Argentinos utilizam criptomoedas e stablecoins como alternativa para preservar poder de compra e arbitrar câmbio em meio à pressão eleitoral e econômica
Enquanto o presidente Javier Milei endurece os controles cambiais para sustentar o peso argentino antes das eleições de 26 de outubro de 2025, milhares de argentinos recorrem às stablecoins para se proteger.
Esses tokens digitais são lastreados no dólar americano e permitem aproveitar a diferença entre o câmbio oficial e o paralelo, que valoriza o peso cerca de 7% acima do mercado negro.
Assim, o processo chamado “rulo” funciona da seguinte maneira: compra-se dólar na taxa oficial, converte-se em stablecoins e depois vende-se os tokens por pesos no paralelo.
Esse ciclo rápido garante lucros de até 4% por operação, segundo corretoras locais, o que atrai investidores e cidadãos comuns que buscam estabilidade financeira.
Pressão eleitoral e reações do mercado financeiro
Desde setembro de 2025, o Banco Central da Argentina utiliza suas reservas em dólar para conter a desvalorização do peso.
O objetivo é evitar que a moeda ultrapasse o limite cambial antes do pleito legislativo, reduzindo pressões políticas e econômicas.
Quando a instituição proibiu a revenda de dólares por 90 dias no início de outubro, a arbitragem com stablecoins aumentou de forma expressiva.
A corretora Ripio reportou, em 9 de outubro, um aumento de 40% nas vendas de stablecoins para pesos, impulsionado pelas variações cambiais.
A Lemon Cash observou crescimento de 50% nas negociações no dia 1º de outubro, logo após a medida restritiva do Banco Central.
Além disso, a Bitso destacou que as stablecoins se consolidaram como “veículo para dólares mais baratos”, já que o governo ainda não consegue controlar sua liquidez.
Inflação, instabilidade e o uso crescente de criptoativos
Eleito em 2023, Milei prometeu resolver o descontrole fiscal e monetário argentino.
Conseguiu reduzir a inflação anual de quase 300% para cerca de 30%, o que representa um avanço considerável em curto prazo.
Apesar disso, o peso perdeu quase 75% do seu valor desde o início do mandato devido à desvalorização inicial e à desconfiança dos investidores.
Para muitos argentinos, o uso de criptoativos tornou-se a principal forma de preservar o poder de compra e escapar da volatilidade cambial.
“Faço essa operação todos os dias”, afirmou Ruben López, corretor de ações em Buenos Aires, que utiliza stablecoins como proteção contra a inflação.
De forma semelhante, Nicole Connor, representante da organização Mulheres na Cripto da Argentina, afirmou que prefere manter suas reservas em cripto.
Segundo ela, “não confio em investimentos em pesos, pois a instabilidade torna qualquer investimento doméstico arriscado”.
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Riscos, tributação e supervisão bancária
O chamado “jogo das criptos” não está isento de riscos, embora o retorno rápido seja tentador para muitos investidores.
O mercado de ações na Argentina é isento de impostos, mas os ganhos com criptomoedas são tributados em até 15%.
Além disso, operações frequentes e de alto valor costumam chamar a atenção dos bancos, que exigem comprovação da origem dos recursos.
Por isso, especialistas recomendam cautela e transparência, principalmente em transferências repetitivas.
Mesmo assim, o CEO da Belo, Manuel Beaudroit, afirmou que “as diferenças cambiais podem gerar ganhos generosos, ainda que sejam situações incomuns”.
Por que as stablecoins vieram para ficar
Com a instabilidade econômica persistindo e as eleições se aproximando, especialistas indicam que a dependência dos argentinos por dólares digitais tende a crescer.
Em toda a América Latina, as stablecoins tornaram-se sinônimo de estabilidade financeira, especialmente em países com inflação alta e controles rígidos de capital.
Para Ruben López, “o dólar ocupa um lugar central na sociedade argentina, pois sempre serviu como refúgio em tempos de incerteza”.
Dessa forma, o uso de criptoativos deve se consolidar ainda mais como estratégia de proteção econômica diante da volatilidade política e monetária.



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