Em um mercado dominado por cinco instituições, o país sustenta algumas das taxas de juros mais caras do planeta, cenário que pressiona famílias e pequenas empresas e reduz a competição no crédito mesmo após a chegada de fintechs e bancos digitais
Uma das taxas de juros mais caras do planeta são, no Brasil, o retrato de um mercado de crédito altamente concentrado. Cinco grandes bancos reúnem mais de 80% dos empréstimos e financiamentos, o que reduz a competição e favorece spreads elevados e tarifas persistentes.
Embora a tecnologia tenha ampliado o acesso e criado novos produtos, a estrutura oligopolista segue determinando o preço final do dinheiro, com impactos diretos sobre consumo, investimento e geração de empregos, sobretudo entre micro e pequenas empresas.
Quem domina e como essa concentração se formou
O sistema é puxado por Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander, que historicamente concentram a maior parte do crédito e dos depósitos.
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Essa posição deriva de décadas de fusões, aquisições e consolidação regulatória, aceleradas a partir dos anos 1990.
Mesmo com a entrada de bancos digitais e fintechs, os cinco maiores preservam escala, funding barato e capilaridade, o que lhes garante poder de precificação e resiliência a ciclos econômicos adversos.
Por que a concentração eleva o custo do crédito
Em mercados com poucos ofertantes relevantes, a competição por preço tende a ser limitada.
No crédito, isso significa spreads amplos entre o custo de captação e a taxa cobrada do cliente, além de tarifas rígidas.
A consequência é um padrão de juros finais muito acima da taxa básica, especialmente em linhas de rotativo, cheque especial e capital de giro.
Quando o preço do dinheiro permanece alto, o risco vira argumento para manter os spreads, criando um círculo difícil de romper: juros altos elevam a inadimplência, que por sua vez sustenta juros ainda mais altos, sobretudo para clientes de menor porte e com menos garantias.
Outros vetores que agravam o quadro
A concentração não explica tudo. Inflação, Selic e percepção de risco macroeconômico influenciam a curva de juros e o apetite por crédito.
Insegurança jurídica, custo tributário e assimetria de informação também pesam na formação das taxas.
Ainda assim, em um ambiente de alta concentração, mesmo períodos de melhora macro tendem a repassar lentamente os ganhos ao tomador final, mantendo o Brasil entre os países com custo real do crédito mais elevado.
Efeitos práticos para pessoas e pequenas empresas
Para famílias, o crédito caro corrói renda e posterga consumo durável, enquanto endividamento com juros altos aumenta a vulnerabilidade a choques de renda.
Para micro e pequenas empresas, capital de giro mais caro reduz escala, trava investimento e limita contratação, enfraquecendo a competitividade.
A dificuldade de acessar linhas com garantias e prazos adequados empurra muitos empreendedores para produtos mais caros e de curto prazo, elevando a mortalidade de negócios e reduzindo a produtividade.
O que a entrada de fintechs mudou de verdade
As fintechs ampliaram a bancarização, digitalizaram serviços e reduziram fricções, sobretudo em contas, pagamentos e adquirência.
Em crédito, houve avanço em nichos como consignado, BNPL e antecipação, com algoritmos que melhoram análise de risco.
Mesmo assim, o custo médio do dinheiro segue ancorado nos grandes bancos, que concentram funding, canais e relacionamento.
Sem competição efetiva nas principais carteiras, a difusão de taxas mais baixas fica limitada.
Caminhos para reduzir as taxas de juros mais caras do planeta
A solução precisa atacar estrutura e incentivos.
Mais competição na originação e distribuição de crédito, acesso a garantias por meio de fundos públicos e privados, open finance com dados de qualidade e interoperabilidade de garantias podem reduzir spreads com segurança.
Transparência de custos, padronização de contratos e mecanismos de portabilidade ágeis estimulam a comparação de preços e a migração para linhas mais baratas.
Políticas de fomento direcionadas e avaliação rigorosa de risco evitam subsídios ineficientes e preservam a sustentabilidade do sistema.
O que observar para saber se o cenário está mudando
Sinais de melhora incluem queda consistente dos spreads, aumento da participação de novos entrantes nas carteiras principais, mais crédito de longo prazo com garantias eficazes e redução de inadimplência sem retração do volume total concedido.
Também vale acompanhar indicadores de portabilidade, migração para linhas com custo menor e crescimento de instrumentos de mercado de capitais para pequenas e médias empresas, que diversificam o funding e pressionam o preço bancário.