Após sanções da União Europeia, a refinaria indiana Nayara busca novos destinos para o petróleo e derivados, enviando cargas para Brasil, Turquia e Taiwan, e reforçando sua posição no mercado energético.
A refinaria indiana Nayara Energy, apoiada por capitais russos, vive um dos momentos mais desafiadores de sua trajetória no setor de petróleo. Desde julho, quando foi atingida por sanções impostas pela União Europeia por negociar petróleo russo, a empresa precisou reconfigurar sua estratégia comercial. As exportações chegaram a ser suspensas por cerca de duas semanas, impactando diretamente a produção da unidade localizada em Vadinar, no oeste da Índia.
De acordo com dados de transporte da LSEG e da Kpler, a Nayara teve de reduzir o processamento em sua refinaria de 400 mil barris por dia para algo entre 70% e 80% da capacidade total. As dificuldades envolveram tanto a contratação de navios quanto a comercialização do combustível no porto após as restrições.
Queda inicial e retomada gradual das exportações
O impacto foi significativo nos primeiros meses após o embargo. As exportações de gasolina, gasóleo e combustível de aviação recuaram para 80 mil barris por dia em agosto e setembro, bem abaixo da média de 138 mil barris por dia registrada entre janeiro e julho.
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No entanto, em agosto a empresa conseguiu retomar gradualmente as operações internacionais. Pelo menos 16 cargas de diesel, gasolina e combustível de aviação deixaram o porto de Vadinar desde então, muitas delas transportadas em navios-tanque incluídos nas sanções da União Europeia.
Novos destinos para os produtos da Nayara
Antes das restrições, a Nayara destinava seus produtos refinados principalmente a empresas comerciais ocidentais, ao Oriente Médio e a parceiros asiáticos, com foco em mercados da Ásia e do noroeste europeu. Com o embargo, foi preciso buscar alternativas.
Os novos destinos incluem Oriente Médio, Turquia, Taiwan e Brasil. Parte das cargas foi descarregada no Turkis Enerji Storage Tank Farm, na Turquia, enquanto outras permaneceram em alto-mar, realizando transferências de navio para navio ao largo de Omã e do Egito.
Dois casos chamaram atenção. O Blue Ember e o Anaya, ambos petroleiros carregados em Vadinar entre agosto e setembro, estão a caminho dos portos brasileiros de Santos e Paranaguá, segundo os registros de transporte.
Brasil, Taiwan e Oriente Médio entram no radar
O reposicionamento da Nayara no mercado de petróleo evidencia uma busca por estabilidade comercial em meio às sanções. Enquanto parte da frota segue aguardando destino ao largo de Omã e dos Emirados Árabes Unidos, outros negócios já foram concretizados.
Um exemplo é o navio Opal, que descarregou gasóleo com alto teor de enxofre em Taichung, Taiwan, em setembro. Embora o país mantenha sanções rígidas contra a Rússia, não há proibição direta à importação de energia russa, o que abriu margem para essa operação.
Já o Brasil desponta como alternativa estratégica. As movimentações recentes mostram que o país se tornou um ponto de interesse para o escoamento de derivados, em um momento em que o comércio internacional de petróleo vive reconfigurações constantes.
Apesar da retomada parcial, ainda existem incertezas. Cinco petroleiros carregados com combustíveis da Nayara seguem ancorados no Golfo de Omã e nos arredores dos Emirados Árabes Unidos, sem destino final definido. A empresa, assim como autoridades da Índia, do Egito e do Brasil, não comentou oficialmente sobre os novos embarques.
O cenário reforça a complexidade do mercado global de petróleo, onde embargos e sanções criam redes alternativas de comércio e colocam empresas como a Nayara em posição delicada. Ainda assim, a capacidade de adaptação tem permitido à refinaria indiana se manter relevante, explorando rotas inéditas e garantindo presença em mercados que antes não faziam parte de sua estratégia principal.