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Arqueólogos encontram estoque de ferramentas de pedra neandertais com até 60 mil anos

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 04/04/2025 às 17:31
Ferramentas de pedra multiuso como esta, lembram muito implementos feitos por neandertais europeus e asiáticos ocidentais. Créditos da imagem: Hao Li.
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Em uma escavação recente, arqueólogos localizaram um estoque de ferramentas de pedra atribuídas aos neandertais. A descoberta ajuda a entender como eles organizavam seu cotidiano, demonstrando habilidades técnicas e planejamento no uso de recursos disponíveis há dezenas de milhares de anos.

Um achado arqueológico na China surpreendeu cientistas. Ferramentas de pedra, enterradas em solo vermelho e com até 60 mil anos, foram encontradas em Longtan, na província de Yunnan. Elas são quase idênticas às usadas pelos neandertais na Europa durante a Era Glacial.

Até agora, esse tipo de ferramenta de pedra, chamada de Quina, só havia sido vista a milhares de quilômetros dali, geralmente junto a fósseis de neandertais. A descoberta levanta novas dúvidas sobre a presença ou influência desses hominídeos no Leste Asiático.

Um estilo de ferramenta de pedra que não deveria estar ali

Os objetos foram escavados entre 2019 e 2020. São raspadores grossos e afiados, feitos com muito cuidado e padrão específico.

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Eles mostram marcas claras de retoques sucessivos, uma característica forte do estilo Quina. Esse modo de fabricação sempre foi tratado como uma assinatura dos neandertais europeus.

No entanto, o sítio arqueológico de Longtan está a mais de 7 mil quilômetros das regiões conhecidas desses hominídeos. Isso torna a descoberta ainda mais intrigante. Como essa tecnologia chegou até ali? Quem a usou?

Os cientistas aplicaram datação por luminescência óptica para confirmar a idade do material. A técnica mede há quanto tempo os grãos de areia ficaram expostos à luz do sol.

O resultado: entre 50 e 60 mil anos. Mas a principal pergunta continua sem resposta.

O kit de ferramentas Quina da Longtan. (A–D) Raspadores Quina. (E–G) Núcleos Quina. (HJ) Flocos de reafiação mostrando retoque Quina na extremidade próxima da face superior. (K) Pequena ferramenta feita em flocos de reafiação. Créditos da imagem: Hao Li.

Quem fez as ferramentas?

Nenhum osso humano foi encontrado no local. Também não há DNA. Por isso, não há como dizer com certeza quem criou os artefatos.

Mas os vestígios são claros: alguém usou aquelas ferramentas exatamente como os neandertais europeus faziam.

Segundo a pesquisadora Hélène Monod, da Universidad Rovira i Virgili, da Espanha, as peças mostram sinais de uso em carne, ossos, madeira e plantas.

Algumas ferramentas foram usadas por muito tempo, retocadas e reaproveitadas. Isso indica uma prática contínua e bem estabelecida.

A equipe de pesquisa mostra os artefatos de Longtan. Créditos da imagem: Hao Li.

Neandertais ou imitadores?

Duas hipóteses principais são consideradas pelos cientistas. A primeira é que os próprios neandertais tenham migrado até a China.

Eles já são conhecidos por terem vivido até a região das Montanhas Altai, relativamente próximas. Uma expansão ainda maior, até Yunnan, seria possível.

A outra hipótese é que outra espécie — talvez os Denisovanos — tenha desenvolvido um estilo de ferramenta parecido com o dos neandertais.

Essa semelhança pode ter surgido por convergência cultural, ou seja, diferentes povos criando soluções parecidas para os mesmos desafios.

Também pode ter havido algum tipo de contato entre grupos. Um neandertal pode ter ensinado a técnica a outro povo. A partir daí, a ideia teria se espalhado.

Uma nova página da evolução humana

Por muito tempo, os cientistas achavam que as populações da região tinham pulado o chamado Paleolítico Médio, um período de transição com muitas inovações.

Mas as ferramentas de Longtan provam o contrário. Elas mostram que havia experimentação, técnica e adaptação ali também. O Paleolítico Médio foi, na verdade, um período muito mais global do que se pensava.

Ainda assim, uma dúvida permanece: por que achamos tão poucas ferramentas desse tipo na Ásia?

Segundo os arqueólogos, isso pode ter a ver com o foco das pesquisas. A Europa, com muitos sítios fossilíferos bem conhecidos, recebeu mais atenção ao longo das décadas. Já a Ásia foi menos escavada e, muitas vezes, julgada por padrões europeus.

Próximos passos

Para entender melhor quem fez essas ferramentas, os cientistas esperam encontrar mais sítios semelhantes.

A ideia é cavar camadas mais profundas, mais antigas. Se nelas houver sinais de experimentos com ferramentas que evoluíram para o estilo Quina, isso indicaria uma origem local.

Se, por outro lado, as camadas mais profundas tiverem somente outros tipos de artefatos, a teoria de que a tecnologia veio de fora ganha força.

O arqueólogo Ben Marwick, um dos autores do estudo, diz que seja qual for a resposta, uma coisa é certa: os criadores dessas ferramentas foram criativos e flexíveis. Eles souberam adaptar sua tecnologia ao ambiente onde viviam.

O estudo foi publicado na revista científica PNAS, uma das mais respeitadas do mundo. E marca o início de uma nova fase nas investigações sobre o passado humano na Ásia.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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