Drex, nova moeda digital do Brasil, será lançada para repetir o sucesso do Pix e integrar o BRICS, abrindo caminho para um sistema global menos dependente do dólar.
O Banco Central do Brasil está prestes a dar um passo estratégico que pode mudar não apenas o sistema financeiro nacional, mas também o papel do país no cenário econômico internacional. Trata-se do Drex, a nova moeda digital brasileira, cujo lançamento oficial está previsto para 2025, após um período de testes iniciado em 2023. Com a promessa de repetir o sucesso estrondoso do Pix, o Drex é visto por especialistas como a chave para integrar o Brasil ao ecossistema financeiro do BRICS e abrir caminho para transações internacionais menos dependentes do dólar.
A chegada do Drex acontece em um momento em que as grandes economias emergentes buscam alternativas para reduzir a hegemonia da moeda americana no comércio global. A iniciativa do Banco Central brasileiro, portanto, não é apenas tecnológica: ela carrega um peso geopolítico, conectando inovação doméstica com estratégias de inserção internacional.
Do Pix ao Drex: o Brasil como referência global em inovação financeira
O Pix, lançado em 2020, transformou o sistema de pagamentos no Brasil, tornando transferências instantâneas e gratuitas parte do cotidiano de milhões de pessoas. Em pouco mais de dois anos, a ferramenta já somava mais de 150 milhões de usuários, ultrapassando cartões de débito e crédito como principal meio de pagamento no país.
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O Drex nasce como herdeiro dessa credibilidade. A diferença é que, enquanto o Pix conecta contas bancárias em um sistema de liquidação instantânea, o Drex será uma moeda digital emitida pelo próprio Banco Central, baseada em tecnologia de registro distribuído (DLT) e com lastro no real.
Isso significa que não se trata de uma criptomoeda privada, como o Bitcoin, mas de uma versão digital oficial da moeda nacional, garantindo estabilidade e confiança institucional.
Como o Drex funciona e o que o diferencia das criptomoedas
O Drex será armazenado em carteiras digitais e poderá ser usado para pagamentos, transferências, liquidação de contratos e até negociações mais complexas, como compra e venda de imóveis com contratos inteligentes.
A ideia é reduzir custos, aumentar a velocidade das operações e permitir maior automação, sem depender de intermediários.
Ao contrário das criptomoedas, que têm volatilidade e não são emitidas por governos, o Drex terá paridade total com o real físico, sendo garantido pelo Banco Central. Isso dá ao sistema segurança jurídica, além de permitir integração direta com o sistema financeiro nacional.
O papel do Drex na integração do BRICS
A possibilidade mais ambiciosa envolvendo o Drex é sua conexão com sistemas de pagamentos internacionais, especialmente no âmbito do BRICS.
O bloco, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e recentemente incorporou países como Egito e Arábia Saudita — busca há anos formas de reduzir a dependência do dólar nas transações comerciais.
Um Drex interoperável com moedas digitais emitidas por outros países do grupo poderia viabilizar pagamentos diretos entre nações, eliminando a necessidade de conversão para dólares. Isso reduziria custos, mitigaria riscos cambiais e daria mais autonomia às economias emergentes.
A China, por exemplo, já está avançada com o yuan digital, enquanto a Rússia testa sua versão do rublo digital. Se essas plataformas conseguirem conversar entre si, o BRICS poderia ter uma rede própria de pagamentos, robusta e independente do sistema SWIFT, que hoje é dominado pelo Ocidente.
Benefícios esperados para a economia e para a população
No cenário doméstico, o Drex promete acelerar ainda mais a digitalização financeira. Entre os benefícios previstos estão:
- Pagamentos instantâneos 24/7, inclusive entre países.
- Liquidação automática de contratos via tecnologia blockchain.
- Inclusão financeira para pessoas sem conta bancária tradicional, mas com acesso a celular.
- Menores custos de transação para empresas e consumidores.
- Segurança ampliada com rastreabilidade e controle oficial sobre emissões e circulação.

Para empresas exportadoras, especialmente do agronegócio, a possibilidade de fechar negócios com países do BRICS usando moeda digital própria pode representar ganhos significativos, evitando taxas de conversão e oscilações do dólar.
Desafios e riscos no caminho do Drex
Apesar do potencial transformador, o Drex também enfrenta desafios relevantes. A interoperabilidade com outras moedas digitais depende de acordos técnicos e políticos entre países, algo que pode levar anos. Além disso, questões de segurança cibernética são cruciais: como proteger o sistema de ataques e fraudes em um ambiente 100% digital?
Outro ponto sensível é a privacidade dos usuários. Como a moeda digital será registrada em sistemas controlados pelo Banco Central, haverá debates sobre quais dados poderão ser acessados por autoridades e como equilibrar segurança com liberdade individual.
Especialistas também alertam para o risco de exclusão digital. Embora o Brasil tenha alta penetração de smartphones, ainda há milhões de pessoas sem acesso confiável à internet, o que exigirá políticas de inclusão tecnológica.
Impacto geopolítico: um passo contra a hegemonia do dólar?
Se integrado com sucesso ao sistema do BRICS, o Drex pode se tornar uma das ferramentas mais eficazes na estratégia de desdolarização gradual que o bloco persegue. Não se trata de substituir o dólar imediatamente, mas de criar alternativas viáveis para o comércio bilateral e multilateral entre as nações emergentes.
Para os Estados Unidos, qualquer movimento que reduza a participação do dólar nas transações internacionais representa uma ameaça potencial à sua influência global. Por isso, analistas acreditam que iniciativas como o Drex, mesmo sendo nacionais, podem provocar reações diplomáticas e econômicas.
O futuro do Drex e do Brasil no cenário financeiro global
O lançamento oficial do Drex marcará o início de uma nova fase para o sistema financeiro brasileiro. Assim como o Pix tornou o Brasil referência em inovação bancária, o sucesso do Drex poderia colocar o país na vanguarda das moedas digitais emitidas por bancos centrais — e, possivelmente, na liderança de um novo capítulo da história do BRICS.
O Banco Central prevê que a implementação completa ocorra gradualmente, com novas funcionalidades sendo liberadas ao longo de alguns anos. Mas, se conseguir entregar segurança, eficiência e integração internacional, o Drex pode se tornar o “Pix internacional” que colocará o Brasil como ator central em um sistema financeiro global mais plural e menos dependente do dólar.