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Brasil é a bola da vez: o que os EUA não querem que você saiba sobre Lula, Brics, China, dólar e a nova ordem mundial, segundo especialista

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 02/09/2025 às 11:15
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Cientista político analisa como a postura dos Estados Unidos frente ao Brics e ao Brasil pode gerar efeitos contrários, fortalecendo alianças e impulsionando debates sobre o uso do dólar e alternativas globais nas relações internacionais.

O cientista político Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getulio Vargas, afirmou em entrevista ao Flow Podcast que a postura dos Estados Unidos diante do Brasil e do grupo Brics tem gerado efeitos opostos ao que Washington deseja.

Segundo ele, medidas de pressão e ameaças de sanções, especialmente durante o governo Donald Trump, acabaram fortalecendo a união entre os países emergentes.

De acordo com Stuenkel, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a possibilidade de reduzir a dependência do dólar foram interpretadas por parte da elite política norte-americana como provocação.

Quando o Trump decide sancionar ou atacar o Brics, ele cria, paradoxalmente, um fator de coesão. Esses países passam a ter algo em comum: todos estão sendo atacados pelos Estados Unidos”, afirmou.

O peso do dólar e os limites de mudança

Embora Lula tenha defendido em encontros internacionais, como no banco do Brics, a ideia de usar moedas alternativas, Stuenkel ressaltou que o Brasil não tem tomado medidas práticas para abandonar o dólar.

Segundo ele, a elite econômica brasileira, em especial o agronegócio, prefere continuar negociando em dólar pela previsibilidade e segurança que a moeda oferece.

Pergunte a um grande exportador brasileiro se ele gostaria de ser pago em outra moeda. A resposta será não. O dólar tem um papel de confiança que nenhuma outra moeda cumpre hoje”, destacou.

O especialista acrescentou que essa situação só poderia mudar em caso de colapso da dívida americana, hipótese que ele considera improvável no curto prazo.

Oliver Stuenkel analisa a postura dos EUA diante do Brasil e do Brics, destacando impactos do dólar, sanções e a disputa global.
Oliver Stuenkel analisa a postura dos EUA diante do Brasil e do Brics, destacando impactos do dólar, sanções e a disputa global.

Brics: relevância e limites do bloco

Stuenkel também analisou a posição do Brasil no Brics, grupo que atualmente reúne mais de dez países, incluindo China, Índia e Rússia.

Para ele, o bloco não deve ser comparado à União Europeia ou à Otan, já que não possui nem objetivos tão integrados nem a mesma estrutura.

O Brics nunca será uma União Europeia. Ainda assim, ele é relevante porque obriga o Brasil a se adaptar a um mundo menos centrado nos Estados Unidos”, afirmou.

Segundo o cientista político, encontros regulares entre líderes e ministros ajudam a ampliar o conhecimento sobre países estratégicos, como a Índia e a Indonésia, ainda pouco estudados no Brasil.

Ele lembrou que, em 2009, havia pouquíssimos diplomatas brasileiros fluentes em chinês, mesmo quando a China já era o principal parceiro comercial do país.

O Brics contribuiu para mudar esse cenário. Hoje o Brasil entende melhor a China, mas ainda sabe muito pouco sobre a Índia, que será uma potência central neste século”, disse.

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Oliver Stuenkel analisa a postura dos EUA diante do Brasil e do Brics, destacando impactos do dólar, sanções e a disputa global.

União monetária e comparações internacionais

Questionado sobre a viabilidade de uma moeda única do Brics, Stuenkel descartou a possibilidade. Ele explicou que países como China e Índia não aceitariam abrir mão de sua autonomia monetária.

O euro funcionou na Europa porque era necessário para dar peso aos países do continente. Mas Índia e China não têm interesse em dividir moeda, porque isso reduziria sua capacidade de interferir em suas próprias economias”, afirmou.

Ainda assim, ele reconheceu que iniciativas pontuais de uso de moedas locais em transações comerciais já ocorrem entre países do grupo, o que pode crescer de acordo com o cenário econômico internacional.

Sanções e fortalecimento de alternativas

Stuenkel ressaltou que as políticas de sanções americanas muitas vezes incentivam países a buscar formas de escapar desse controle.

Como exemplo, citou a criação de mecanismos de pagamento independentes, como o Pix no Brasil.

Segundo ele, uma ferramenta desse tipo dificilmente seria implementada nos Estados Unidos, devido à resistência da sociedade em aceitar serviços gratuitos oferecidos pelo Estado.

Nos EUA, até mesmo políticos de centro diriam que isso é ‘governo demais’. Preferem deixar empresas privadas, como Mastercard, explorarem o setor. Se algo parecido com o Pix surgir lá, será pago e pior para o consumidor”, comentou.

Relação pragmática com grandes potências

Apesar de defender a importância do Brics, Stuenkel frisou que o Brasil não deve alinhar-se integralmente ao grupo em todas as pautas.

Ele citou a invasão da Ucrânia pela Rússia como exemplo de tema em que mantém críticas duras.

Não se trata de ideologia, mas de pragmatismo. O Brasil depende do fertilizante russo e precisa dialogar. O mesmo vale para a Índia, que ainda é majoritariamente rural, mas tem avançado fortemente em tecnologia. Esses países podem se tornar grandes parceiros comerciais e tecnológicos para nós”, explicou.

O cientista político defendeu que o Brasil amplie sua rede de contatos, enviando mais estudantes, diplomatas e empresários para conhecer de perto realidades como a indiana e a indonésia.

Para ele, essa aproximação é essencial em um mundo no qual o eixo econômico se desloca para a Ásia.

O futuro da ordem internacional

Stuenkel afirmou que o período de liderança econômica absoluta do Ocidente, iniciado no século XVI, está chegando ao fim.

Isso não significa que seja bom ou ruim, é apenas um fato. A economia mundial está se redistribuindo, e o Brasil precisa compreender melhor essa nova realidade”, avaliou.

Ele alertou que jovens brasileiros ainda estão mais inclinados a buscar experiências acadêmicas na Europa ou nos Estados Unidos do que em países asiáticos que ganharão relevância crescente.

Para o professor, essa defasagem no interesse e na formação acadêmica pode comprometer a competitividade do Brasil no futuro.

Diante desse cenário, a grande questão é: o Brasil conseguirá se preparar a tempo para atuar de forma estratégica em um mundo cada vez mais multipolar?

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Mario Rossi
Mario Rossi
02/09/2025 12:08

O artigo é sério e bastante profundo. Pedir uma reação com um desses desenhos superficiais diminui sua importância; em certo sentido, diminui o valor do que você está escrevendo e ridiculariza uma pessoa competente e bem informada como o Professor Stuenkel. Vocês deveriam evitar fazer isso.

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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