Com apoio do BNDES, empresa investe em usina de biometano em PE e unidade de CO₂ verde no RJ, usando gás de aterros sanitários
A produção de biometano no Brasil acaba de ganhar um novo impulso. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou dois empréstimos que somam R$ 131 milhões para a Gás Verde, empresa que transforma gases do lixo em energia renovável.
O objetivo é ampliar a geração de biometano e criar uma unidade para produzir CO₂ verde, aproveitando os resíduos do processo.
O maior dos financiamentos, de R$ 90,2 milhões, será usado na construção de uma nova usina de biometano em Igarassu, na região metropolitana de Recife.
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O projeto será totalmente custeado com o empréstimo do banco, sendo que R$ 72,2 milhões virão do Fundo Clima. Esse fundo foi criado em 2009, está ligado ao Ministério do Meio Ambiente e recebeu reforço de R$ 10 bilhões em 2024 por meio da emissão de títulos verdes no exterior.
Desde 2023, o BNDES já aprovou R$ 666,4 milhões para sete projetos relacionados ao biometano. Deste total, R$ 443,3 milhões foram viabilizados com recursos do Fundo Clima.
O apoio financeiro vem em um momento em que as taxas de juros estão elevadas. Segundo o CEO da Gás Verde, Marcel Jorand, a parceria com o BNDES tornou o projeto viável mesmo diante do cenário econômico.
“Sempre fomos a bancos comerciais. Este momento de juros altos ia inviabilizar os investimentos” afirmou o executivo.
O biometano produzido pela empresa é um gás renovável equivalente ao gás natural usado por indústrias e veículos, segundo padrões estabelecidos pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O gás é gerado a partir da decomposição do lixo em aterros sanitários, como explica o funcionamento do sistema.
O solo dos aterros recebe uma impermeabilização com quatro camadas: argila compactada, GCL (geocomposto bentonítico) e duas mantas de polietileno de alta densidade (Pead).
Um sistema de drenagem coleta os gases liberados pelo lixo, que contêm mais de 50% de metano. Esse gás pode ser convertido em biometano, que substitui o gás natural de origem fóssil.
A produção nacional de biometano hoje chega a 840 mil metros cúbicos por dia, segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás). A meta é atingir 8 milhões de metros cúbicos diários até 2030, o que representaria 15% da demanda total por gás natural do país.
Em 2024, o consumo médio nacional foi de 52,5 milhões de metros cúbicos por dia, conforme a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).
A Gás Verde, que hoje opera duas usinas, produz 160 mil metros cúbicos de biometano diariamente. A empresa planeja transformar mais dez usinas termelétricas movidas a biogás em usinas de biometano. Todas essas unidades estão instaladas em aterros sanitários.
Com isso, a produção deverá alcançar 650 mil metros cúbicos por dia até 2028, com operações em seis estados brasileiros.
Além do projeto em Igarassu, o BNDES aprovou um segundo empréstimo, no valor de R$ 40,9 milhões. Desse total, R$ 17,1 milhões também virão do Fundo Clima.
O objetivo é construir uma unidade de produção de gás carbônico (CO2) verde no Centro de Tratamento de Resíduos Rio, em Seropédica. Esse local abriga a maior usina de biometano da América Latina, operada pela Gás Verde, e substituiu o antigo lixão de Gramacho.
O CO2 verde será extraído do mesmo biogás gerado pela decomposição do lixo. O gás que sai do aterro é composto por 50% de metano, 45% de CO2 e 5% de outros gases.
Durante o processo de purificação, o biometano final atinge até 95% de metano. O CO2, que antes era queimado, passará a ser aproveitado comercialmente.
Segundo Jorand, a ideia é destinar esse CO2 a clientes que buscam produtos 100% renováveis. O gás carbônico tem diversas aplicações: gaseificação de bebidas, remoção de cafeína, produção de gelo seco e preservação de alimentos congelados.
“Queremos “nichar” o CO2 verde para quem quer acesso a produto 100% renovável“, explicou o executivo.
A nova unidade de Seropédica terá capacidade de produção de 100 toneladas por dia de CO2 verde. A previsão é que comece a operar em julho. A empresa está investindo R$ 51,3 milhões no projeto, e já tem 80% da produção futura vendida.
Para o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, os projetos apoiados pela instituição estão em sintonia com os esforços do governo federal para combater as mudanças climáticas.
Ele destacou a importância de evitar a emissão de gases como o metano, que tem potencial de aquecimento 25 vezes maior que o gás carbônico.
“Enquanto um deles aproveita economicamente o gás carbônico, capturando o subproduto que seria emitido como rejeito, o outro garante a produção de gás renovável, evitando emissões de metano“, declarou Mercadante em nota.
A Gás Verde aposta em uma estratégia de resíduo quase zero. Com o aproveitamento integral dos gases extraídos dos aterros, a empresa visa atender à crescente demanda por soluções sustentáveis e renováveis no setor energético.
Com informações de O Globo.