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Apple investe US$ 200 milhões em plantações de eucalipto no Brasil: estratégia audaciosa para alcançar neutralidade de carbono e gerar créditos de carbono

Escrito por Roberta Souza
Publicado em 29/04/2025 às 00:36
apple - créditos de carbono - meta climática - eucalipto
foto/reprodução: Divulgação
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Com o Projeto Alpha, a empresa busca transformar antigas fazendas em florestas plantadas, equilibrando produção de madeira e restauração nativa

A Apple está se aventurando em uma nova estratégia ambiental ao investir em extensas plantações de eucalipto no Brasil, com o objetivo de gerar créditos de carbono e atingir sua ambiciosa meta climática de emissões zero até 2030. Localizadas no coração do Cerrado brasileiro, essas plantações de eucalipto, conhecidas por seu rápido crescimento, tornaram-se fundamentais para a estratégia de compensação de carbono da empresa.

O Projeto Alpha e o fundo de restauração da Apple

O principal investimento da Apple na região é o chamado Projeto Alpha, que é gerido pelo banco BTG Pactual através do Timberland Investment Group. Esta iniciativa faz parte do Restore Fund, um fundo de US$ 200 milhões criado em parceria com o Goldman Sachs e a Conservation International. O objetivo do projeto é transformar antigas fazendas de gado em florestas plantadas, buscando um equilíbrio entre áreas de produção de madeira e zonas de restauração nativa.

A proposta do Projeto Alpha é inovadora: a Apple pretende alcançar uma proporção de 50% entre eucaliptos plantados e vegetação nativa restaurada, superando os limites legais exigidos para a preservação ambiental. Além de compensar carbono, a iniciativa visa recuperar a biodiversidade local e reconectar habitats fragmentados, embora essa abordagem tenha gerado controvérsias.

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Críticas dos ecologistas e impactos locais

Ambientalistas e cientistas que estudam o Cerrado expressam preocupações sobre os riscos da expansão do eucalipto em regiões sensíveis. A ecóloga Natashi Pilon, da Universidade Estadual de Campinas, alerta que o bioma Cerrado possui características únicas que podem ser comprometidas pela introdução de monoculturas de árvores exóticas. Segundo ela, “sombra não é boa, e queimada faz parte do ciclo natural”, enfatizando a complexidade ecológica dessa região.

A introdução de monoculturas de eucalipto pode alterar o equilíbrio ecológico e afetar o regime hídrico, dificultando a regeneração natural da vegetação nativa. Essa preocupação é compartilhada por muitos especialistas que argumentam que a plantação de eucalipto, embora possa gerar créditos de carbono, pode ter consequências adversas a longo prazo para o meio ambiente local.

Eucalipto: solução ou nova forma de lucro verde?

Do ponto de vista corporativo, o eucalipto é visto como uma solução eficiente para múltiplos objetivos: remove carbono da atmosfera, gera créditos de carbono comercializáveis e pode ser transformado em papel, celulose ou madeira. Essa previsibilidade torna a árvore ideal para atender prazos de metas climáticas, como as estabelecidas pela Apple e pela Microsoft.

Entretanto, em regiões do Mato Grosso do Sul, onde essas plantações estão se expandindo rapidamente, moradores relatam escassez de água, aumento de incêndios e dificuldades de convivência com a nova paisagem. Estudos recentes indicam uma perda de nascentes diretamente associada à expansão das plantações de eucalipto, colocando em dúvida a verdadeira eficácia dessas iniciativas.

Além disso, a Apple enfrenta críticas por sua aliança com o BTG Pactual, um banco que também investe em setores ligados ao desmatamento, como a pecuária e a soja. Essa relação gera desconfiança entre os defensores do meio ambiente, que questionam a sinceridade das iniciativas de compensação de carbono da empresa.

Meta climática e novas abordagens da Apple

Apesar das críticas, a Apple continua a promover seus projetos de carbono como parte essencial de seu compromisso com o meio ambiente. A empresa afirma já ter compensado 700 mil toneladas de CO₂, mas admite que precisará alcançar 9,6 milhões de toneladas por ano até 2030 para cumprir sua meta de neutralidade. Nesse contexto, o plantio de árvores se torna um passo necessário, mas não isento de dilemas éticos e ecológicos.

A pesquisadora Barbara Haya, da Universidade da Califórnia em Berkeley, sugere uma alternativa: em vez de focar em promessas de neutralidade com base em cálculos controversos, empresas como a Apple poderiam ser mais transparentes sobre seus investimentos em restauração ambiental. “Talvez fosse mais transparente dizer: investimos X milhões para ajudar a salvar o Cerrado”, afirma.

O debate continua

O debate sobre a eficácia do uso do eucalipto como vetor de compensação climática está longe de ser resolvido. Para alguns especialistas, essas florestas artificiais representam um avanço ambiental fundamentado em ciência. Para outros, elas são apenas uma nova forma de lucro verde, sacrificando ecossistemas únicos e já ameaçados.

Com o crescente interesse em práticas sustentáveis e a pressão para atingir metas climáticas, a atuação da Apple no Brasil se torna um caso emblemático que exemplifica a complexidade das soluções ambientais contemporâneas. Ao mesmo tempo em que busca mitigar seu impacto ambiental, a empresa deve navegar por críticas e desafios que surgem em decorrência de suas práticas de compensação de carbono.

O papel da sociedade e a percepção pública

A recepção da iniciativa da Apple por parte da sociedade é variada. Enquanto alguns veem a empresa como um exemplo a ser seguido por outras grandes corporações, outros a consideram uma figura controversa devido à sua abordagem de compensação de carbono. A percepção pública é crucial para a sustentabilidade de projetos como o Projeto Alpha, pois a confiança da comunidade local e dos consumidores pode influenciar diretamente o sucesso da iniciativa.

O futuro da compensação de carbono no Brasil

O Brasil, com sua vasta biodiversidade e ecossistemas diversos, possui um potencial significativo para projetos de compensação de carbono. No entanto, para que iniciativas como as da Apple sejam eficazes, é essencial que sejam implementadas com responsabilidade e em colaboração com as comunidades locais. Um diálogo aberto e transparente entre empresas, cientistas e moradores pode ajudar a garantir que os projetos não apenas atendam às metas corporativas, mas também respeitem e protejam o meio ambiente e os modos de vida das pessoas que dependem dele.

A trajetória da Apple no Brasil e sua abordagem ao uso do eucalipto como parte de sua estratégia de neutralidade de carbono servirão como um importante estudo de caso para outras empresas que buscam equilibrar objetivos financeiros e ambientais. Com a crescente urgência das questões climáticas, a forma como as corporações abordam suas responsabilidades ambientais será cada vez mais determinante para o futuro do planeta.

FONTE: OLHARDIGITAL

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Roberta Souza

Engenheira de Petróleo, pós-graduada em Comissionamento de Unidades Industriais, especialista em Corrosão Industrial. Entre em contato para sugestão de pauta, divulgação de vagas de emprego ou proposta de publicidade em nosso portal. Não recebemos currículos

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