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Bunge tira da China e envia para outro país 1ª carga de farelo de soja argentino, alegando razões comerciais

Escrito por Geovane Souza
Publicado em 23/08/2025 às 08:42
Bunge tira da China e envia para outro país 1ª carga de farelo de soja argentino, legando razões comerciais
Foto: Essa remessa ganhava destaque por ser tratada como a primeira carga de farelo argentino à China desde a aprovação de Pequim em 2019.
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A Bunge desviou, por razões comerciais, a 1ª carga de farelo de soja argentino que iria à China — 30 mil toneladas. O embarque foi redirecionado ao Vietnã a pedido do importador, e o setor trata o caso como ajuste pontual, não recuo.

A Bunge confirmou que um embarque de 30 mil toneladas de farelo de soja argentino que estava originalmente previsto para a China foi redirecionado ao Vietnã. A empresa atribuiu a decisão a razões comerciais, linguagem que costuma indicar uma combinação de preço, demanda imediata e cláusulas contratuais que permitem alterar o porto de descarga.

Essa remessa ganhava destaque por ser tratada como a primeira carga de farelo argentino à China desde a aprovação de Pequim em 2019. A alteração, portanto, acendeu o alerta do mercado porque poderia sinalizar limites práticos nessa abertura ou simplesmente um ajuste tático diante da necessidade de um comprador no Sudeste Asiático.

Segundo Gustavo Idígoras, presidente da câmara de exportadores CIARA-CEC, o pedido do importador foi o gatilho da troca e estava previsto em contrato. A explicação corrobora a versão de que se tratou de uma operação de logística e demanda, e não de um veto unilateral.

Empresa alega razões comerciais x rumores de qualidade

Logo após a confirmação da Bunge, circularam relatos atribuídos a fontes não identificadas de que a mudança teria ocorrido por possível não conformidade com especificações de qualidade chinesas. Essa leitura apareceu em reportagens da imprensa internacional, mas não foi confirmada pela Bunge na comunicação oficial, que manteve a justificativa de “razões comerciais”.

Nesse tipo de operação, qualidade significa cumprir parâmetros como teor de proteína, umidade, fibra e ausência de contaminantes nos padrões exigidos pelo país de destino. A China é considerada exigente nesses quesitos, porém o histórico recente mostra que Pequim vem testando origens e fornecedores para equilibrar preço, risco e segurança de abastecimento.

A leitura dominante no setor é que a troca de destino não invalida, por si só, o projeto de entrada do farelo argentino no mercado chinês. O fato é o desvio por razões comerciais, confirmado pela companhia e por representantes do setor. A hipótese é a de não atendimento de especificações, veiculada como atribuição a fontes e ainda sem confirmação pública.

Como a China voltou a comprar farelo argentino em 2025

Embora a China tenha aprovado a importação de farelo de soja da Argentina em 2019, o fluxo efetivo não deslanchou de imediato. Em 26 de junho de 2025, tradings e fabricantes de ração chineses fecharam um acordo-teste para 30 mil toneladas com embarque em julho. Foi o primeiro passo concreto para abrir o corredor logístico do farelo pronto, e não apenas da soja em grão.

Na sequência, em 7 de julho de 2025, a Bunge afretou a carga inaugural de 30 mil toneladas para a China, consolidando o marco operacional. O objetivo era testar custos, prazos e inspeções na chegada, além de comparar a compra de farelo pronto com a estratégia tradicional de importar soja em grão para processar localmente.

Entre final de julho e início de agosto, houve notícia de duas novas compras de farelo argentino pela China somando 60 mil toneladas, um indício de que Pequim avalia ampliar alternativas em meio a mudanças de preço no mercado sul-americano e estratégias de diversificação de risco. Esses movimentos ajudam a entender por que o setor tratou o desvio como ajuste pontual e não como um recuo estrutural.

Argentina mantém liderança e Vietnã segue como destino-chave do farelo

Para a Argentina, maior exportadora mundial de farelo de soja, o episódio ocorre em um contexto de escala e capilaridade. Em 2024, o país embarcou 27,2 milhões de toneladas, gerando US$ 10,55 bilhões, com o Vietnã como principal destino, respondendo por cerca de 15% das vendas. O desvio de uma carga para o Vietnã, portanto, se encaixa em um fluxo comercial já estabelecido.

No curtíssimo prazo, o efeito mais visível tende a ser logístico. Ao trocar o porto de descarga, as tradings recalibram prazos de chegada, fretes e janelas de atracação. Em mercados sensíveis a base de preço e disponibilidade, como o de ração animal, pequenas mudanças de rota podem gerar oscilações pontuais, mas dificilmente alteram a tendência sem que haja um fator estrutural.

Para a China, a avaliação estratégica continua. Comprar farelo pronto reduz a necessidade de processamento doméstico e pode minimizar gargalos locais, embora limite a captura de valor dentro do país. Já o Brasil e os Estados Unidos seguem como grandes fornecedores de soja em grão, o que mantém um tabuleiro competitivo em que preço, câmbio e sanidade determinam o mix entre grão e farelo.

Abertura chinesa amplia fornecedores e pressiona Argentina a manter padrão

O primeiro sinal a acompanhar é o andamento dos próximos embarques de farelo argentino à China. Se mantidos e aprovados sem ressalvas, a leitura será de normalização. Caso ocorram novas trocas de rota, o mercado pode reprecificar o risco.

Também vale monitorar a política de habilitação de origens por Pequim. Em 2025, a China ampliou a lista de países autorizados a vender farelo, incluindo Uruguai e Etiópia, em linha com a estratégia de diversificar fornecedores e reduzir vulnerabilidades de oferta. Quanto mais origens habilitadas, maior a competição por preço e qualidade.

Por fim, atenção aos padrões técnicos. Exigências de proteína, umidade, fibras e impurezas definem o enquadramento do farelo de soja para uso em ração. Para exportadores e fabricantes, investir em controle de qualidade e rastreabilidade segue sendo fator crítico de competitividade, especialmente quando o comprador é grande, exigente e busca diversificar riscos.

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Geovane Souza

Geovane Souza é especialista em criação de conteúdo na internet, ações de SEO e marketing digital. Nas horas vagas é Universitário de Sistemas de Informação no IFBA Campus de Vitória da Conquista.

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