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Aumento severo no preço da gasolina, etanol e GNV afeta motoristas de aplicativo do Uber e 99, e motoboys do Rappi e iFood, que pensam abandonar a profissão

Escrito por Flavia Marinho
Publicado em 30/07/2021 às 09:26
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Motoboys em protesco contra o aumento do preço dos combustíveis / Imagem: G1

Disparada no preço dos combustíveis aperta lucro de motoristas de aplicativo e motoboys – que escolhem corridas e pensam em largar a profissão

Preço insustentável dos combustiveis gasolina, etanol e GNV – os mais utilizados por motoristas de aplicativo do Uber e 99, e motoboys do Rappi e iFood, dificulta ainda mais a vida desses trabalhadores, que já sofriam para tirar lucro de suas atividades durante a pandemia do coronavírus. Agora com a pandemia e gasolina mais cara, 25% dos motoristas de São Paulo desistiram de prestar serviço; para os motoboys, novo custo obriga a trabalhar mais horas. Desde fevereiro, etanol subiu 23% e gasolina chega a quase 10%, segundo levantamento da ANP corrigido pela inflação.

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Segundo os dados da ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em apenas quatro meses, o valor médio nacional do litro do etanol passou de R$ 3,54 para R$ 4,36, um aumento de 23,1% .

Considerando a variação desde maio de 2020, quando houve o menor patamar de custo no auge da crise, o combustível chegou a custar R$ 2,74. O aumento é da ordem de 59% se comparado ao preço de junho de 2021.

O aumento no preço da gasolina vai pelo mesmo caminho, ainda que menos agressivo: de fevereiro a junho, o combustível sobe de R$ 5,12 para R$ 5,69, o equivalente a 9,6%. Mas, confrontado com o preço de maio de 2020, quando chegou a custar R$ 4,11, o aumento vai a 38% contra o valor mais recente.

Todos os comparativos levam em conta o reajuste pela inflação do período, com preços corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE. Os percentuais, portanto, são de aumento real e balizados pelos preços do mês passado.

Ao longo de 2020, e conforme o isolamento foi se reduzindo, o custo da gasolina e do etanol passou a se normalizar. De fevereiro em diante, contudo, o valor dos insumos rompeu o nível anterior à pandemia em virtude da alta dos preços do petróleo, cotados em um dólar bem valorizado.

Alta no combustível afeta lucros dos trabalhadores e 25% da frota paulistana de motoristas desiste de trabalhar no segmento

A Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp) diz que, se não bastasse a pandemia afetando os trabalhadores e o aumento nos preço dos combustíveis reduziu o faturamento do trabalho dos motoristas de apps de transporte que viram sumir o público. Com isso, cerca de 25% da frota paulistana de motoristas desistiu de trabalhar no segmento

A estimativa da entidade é que 120 mil trabalhadores circulavam pela cidade no início de 2020. Agora, são cerca de 90 mil. Além de uma menor oferta de motoristas, os remanescentes passaram a selecionar viagens que sejam mais rentáveis por conta do aumento de preço de combustível.

“Passamos a desaconselhar os motoristas a aceitarem as corridas promocionais, da Uber Promo e 99 Poupa. O repasse ao motorista não paga 1 litro de gasolina”, diz Eduardo Lima de Souza, presidente da Amasp.

Gasolina representa entre 25% e 50% do gasto diário de um motoboy e motorista de aplicativo, respectivamente.

Do gasto diário de um motorista, a gasolina representa entre 40% e 50%. A taxa paga aos aplicativos gira em torno de 25%. Para boa parte dos condutores, há ainda o pagamento de parcelas do veículo ou locação.

A categoria pede que as plataformas tomem uma de duas atitudes possíveis: elevem o preço das corridas ou diminuam a fatia cobrada dos motoristas. Sem uma mudança, a frota pode diminuir ainda mais.

