Estagnação produtiva, paralisação de leilões e desafios regulatórios acendem alerta para o futuro do petróleo brasileiro, segundo fontes oficiais e especialistas.
Ainda que o país tenha tradição como exportador, uma reviravolta silenciosa já se anuncia e pode mudar tudo.
Por isso, estudos oficiais projetam que o Brasil, reconhecido como grande exportador, poderá passar a importar petróleo já em 2030.
Enquanto isso, os Estados Unidos, por outro lado, seguem ampliando a produção e, por conseguinte, lideram o mercado internacional com avanços tecnológicos surpreendentes e constantes.
Projeções oficiais apontam risco de declínio
Conforme previsões do Ministério de Minas e Energia divulgadas em 2024, com base na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a produção nacional pode estagnar em 2030.
Além disso, ela pode cair pela metade até 2040 e, portanto, praticamente zerar em 2050.
Entretanto, esse cenário foi anunciado publicamente e conta com o respaldo de especialistas do setor.
Por esse motivo, o quadro preocupa o setor automotivo, o mercado energético e o próprio governo.
Fatores estratégicos aprofundam a diferença entre Brasil e EUA
Embora Brasil e Estados Unidos tenham aumentado a produção desde os anos 2000, suas trajetórias, contudo, seguiram caminhos opostos.
Por um lado, os americanos priorizam a extração em terra firme (onshore), utilizando o gás de xisto (shale), com menor custo e maior flexibilidade.
Por outro lado, o Brasil aposta no petróleo do pré-sal, exigindo alta tecnologia e operações em águas profundas.
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Conforme explicou Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), à CNN em 2024, o governo brasileiro paralisou os leilões entre 2008 e 2013, durante a discussão do modelo de partilha.
Portanto, esse intervalo limitou drasticamente o avanço exploratório do país.
Por consequência, a ausência de novos certames fez o número de áreas produtivas diminuir.
Assim, esse movimento acabou gerando estagnação no setor de petróleo brasileiro.
Pré-sal impulsiona produção, mas ciclo é curto
Embora o sucesso tecnológico seja inegável, mais de 80% do petróleo brasileiro atualmente vêm do pré-sal, reserva descoberta pela Petrobras em 2006.
Contudo, Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), alerta que as reservas convencionais brasileiras produzem durante apenas 27 a 30 anos.
Portanto, o tempo é curto e, consequentemente, exige renovação constante das áreas produtivas.
Além disso, a Bacia de Campos, explorada desde 1977, já dá sinais de esgotamento.
Enquanto isso, o pré-sal, cuja exploração começou em 2008, caminha rapidamente para a maturidade.
Por isso, cresce a expectativa em torno da Margem Equatorial (fronteira norte), assim como da Bacia de Pelotas (fronteira sul), ambas com potencial inédito de produção.
Leilões, investimentos e ambiente regulatório em foco
A paralisação dos leilões entre 2008 e 2013 — período crítico para o setor — limitou a produção nacional.
Segundo Adriano Pires, por consequência, o país hoje poderia ter o dobro da produção.
Além disso, ele e Ardenghy afirmam que realizar novos leilões é urgente.
Também garantem que é fundamental atrair investimentos estrangeiros.
Sem essas medidas, o Brasil pode virar importador de petróleo.
“Sem previsibilidade regulatória e ambiente competitivo, o Brasil pode perder a autossuficiência e depender das importações”, destaca Ardenghy, do IBP, em junho de 2024.
Tecnologia dos EUA muda o jogo global
Ainda que muitos não percebam, a trajetória dos Estados Unidos impressiona.
A produção de petróleo saltou de 4,99 milhões de barris/dia em 2005 para 13,5 milhões em 2024, conforme dados da ANP.
Enquanto isso, o Brasil atingiu recorde de 3,7 milhões de barris/dia em maio de 2024.
Esse avanço americano se deve ao chamado “boom do shale”.
Eles usam a técnica de fraturamento hidráulico (fracking), proibida no Brasil desde 2019 por lei estadual no Paraná.
Segundo Roberto Ardenghy, países como EUA, China e Argentina utilizam o fracking com segurança e obtêm resultados econômicos expressivos.
“A mudança permitiu aos EUA sair de maior importador para maior exportador do planeta”, ressalta Marco Tavares, CEO da Gas Bridge, em entrevista de 2024.
Concorrência sul-americana e papel estratégico do Brasil
A Argentina, por sua vez, investiu pesado no shale e abriu seu mercado.
Por isso, já exporta metade da produção desde 2023, após identificar a segunda maior reserva do mundo, segundo a Gas Bridge.
Consequentemente, essa tendência cria mais concorrência na América Latina.
Esse movimento pode beneficiar a segurança energética da região e, ao mesmo tempo, estimular inovação.
“A Argentina virou concorrente direto, mas é bom para o mercado e fortalece a segurança do continente”, conclui Ardenghy, IBP, em 2024.
Licenças ambientais e diversificação internacional são determinantes
Por fim, especialistas como João Victor Marques, da FGV Energia, defendem ampliar os leilões e acelerar a entrada de players estrangeiros.
Além disso, eles destacam a necessidade de liberar licenças ambientais, principalmente para a Margem Equatorial.
Marques afirma que empresas chinesas são estratégicas para atender à demanda asiática crescente.
Essa necessidade aumentou após mudanças globais provocadas pela guerra da Ucrânia em 2022.
“O Brasil é visto como fornecedor confiável, mas precisa manter previsibilidade para continuar exportando”, reforça Marques, FGV Energia, em 2024.
Portanto, o futuro do petróleo brasileiro depende, a partir de agora, de decisões rápidas, regulação eficiente e inovação tecnológica.
Além disso, o país enfrenta o desafio de se manter relevante no mercado internacional.