Mesmo com uma das maiores reservas de minerais críticos do planeta, o Brasil enfrenta atraso na produção, falhas em políticas públicas e risco de ficar para trás na corrida global pela transição energética, enquanto China e EUA avançam em escala industrial.
O Brasil possui cerca de 10% das reservas mundiais de minerais críticos, insumos essenciais para baterias de carros elétricos, turbinas eólicas e sistemas de alta tecnologia. Apesar desse potencial, a produção nacional representa menos de 0,1% da oferta global, revelando um enorme descompasso entre recursos disponíveis e aproveitamento econômico.
Segundo dados divulgados por O Globo, essa discrepância pode custar trilhões de reais em oportunidades perdidas, já que China e Estados Unidos se movem rapidamente para garantir domínio sobre as cadeias produtivas desses minerais estratégicos.
Por que os minerais críticos são estratégicos
A transição energética deve multiplicar em até seis vezes a demanda global por minerais como lítio, níquel, grafite e terras raras até 2040.
-
Bilhões do Banco Mundial desembarcam na Bahia: fundo global aposta em níquel brasileiro para dominar corrida dos minerais críticos
-
Mineradora australiana ergue centro de terras raras em Minas sem dependência da China e acelera projeto Colossus
-
Conselho Nacional de Política Mineral fortalece governança e sustentabilidade com atuação do SGB no desenvolvimento geológico e estratégico do setor mineral brasileiro
-
Esmeralda colossal descoberta na Bahia está sob guarda máxima em bunker paulista
Esses insumos são indispensáveis não apenas para o setor de energia limpa, mas também para a indústria de defesa, fertilizantes e equipamentos de ponta.
O Brasil poderia ser protagonista nesse cenário, mas ainda não conseguiu estruturar políticas eficientes que transformem suas reservas em produção competitiva.
Enquanto isso, países como a China já dominam a cadeia de terras raras, responsáveis por abastecer praticamente todo o mundo.
Onde o Brasil está ficando para trás
De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a extração brasileira de minerais críticos é mínima quando comparada aos líderes globais.
Em 2024, por exemplo, o país produziu apenas 20 toneladas de terras raras, contra 270 mil toneladas da China.
No caso do lítio, a diferença também é gritante: 10 mil toneladas extraídas no Brasil contra 88 mil toneladas na Austrália.
Esse atraso se explica por fatores como a demora em licenças ambientais, burocracia regulatória e falta de infraestrutura para processamento e agregação de valor.
Além disso, o mapeamento geológico cobre apenas 27% do território nacional, o que impede a plena identificação do potencial existente.
O papel da política nacional para minerais críticos
O governo prepara a Política Nacional de Minérios Críticos e Estratégicos (PNMCE), que deverá ter dois eixos centrais: mineração ambientalmente sustentável e agregação de valor no Brasil.
O objetivo é garantir que a exploração não fique restrita à exportação de matéria-prima, mas avance para indústrias de alto valor agregado, como fábricas de baterias e sistemas de energia.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, o novo marco legal incluirá contrapartidas em inovação, geração de empregos e sustentabilidade para empresas que atuarem no setor.
A ideia é transformar o país em fornecedor de soluções completas, e não apenas de commodities minerais.
Investimentos e obstáculos no horizonte
Entre 2025 e 2029, o Ibram estima investimentos de US$ 18,45 bilhões em exploração.
No entanto, cada projeto pode levar até dez anos para sair do papel, o que amplia o risco de o Brasil perder espaço para concorrentes mais ágeis.
Há ainda preocupações ambientais e sociais. Especialistas alertam que a expansão da mineração não pode avançar sobre áreas de proteção, terras indígenas e quilombolas, sob pena de gerar novos conflitos e desgastes internacionais.
O desafio será equilibrar competitividade e preservação ambiental, sem repetir erros históricos do setor mineral.
A disputa com China e Estados Unidos
Enquanto o Brasil discute marcos regulatórios, China e EUA aceleram investimentos e estratégias para garantir abastecimento.
Pequim já consolidou liderança global em terras raras, enquanto Washington busca acordos com países produtores para reduzir a dependência chinesa.
Nesse tabuleiro, o Brasil corre o risco de se tornar apenas um exportador secundário, sem protagonismo na cadeia de valor e sem aproveitar plenamente a riqueza de seus recursos.
O Brasil está diante de uma escolha estratégica: investir em políticas sólidas para transformar suas reservas de minerais críticos em protagonismo global ou continuar perdendo espaço para potências como China e Estados Unidos.
E você, acredita que o Brasil conseguirá equilibrar preservação ambiental e avanço econômico para aproveitar suas reservas de minerais críticos? Ou o país continuará sendo apenas fornecedor de matéria-prima? Deixe sua opinião nos comentários.