Trabalhando de 10 a 12 horas por dia – Rosimar Pereira é motorista há mais de 20 anos, dos quais seis em atividade pelos principais aplicativos de transporte, afirma que os lucros não passam dos R$ 1,5 mil desde que o preço do combustível explodiu. Se encontrar outra oportunidade de trabalho com salário semelhante, será um a menos nas ruas de São Paulo. “A depreciação do carro seria muito menor”, conta.

Para os motoboys, a fatia dos combustíveis fica entre 25% e 35% dos gastos, a depender de quanto o profissional fatura em um dia de trabalho. Mas a taxa paga pelos aplicativos, dizem os motoqueiros, varia com a demanda de pedidos e número de trabalhadores disponíveis.

“O que o motofretista faz é tirar de outro lugar: deixa de se alimentar adequadamente, de fazer a manutenção correta do veículo, trabalha mais horas e corre mais para fazer mais entregas no dia”, diz Edgar da Silva, o Gringo, presidente da Amabr.

O aumento de acidentes de moto é flagrante. Os últimos números do Infosiga SP mostram que o número de acidentes com motociclistas na capital paulista saltou de 1.011 em abril de 2020 para 1.584 em junho de 2021 (alta de 56,6%). As mortes subiram 58,8%, de 17 para 27.

A entidade tenta emplacar no poder público três tabelas com piso de remuneração para os serviços de motofretistas. Seriam estabelecidos valores mínimos por quilômetro rodado, por tempo de espera nos pontos de coleta e por complexidade de serviço – como a realização de compras em supermercados.

Uber, 99, Rappi e iFood se pronunciam ao jornal G1

“O preço dos combustíveis foge ao controle da Uber, mas entendemos a insatisfação e trabalhamos para ajudar os motoristas parceiros a reduzir seus gastos fixos”, diz nota da empresa enviada ao G1. O apoio financeiro dado pela empresa foi voltado aos motoristas que precisaram parar de trabalhar por conta da Covid. A empresa destinou US$ 30 milhões para esse fim, mas não especifica quantos profissionais usaram o serviço.

A 99 também não responde se pretende reduzir a “mordida” no valor das corridas ou reajustar o preço. “Desde fevereiro, garantimos 10% de desconto em todo o abastecimento em postos da rede Shell pelo país, o que já representou uma economia de mais de R$ 2,5 milhões. Também estamos, em datas estratégicas, zerando as taxas aplicadas nas corridas, ou seja, 100% do valor é repassado ao motorista parceiro. (…) Importante observar que todas as promoções são subsidiadas pela plataforma, sem ônus para o parceiro”, diz a nota da empresa.

O Rappi afirma está “constantemente dialogando com seus entregadores independentes, e atento a soluções que possam beneficiá-los. (…) O frete é calculado levando em conta diversos fatores, entre eles clima, dia da semana, horário, zona da entrega, distância percorrida e complexidade do pedido. O frete não é linha de receita para o Rappi, que busca sempre equilibrar a demanda e os critérios de cálculo de entrega do pedido. Em momentos de alta demanda, por exemplo, o valor pago ao entregador é superior ao valor pago pelo cliente”, diz a empresa em nota.

O iFood informa que tem uma política de valor mínimo de rota de R$ 5,31, além de repassar as gorjetas integralmente. Os valores são, contudo, variáveis e consideram a distância percorrida, a cidade, o dia da semana e o modal utilizado. A empresa não responde sobre reajuste de taxas, mas diz que entregadores e familiares têm acesso a descontos em compra de seguro de motos, troca de óleo, educação universitária e aquisição de produtos eletrônicos. Além disso, fornece seguro para acidentes e plano de acesso à rede privada de saúde a preços mais baixos.

Flavia Marinho

Flavia Marinho é Engenheira pós-graduada, com vasta experiência na indústria de construção naval onshore e offshore. Nos últimos anos, tem se dedicado a escrever artigos para sites de notícias nas áreas da indústria, petróleo e gás, energia, construção naval, geopolítica, empregos e cursos. Entre em contato para sugestão de pauta, divulgação de vagas de emprego ou proposta de publicidade em nosso portal.

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