Apesar do avanço, o Brasil segue abaixo da meta de alfabetização: apenas 59,2% das crianças de até sete anos sabem ler e escrever. Desigualdades regionais e falhas estruturais ainda limitam o progresso educacional
O Brasil deu um passo importante, mas ainda insuficiente, na luta contra o analfabetismo infantil. De acordo com o Indicador Criança Alfabetizada (ICA), divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 59,2% das crianças de até sete anos conseguem ler e escrever textos simples, resultado que ficou abaixo da meta nacional de 60% estabelecida para 2024.
O índice representa um avanço em relação ao ano anterior, quando o percentual era de 56%, mas também evidencia que milhares de crianças brasileiras ainda chegam ao 2º ano do Ensino Fundamental sem o domínio básico da leitura e da escrita. O dado é preocupante porque a alfabetização é considerada a base para todo o processo de aprendizagem escolar.
Diferenças regionais mostram dois Brasis
Os números mostram um país dividido entre avanços e retrocessos. O Ceará, por exemplo, é um caso de sucesso nacional: 85,3% das crianças de até sete anos já estão alfabetizadas, de acordo com o ICA. O estado mantém desde 2007 uma política consistente de incentivo à alfabetização, com formação de professores, premiações para municípios e metas claras por escola.
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Na outra ponta, o Rio Grande do Sul registrou uma forte queda, passando de 63,4% para apenas 44,7%. O governo estadual atribui o resultado às enchentes históricas que atingiram centenas de escolas em 2024, comprometendo o calendário letivo e a aplicação das provas. Estados do Norte e Nordeste também apresentam grande disparidade interna, com municípios que superaram a meta e outros que não chegaram à metade do índice esperado.
Segundo o Ministério da Educação, 58% dos municípios brasileiros melhoraram seus resultados em comparação com 2023. Ainda assim, o avanço médio nacional foi de apenas 3,2 pontos percentuais — insuficiente para alcançar a meta. A variação reflete o quanto a qualidade do ensino depende da gestão local, da formação dos professores e das condições de infraestrutura escolar.
Por que o país não atingiu a meta
Especialistas em educação apontam que o desafio brasileiro vai além dos números. O Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, lançado em 2023, busca unificar políticas estaduais e municipais, mas a execução ainda é desigual. Faltam recursos, formação continuada e mecanismos de monitoramento mais precisos para medir o aprendizado em tempo real.
O atraso na alfabetização também tem relação direta com os impactos da pandemia de Covid-19, que interrompeu o ensino presencial por quase dois anos. As crianças que ingressaram na escola em 2020 e 2021 foram as mais afetadas e ainda enfrentam dificuldades para recuperar o ritmo de leitura e escrita.
Além disso, o déficit de infraestrutura escolar, especialmente nas zonas rurais e periferias urbanas, prejudica o desenvolvimento da alfabetização. Salas superlotadas, escassez de materiais didáticos e falta de bibliotecas tornam o processo mais lento e desigual.
A coordenadora do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, afirmou em entrevista à CNN Brasil que “o avanço existe, mas não é suficiente. É preciso acelerar o ritmo se quisermos alcançar 80% até 2030”. Segundo ela, o país precisa investir em formação docente e avaliação contínua para evitar que o problema se perpetue.
Meta de 80% até 2030: desafio ambicioso
O governo federal fixou uma meta de 80% das crianças alfabetizadas até 2030, dentro das metas do novo Plano Nacional de Educação (PNE). A proposta é fortalecer a cooperação entre União, estados e municípios e consolidar um sistema nacional de monitoramento do aprendizado.
Para especialistas, atingir esse patamar exigirá dobrar o ritmo atual de avanço e garantir continuidade nas políticas públicas, independentemente de mudanças de gestão. A experiência do Ceará mostra que resultados expressivos são possíveis quando há planejamento de longo prazo, metas mensuráveis e acompanhamento constante.
Programas locais de incentivo à leitura, distribuição de livros e envolvimento das famílias têm se mostrado eficazes em várias regiões. Municípios como Sobral (CE), Curitiba (PR) e Teresina (PI) figuram entre os melhores índices de alfabetização do país.
Entretanto, se os estados com baixo desempenho não conseguirem reagir, o Brasil poderá aumentar as desigualdades educacionais e comprometer o desenvolvimento de toda uma geração. Alfabetizar uma criança na idade certa não é apenas um objetivo pedagógico, mas uma questão de cidadania, inclusão social e justiça educacional.
O Inep destaca que o indicador continuará sendo aplicado anualmente, com base em avaliações estaduais, para permitir o acompanhamento das metas e orientar a implementação de políticas mais efetivas. O MEC também promete expandir o apoio técnico e financeiro aos municípios que apresentarem maior dificuldade de aprendizagem.
O caminho ainda é longo
Apesar de o país ter ficado a menos de um ponto percentual da meta, o resultado deixa claro que o desafio da alfabetização está longe de ser superado. O avanço é real, mas lento. Enquanto alguns estados consolidam sistemas de ensino robustos e eficientes, outros ainda lutam para garantir o básico.
O futuro da educação brasileira dependerá de políticas contínuas, investimentos consistentes e da valorização do professor, a peça central de qualquer transformação educacional.
O Indicador Criança Alfabetizada é um espelho do Brasil: revela o esforço de milhares de educadores e, ao mesmo tempo, as lacunas que ainda separam nossos estudantes das oportunidades que merecem


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