Estudo da Klavi revela: 42% dos brasileiros gastam todo o salário em até 36 horas; 18% em apenas 24h. Realidade expõe dívidas e falta de reservas.
Um dado chama atenção e escancara a fragilidade financeira de milhões de trabalhadores: 42,2% dos brasileiros gastam todo o salário em até 36 horas depois que ele cai na conta. O estudo, realizado pela fintech Klavi com base em dados reais do sistema Open Finance, mostra que o dinheiro que deveria durar o mês inteiro desaparece em um ritmo frenético, revelando um cenário de endividamento e vulnerabilidade sem precedentes.
Ainda mais impressionante é o recorte: 18,2% dos assalariados consomem tudo em menos de 24 horas, praticamente no mesmo dia do pagamento. Passado esse período, mais da metade — 56% — fica com menos de R$ 100 de saldo disponível.
O peso das dívidas e das contas fixas
Não se trata apenas de consumo imediato em compras. O levantamento mostra que boa parte desse desaparecimento relâmpago do salário está ligada a pagamento de dívidas, contas atrasadas e despesas fixas como aluguel, água, luz e transporte.
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Muitas famílias chegam ao fim do mês já no vermelho e dependem do salário seguinte para recompor o saldo, pagar boletos e quitar parcelas.
Essa lógica cria um ciclo perigoso: o trabalhador nunca consegue ver o dinheiro de fato, porque ele já nasce comprometido. Assim, em vez de planejar, sobra apenas correr atrás do prejuízo, mês após mês.
A corrida contra o tempo: 36 horas para sobreviver
O dado das 36 horas tem um impacto simbólico. Ele mostra que o dinheiro não é apenas insuficiente, mas também que o planejamento financeiro está se tornando cada vez mais inviável. Quem recebe no fim de semana, por exemplo, pode entrar na segunda-feira já sem salário disponível para o resto do mês.
Especialistas alertam que essa dinâmica aumenta o risco de recorrer a soluções de curto prazo, como crédito rotativo e empréstimos emergenciais, que possuem juros altíssimos.
O resultado é o aprofundamento do endividamento, com milhões de brasileiros presos em uma espiral de compromissos que consomem todo o orçamento.
O impacto social do consumo acelerado
Essa realidade também expõe um lado social grave: o Brasil vive um dos maiores índices de endividamento das famílias desde que há registros. Mais de 70% dos lares têm dívidas em aberto, segundo dados oficiais.
O salário que evapora em 36 horas é apenas a ponta do iceberg de um problema maior — a incapacidade de a renda acompanhar o custo de vida.
Inflação, juros altos e estagnação dos salários ampliam a sensação de sufoco. Quando sobra pouco ou nada, a poupança se torna impossível, a capacidade de investir é nula e o planejamento de longo prazo se transforma em um luxo restrito a poucos.
A armadilha da renda curta e das obrigações longas
O estudo da Klavi mostra que a situação não se resume à baixa educação financeira, mas também a um quadro estrutural. O brasileiro gasta rápido porque precisa. O salário mínimo não cobre, sozinho, o custo de uma cesta básica em várias capitais. A renda média do trabalhador mal acompanha a inflação de alimentos e serviços.
Enquanto isso, despesas fixas como aluguel, energia e transporte consomem a maior parte do orçamento, deixando pouco espaço para o consumo. Assim, quando o dinheiro cai na conta, ele já tem destino certo, restando apenas um saldo simbólico.
O risco do futuro sem reservas
O fenômeno dos salários que somem em horas cria uma consequência perigosa: a ausência total de reserva de emergência. Sem poupança, qualquer imprevisto uma demissão, um problema de saúde ou um gasto inesperado — pode jogar famílias inteiras na inadimplência.
O Brasil, nesse sentido, vive uma espécie de “alerta vermelho financeiro”. A cada mês, milhões de trabalhadores recomeçam do zero, sem acúmulo de patrimônio, sem colchão de segurança e cada vez mais vulneráveis a choques econômicos.
Possíveis saídas: da educação financeira às políticas públicas
Especialistas apontam que é preciso atacar o problema em duas frentes. A primeira é individual: melhorar a educação financeira, estimular o uso consciente do crédito e ensinar estratégias de controle de orçamento. Ferramentas como aplicativos de gestão e renegociação de dívidas podem ajudar.
A segunda é estrutural: sem aumento real da renda e sem políticas públicas que aliviem o peso dos juros e do custo de vida, dificilmente o quadro mudará.
Países que conseguiram reverter ciclos de endividamento massivo investiram em programas de renegociação nacional de dívidas, crédito subsidiado e fortalecimento da renda mínima.
Conclusão: um país em contagem regressiva
O dado de que 2 em cada 5 brasileiros gastam todo o salário em até 36 horas é mais do que uma estatística curiosa. É um retrato cruel da realidade econômica do país. Mostra que a maioria vive no limite, sem espaço para planejar o futuro, e que o dinheiro que deveria garantir um mês de sobrevivência mal atravessa dois dias.
A cada fim de mês, quando o pagamento cai, milhões de brasileiros já sabem o destino da renda antes mesmo de vê-la.
É como se o relógio começasse a correr contra eles: em 36 horas, tudo já desapareceu. Um ciclo de sobrevivência que reforça a desigualdade e deixa claro que, no Brasil, o maior luxo não é comprar bens de consumo, mas simplesmente ter dinheiro para atravessar o mês.