Com produção adiada para 2028, o projeto da Petrobras na Bacia de Sergipe-Alagoas avança com a licitação de dois novos FPSOs para explorar as maiores reservas de gás do país.
De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a nova fronteira de gás natural do país está localizada na Bacia de Sergipe-Alagoas. É lá que se encontra o projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP), que abriga o maior campo de gás natural do Brasil em volume contido, o campo de Cavala. Este projeto representa um divisor de águas para a segurança e a transição energética do país.
O início da produção, antes previsto para 2024, foi adiado e agora tem um novo horizonte: a partir de 2028. A mudança no cronograma reflete a complexidade do projeto, que agora avança com o processo de licitação para contratar dois novos navios-plataforma (FPSOs) para viabilizar a operação em águas ultraprofundas.
A dimensão das reservas na Bacia de Sergipe-Alagoas
As descobertas na Bacia de Sergipe-Alagoas foram anunciadas pela Petrobras ao longo da última década. A ANP confirmou o imenso potencial da área, que se tornou a nova grande aposta para a produção de gás no Brasil.
O projeto Sergipe Águas Profundas engloba um conjunto de cinco campos: Agulhinha, Budião, Cavala, Palombeta e Aracelis. Dentre eles, Cavala se destaca por possuir o maior volume de gás natural contido. Uma característica importante é que se trata de gás não associado, ou seja, o gás é o principal produto, ao contrário dos campos do pré-sal da Bacia de Santos, onde o gás está majoritariamente ligado à produção de petróleo.
Produção a partir de 2028 e a licitação dos FPSOs
O início da produção do projeto Sergipe Águas Profundas foi um dos temas mais aguardados pelo setor de energia. No entanto, o cronograma inicial foi revisto. A Petrobras confirmou que o projeto foi adiado, com o início da produção agora previsto para começar a partir de 2028.
A principal razão para o adiamento é a complexidade na contratação das unidades de produção. Em vez de uma única plataforma, o plano atual prevê a contratação de dois novos navios-plataforma (FPSOs) para a região. O processo de licitação para essas duas unidades está em andamento, e a expectativa é que os contratos sejam fechados para viabilizar o novo cronograma. É importante esclarecer que os FPSOs P-78 e Alexandre de Gusmão, anteriormente associados ao projeto em informações desatualizadas, foram, na verdade, destinados a outros campos no pré-sal da Bacia de Santos (Búzios e Mero, respectivamente).
A infraestrutura planejada: do fundo do mar ao continente
A infraestrutura para escoar a produção do maior campo de gás natural do Brasil e seu entorno será monumental. O gás produzido nos campos do SEAP será transportado por um gasoduto de 128 quilômetros de extensão, que ligará os futuros FPSOs à costa sergipana.
Desse total, 115 km estarão no mar e 13 km em terra. O destino final do gás será a Unidade de Tratamento de Gás (UTG) de Candeias, localizada no município de Carmópolis (SE). É nesta unidade que o insumo será processado e preparado para ser injetado na malha de gasodutos nacional.
Os desafios da exploração e a parceria com a TotalEnergies
A exploração na Bacia de Sergipe-Alagoas é marcada por desafios tecnológicos significativos. A principal dificuldade é a profundidade das águas, que alcançam até 2.950 metros, e as características dos reservatórios, que exigem equipamentos de ponta.
Para viabilizar a produção, a Petrobras aplicará tecnologias avançadas, incluindo sistemas submarinos de coleta e equipamentos resistentes a altas pressões. O investimento total no projeto é estimado em 5 bilhões de dólares. O projeto é uma parceria entre a Petrobras, que é a operadora com 75% de participação, e a empresa francesa TotalEnergies, que detém os 25% restantes.
Impacto estratégico: o que esperar da nova oferta de gás?
A futura entrada em operação do maior campo de gás natural do Brasil tem profundas implicações para o país. Com a capacidade de adicionar até 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia, o projeto pode aumentar a oferta de gás nacional em aproximadamente 50%.
Isso contribuirá diretamente para a redução da dependência do gás importado da Bolívia e do Gás Natural Liquefeito (GNL) de outros mercados. A expectativa é que a maior disponibilidade de gás, a partir de 2028, fomente a competitividade, impulsione a reindustrialização e atraia novos investimentos para o setor energético brasileiro.