O Brasil, em parceria com a China, prepara uma reviravolta no mercado de internet via satélite. Com a SpaceSail no país, o domínio de Elon Musk pode estar com os dias contados.
Enquanto o mercado global de internet via satélite cresce a passos largos, uma movimentação recente entre Brasil e China pode causar um abalo significativo na liderança da Starlink, a empresa do bilionário Elon Musk, no setor.
A disputa, que reúne interesses comerciais e estratégicos, promete redesenhar o cenário da internet no Brasil, especialmente em áreas onde a infraestrutura terrestre é limitada.
A iniciativa busca trazer a empresa chinesa SpaceSail ao Brasil, ampliando a competição nesse mercado dominado pela Starlink, conforme relatado pelo secretário de telecomunicações Hermano Barros Tercius à BBC News Brasil.
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O plano é que essa expansão seja formalizada durante a visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao país em 20 de novembro, com a assinatura de memorandos de entendimento.
Contudo, ainda não há uma data exata para a operação da SpaceSail em território brasileiro.
Crise com Musk e a busca por alternativas
A relação entre Elon Musk e autoridades brasileiras chegou a um ponto crítico recentemente, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu temporariamente o X, antigo Twitter, após desentendimentos sobre cumprimento de leis locais.
Essa crise intensificou o debate sobre a dependência da infraestrutura de internet do Brasil em relação à Starlink.
Segundo especialistas, a diversificação de fornecedores poderia reduzir riscos de monopólio e proteger a soberania nacional no setor digital.
Desde agosto, a SpaceSail mantém conversas com o governo brasileiro para viabilizar sua entrada no mercado de internet via satélite no país.
Representantes da empresa se encontraram com o vice-presidente Geraldo Alckmin e apresentaram o objetivo de iniciar operações até 2025, caso obtenham as licenças necessárias junto à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Como funciona a tecnologia da SpaceSail
A SpaceSail utiliza satélites de órbita baixa, conhecidos como LEO, para fornecer internet banda larga.
Estes satélites, que orbitam a cerca de 549 km da Terra, oferecem menor latência e maior velocidade de conexão em comparação com satélites convencionais, que operam em altitudes próximas a 1.000 km.
Esse diferencial técnico torna a tecnologia LEO particularmente vantajosa para áreas remotas, onde a instalação de infraestrutura física, como cabos e antenas, é difícil e custosa.
A Starlink possui atualmente cerca de 6 mil satélites, enquanto a SpaceSail planeja lançar até 15 mil satélites até 2030.
Esse potencial de expansão coloca a SpaceSail em posição de rivalizar diretamente com a empresa de Musk, oferecendo uma alternativa para o mercado brasileiro.
Memorando de cooperação: um acordo estratégico
Durante sua visita à China em outubro, Hermano Tercius revelou que Brasil e China negociam um acordo de cooperação técnica que permitirá a instalação da SpaceSail no país.
O objetivo, segundo o secretário, é possibilitar que a SpaceSail ofereça seus serviços tanto para o setor privado quanto para o público, incluindo escolas e instituições governamentais em regiões afastadas.
Essa colaboração pode também incluir o uso do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, como base para lançamentos de satélites da SpaceSail.
“Isso beneficiaria ambos os lados, facilitando o cronograma de lançamentos da SpaceSail e promovendo o uso do CLA para novos projetos”, destacou Tercius.
Outro acordo em discussão envolve a construção de um satélite geoestacionário voltado ao atendimento das necessidades de comunicação do Brasil.
Ainda não há uma definição sobre a destinação exata desse satélite, mas ele poderia servir tanto a funções de telecomunicação quanto a sistemas de defesa.
Starlink: domínio e controvérsias
A Starlink, braço da SpaceX de Musk, é a principal provedora de internet via satélite do Brasil, com uma participação de 45,9% do mercado, conforme dados da Anatel de 2023.
O serviço é essencial para regiões isoladas, como a Amazônia, onde muitos usuários dependem dessa conexão para acessar a internet.
Em um ano e meio, a Starlink saltou da quinta para a primeira posição no mercado nacional, refletindo sua rápida expansão e a crescente demanda por internet em áreas remotas.
Contudo, a recente suspensão do X no Brasil pelo STF gerou preocupações sobre a vulnerabilidade do país em relação aos serviços de Musk.
Fontes próximas ao governo afirmam que o controle que a Starlink exerce sobre o mercado é visto com cautela, sobretudo devido aos riscos associados à dependência de um único provedor estrangeiro.
Impacto de uma possível competição no setor
De acordo com Thiago Ayub, diretor de tecnologia da Sage Networks, a dominância da Starlink reflete a qualidade do serviço, mas também expõe o mercado brasileiro a riscos de monopólio.
“Ter múltiplos fornecedores é uma necessidade estratégica, pois possibilita uma competição saudável, essencial para que o país se torne menos dependente de um único prestador”, explicou Ayub.
Para a China, a expansão de sua tecnologia de satélites via SpaceSail representa um passo estratégico.
Em 2020, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China destacou a criação de uma infraestrutura de internet via satélite como uma das prioridades de curto e médio prazos.
Essa política reforça o papel central da SpaceSail na expansão da influência digital chinesa.
Brasil entre o monopólio e a soberania digital
A necessidade de reduzir a dependência de serviços de Elon Musk foi intensificada após suas declarações públicas de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e de críticas ao ministro Alexandre de Moraes, que lidera ações contra fake news.
Para o governo Lula, fortalecer alternativas como a SpaceSail é uma forma de garantir que a infraestrutura digital do país não fique sujeita aos interesses de uma única empresa.
Em entrevista recente, o presidente Lula afirmou que Elon Musk deve respeitar as leis brasileiras e que o Brasil não pode se sujeitar a imposições externas.
Essa postura indica a intenção do governo em atrair concorrentes para o setor de internet via satélite, promovendo uma abordagem mais independente.
A entrada da SpaceSail no mercado brasileiro poderá dar ao país uma alternativa viável à Starlink, fomentando a diversidade de provedores e assegurando um mercado mais competitivo.
A partir dessas novas perspectivas, será interessante observar como o equilíbrio do setor de telecomunicações brasileiro poderá evoluir nos próximos anos.
Você acha que o Brasil deve investir em mais fornecedores de internet via satélite para reduzir sua dependência de Musk e promover a soberania digital? Deixe seu comentário!