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Bolsa Família é apontado como causador da escassez da mão de obra, mas estudo mostra que evitou 713 mil mortes e 8,2 milhões de internações

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 13/10/2025 às 16:04
Estudo revela que o Bolsa Família evitou mais de 713 mil mortes e 8,2 milhões de internações entre 2004 e 2019 no Brasil.
Estudo revela que o Bolsa Família evitou mais de 713 mil mortes e 8,2 milhões de internações entre 2004 e 2019 no Brasil.
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Estudo internacional revela que o Bolsa Família teve impacto direto na saúde pública brasileira, associando o programa à prevenção de centenas de milhares de mortes e milhões de internações entre 2004 e 2019, especialmente entre crianças e idosos.

O Bolsa Família é frequentemente associado por parte do debate público à suposta escassez de mão de obra, porém evidências recentes indicam outro efeito de grande escala: entre 2004 e 2019, o programa está ligado à prevenção de 713 mil mortes e de 8,2 milhões de internações no país, segundo estudo publicado em 2025 na revista científica The Lancet Public Health.

Os resultados se destacam sobretudo em crianças menores de 5 anos e idosos acima de 70, faixas etárias mais vulneráveis.

Ao analisar dados municipais ao longo de duas décadas, os pesquisadores observaram reduções consistentes nas taxas de mortalidade e de hospitalizações em locais com maior cobertura e benefícios mais robustos do programa.

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Esse desenho permite estimar o impacto associado à transferência de renda condicionada sem inferir causalidade absoluta, mas com forte correlação entre a presença do benefício e os indicadores de saúde.

Além da magnitude dos números, chama a atenção a abrangência do recorte.

A pesquisa considerou 3.671 municípios com registros de qualidade adequada, universo que representa a maior parte da população brasileira.

Nesses locais, a queda dos desfechos de saúde acompanhou a expansão do Bolsa Família, cuja cobertura cresceu de forma contínua ao longo do período avaliado.

Efeitos positivos na saúde pública brasileira

No conjunto, as estimativas apontam 8,2 milhões de internações evitadas em quinze anos.

Essa redução foi mais nítida em grupos etários nos extremos da vida, faixa em que doenças preveníveis, agravos por desnutrição e falta de acompanhamento costumam pesar mais.

A mortalidade infantil, indicador sensível a políticas sociais, também recuou de modo relevante nas localidades com melhor execução do programa.

O estudo situa o efeito do Bolsa Família como parte de um conjunto de ações que reduzem riscos sanitários.

Ao atenuar insegurança alimentar, melhorar a capacidade de acesso a serviços e viabilizar cuidados básicos, a transferência de renda condicionada cria um ambiente mais favorável para a prevenção e o tratamento oportuno de doenças.

Em consequência, diminuem ocorrências que resultariam em óbitos e internações, sobretudo por causas evitáveis.

Pesquisas anteriores, em diferentes recortes e periódicos, já sugeriam impactos positivos do programa sobre a saúde, inclusive no controle de doenças infecciosas em públicos vulneráveis.

A publicação na The Lancet Public Health atualiza e amplia a base de evidências, com escopo nacional e série histórica extensa.

Condicionalidades que reforçam o cuidado preventivo

Um dos mecanismos frequentemente destacados é a exigência de condicionalidades para a permanência no benefício.

Famílias devem seguir o calendário nacional de vacinação, manter acompanhamento de saúde de crianças até sete anos e, no caso de gestantes, cumprir o pré-natal.

Essas rotinas, previstas desde as primeiras versões do programa, funcionam como incentivo para a procura regular dos serviços do SUS e para o rastreamento precoce de agravos.

Na prática, as condicionalidades favorecem a imunização, a vigilância do crescimento e desenvolvimento e o cuidado materno-infantil.

Com isso, problemas que antes seriam identificados tardiamente passam a ser enfrentados em tempo hábil, reduzindo complicações e, por extensão, a necessidade de hospitalizações.

Debate sobre emprego e assistência social

Enquanto parte do setor empresarial e vozes do espectro ultraconservador apontam o Bolsa Família como fator de desalinhamento no mercado de trabalho, o estudo em pauta não avalia empregabilidade ou incentivos ao emprego.

Seu foco reside nos desfechos de saúde.

Ainda assim, os resultados fornecem um contraponto objetivo ao associar a expansão do programa a melhoras mensuráveis em mortalidade e uso de serviços hospitalares.

É importante separar os eixos de discussão.

O tema da oferta de mão de obra envolve variáveis como dinâmica salarial, qualificação, ciclo econômico, formalização e políticas de emprego.

Já a literatura aqui referida se concentra em como renda mínima condicionada e acesso a cuidados se conectam a indicadores de saúde da população.

Ao menos nesse segundo aspecto, a evidência compilada indica ganhos substanciais.

Estrutura e funcionamento do programa

O Bolsa Família opera com critérios de renda per capita para seleção e com condições vinculadas a saúde e educação.

O desenho prevê pagamentos mensais a famílias elegíveis e exige contrapartidas que reforçam a proteção social.

Na saúde, as exigências funcionam como ponte entre o domicílio e a atenção primária, eixo estruturante do SUS.

Com maior cobertura entre públicos em situação de pobreza e extrema pobreza, o benefício tende a alcançar justamente quem enfrenta barreiras financeiras e geográficas para cuidar da saúde.

O reforço à renda contribui para melhorar a alimentação, custear deslocamentos a unidades de saúde e manter regularidade em consultas e vacinação.

Em paralelo, a rede local de atenção precisa estar operacional para transformar essa procura adicional em atendimento efetivo, condição que também ajuda a explicar variações de impacto entre municípios.

Impacto contínuo e dados consolidados

O período de 2004 a 2019 engloba ciclos econômicos distintos e mudanças administrativas, o que confere robustez às estimativas.

Mesmo com oscilações macroeconômicas e fiscais, a associação entre melhor cobertura do programa e menores taxas de mortalidade e hospitalização se manteve estatisticamente relevante.

Esse resultado sugere que os efeitos observados não se limitam a conjunturas específicas, mas refletem tendências estruturais ao longo de anos.

Outro ponto metodológico é a opção por trabalhar com séries municipais e critérios de qualidade do registro civil e das estatísticas vitais.

Ao restringir a amostra a localidades com dados considerados adequados, os autores buscam minimizar viés de informação, o que fortalece a confiabilidade dos números apresentados.

Políticas públicas e resultados duradouros

Sob a ótica de saúde pública, os achados reforçam a integração entre proteção social, atenção primária e promoção da saúde.

O balanço sugere que programas de transferência de renda com condicionalidades, quando bem executados, podem despressurizar o sistema hospitalar e salvar vidas em escala relevante.

Além disso, indicam que continuidade e cobertura do benefício são variáveis que modulam a intensidade do efeito observado.

Para o debate sobre o custo-benefício, os resultados fornecem insumos objetivos.

Ao estimar internações evitadas e óbitos prevenidos, a literatura abre caminho para avaliações econômicas mais precisas, incluindo custos diretos hospitalares e efeitos indiretos como dias de trabalho poupados por famílias e cuidadores.

Ainda que tais cálculos não estejam detalhados no texto original, a direção dos achados aponta para eficiências potenciais quando políticas sociais e saúde se articulam.

Em síntese, a pesquisa publicada em 2025 descreve um efeito sistêmico e mensurável do Bolsa Família sobre a saúde da população brasileira ao longo de quinze anos, com destaque para crianças e idosos.

Diante dos números estimados para mortes e hospitalizações evitadas, qual deve ser a prioridade do país ao calibrar políticas de renda e saúde nos próximos anos?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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