar, fragmentando o sistema financeiro internacional.

Brasil no radar do e-yuan

Para o Brasil, a possibilidade de integrar-se a um sistema de pagamentos digitais com a China apresenta tanto oportunidades quanto desafios.

O comércio bilateral já ultrapassa US$ 150 bilhões anuais, e a adoção de um meio direto de liquidação poderia reduzir custos e prazos.

No entanto, a mudança também exigiria adaptações regulatórias e tecnológicas, além de posicionar o país mais claramente em um tabuleiro geopolítico marcado por tensões entre Washington e Pequim.

O futuro do e-yuan no BRICS

Nos bastidores do bloco, diplomatas discutem a possibilidade de criar um “guarda-chuva” monetário digital que una iniciativas como o e-yuan, a rupia digital indiana e, futuramente, um Drex brasileiro adaptado para transações internacionais.

Embora ainda distante, essa integração poderia dar origem a um sistema de pagamentos do BRICS capaz de reduzir significativamente a presença do dólar em operações entre seus membros, além de criar novas ferramentas para financiar projetos de infraestrutura, energia e tecnologia.

O recado de Pequim

Ao acelerar a expansão do e-yuan, a China envia um recado claro: quer ditar as regras do próximo estágio da globalização financeira. Mais do que um instrumento tecnológico, a moeda digital é uma peça estratégica em um jogo de longo prazo pela influência econômica e política.

Para os EUA e seus aliados, a tarefa será equilibrar a defesa da hegemonia do dólar com a inevitável adaptação a um mundo mais multipolar em termos monetários.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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