Brasil e Bolívia têm contrato para envio de gás natural boliviano, porém esse fornecimento foi reduzido em 30% nos últimos dias
A Petrobras teria sido pega de surpresa com a redução do fornecimento de gás natural por parte dos bolivianos. Ao longo deste mês, os volumes enviados do produto diminuíram cerca de 30%. O corte equivale a aproximadamente 7 milhões de metros cúbicos de gás ao dia, sendo que a estatal da Bolívia YPFB costumava fornecer ao Brasil cerca de 20 milhões de metros cúbicos diariamente. Mesmo com reservas gigantescas deste combustível no pré-sal, a estatal leva um duro golpe do bolivianos, sendo obrigada a procurar GNV em outros mercados por valores muito mais elevados.
A redução do fornecimento de gás natural impacta o planejamento operacional da Petrobras, pois, sendo essa diminuição não prevista, segundo a estatal, o caminho é importar volumes adicionais do gás de liquefeito (GNL), para que os contratos internos de venda da estatal brasileira sejam cumpridos, apesar de ser a principal responsável pela exploração da camada de pré-sal no Brasil.
Acontece que o preço do gás natural de liquefeito (GNL) é bem mais alto. Portanto, o combustível fornecido pela Petrobras pode ficar mais caro se essa situação perdurar. A estatal brasileira disse estar buscando medidas cabíveis os bolivianos da YPFB cumpram com o contrato de fornecimento de gás para ao Brasil.
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O gás natural da Bolívia chega ao Brasil principalmente através do gasoduto Gasbol que começou a operar em 1999, após contrato firmado entre as estatais petroleiras das duas nações. Foi a partir daí, que o Brasil passou a importar volumes crescentes do hidrocarboneto. O gasoduto Brasil-Bolívia foi financiado pela Petrobras, que assumiu o volume, como carregador, de até 30 MMm³ por dia por meio do regime de take-or-pay.
Por que os bolivianos reduziram o envio de gás natural ao Brasil?
As exportações de gás natural da Bolívia à Argentina cresceram este mês de até 10 milhões de m³/dia para mais de 14 milhões de m³/dia. A Argentina recorreu ao gás natural boliviano devido aos elevados preços do GNL no mercado internacional, agravados pela guerra na Ucrânia. O valor do produto em abril alcançou US$ 30,00/MMBtu.
Assim, em meio a uma crise energética global, houve o corte de parte do que era fornecido ao Brasil, que é detentor de reservas gigantes de pré-sal, porém não tem infraestrutura capaz de realizar o escoamento por total.
Ao mesmo tempo em que a parceria com Argentina se fortalece, o governo boliviano quer renegociar os termos do contrato com o Brasil para o fornecimento do gás natural. De acordo com especialistas, isso traz incertezas para o mercado brasileiro sobre as condições de importação.
Não é a primeira vez que a Bolívia não cumpre contrato de fornecimento de gás natural ao Brasil
Em 2018, a Bolívia não entregou a totalidade de gás natural solicitado pela Petrobras na época. O volume médio importado foi de 22 MMm³/dia naquele ano, sendo que a estatal brasileira havia pago por cerca de 26 MMm³/dia. Daí, a YPFB foi multada pelo não cumprimento de acordo. Os valores até hoje não foram divulgados, por serem sigilosos.
As aplicações do gás natural
O gás natural é a terceira fonte de energia mais importante do planeta. Esse combustível tem origem fóssil (por isso no Brasil vem das reservas do pré-sal), composto principalmente por hidrocarbonetos (carbono e hidrogênio), e é encontrado no estado físico gasoso.
Para a obtenção do liquefeito, é realizada a purificação do gás natural que é submetido a uma temperatura de -162 °C, tendo seu volume reduzido em aproximadamente 600 vezes. É nesse processo que ocorre a condensação (passagem do estado gasoso para o líquido).
O gás natural é aplicado nos mais diversos setores. Veja:
- Veículos leves e pesados: utilizado na forma gasosa (GNV) ou liquida (GNL), o gás natural substitui a gasolina, etanol e diesel, com ótimo desempenho, e trazendo benéficos, como redução de custos e de emissões de CO2, além da economia de até 30% em comparação com gasolina ou álcool.
- Química e farmacêutica: o gás natural é aplicado em caldeiras que geram vapor para a sanitização, secagem de produtos acabados e semiacabados.
- Vidro e cerâmica: o gás natural se torna fonte de calor em fornos de fusão de vidro, têmpera e na secagem de matéria-prima. Também pode ser utilizado em fornos cerâmicos que produzem pisos e revestimentos.
- Automotivo: Aplicado em estufas de secagem de pinturas e moldes, maçaricos de acabamento, fornos de tratamento térmico e caldeiras.
- Têxtil: o gás natural serve na polimerização e na secagem de tecidos, nas chamuscadeiras e nas caldeiras de geração de vapor.
- Siderurgia e metalurgia: utilizado na preparação de matérias-primas até a injeção em alto-forno, além dos processos de calcinação, sinterização e coqueria. Na metalurgia pode ser utilizado em fornos de tratamento térmico, estufas de secagem, e equipamentos de litografia, corte de chapa, fornos de fusão e para a geração de atmosfera controlada (oxidante/redutora).
- Papel e celulose: aplicado diretamente nos tambores de secagem e em caldeiras.
- Alimentos e bebias: o GNL pode ser aplicado em processos de secagem, fornos de cocção e caldeiras. O segmento de bebidas demanda alto consumo de vapor para produção. O GNL, nesse caso, pode ser utilizado em caldeiras, pois proporciona elevado rendimento ao processo e minimiza os custos operacionais.
Fonte: Gas Local