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A televisão de tubo que o Brasil não quis largar: por que fomos os últimos a migrar para o sinal digital

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 01/07/2025 às 19:38
A televisão de tubo que o Brasil não quis largar: por que fomos os últimos a migrar para o sinal digital
Foto: A televisão de tubo que o Brasil não quis largar: por que fomos os últimos a migrar para o sinal digital – IA
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Entenda por que o Brasil foi um dos últimos países a desligar o sinal analógico de TV e como questões sociais, políticas e econômicas mantiveram milhões de lares presos às TVs de tubo.

Por quase um século, ela foi a rainha da sala. Pesada, de tela curva, e com aquele barulho sutil ao ligar. A televisão de tubo sobreviveu a diversas gerações, resistiu à chegada dos LCDs, LEDs, 4K e smart TVs. Mas o que parecia ser nostalgia virou sintoma de algo maior: o Brasil foi um dos últimos países do mundo a desligar o sinal analógico de TV. A pergunta que fica é: por quê? Como um país com cobertura quase total de TV aberta demorou tanto para digitalizar sua transmissão? A resposta envolve barreiras sociais, econômicas e decisões políticas complexas — e explica muito sobre como o Brasil lida com tecnologia.

O que é o sinal analógico e por que ele virou obsoleto?

O sinal analógico de TV, usado desde os anos 1950, transmitia imagem e som por ondas eletromagnéticas de forma contínua. Ele era simples, barato, mas suscetível a ruídos, chuviscos, interferência e perda de qualidade com distância.

YouTube Video

Já o sinal digital, que começou a ser implantado no Japão e EUA ainda nos anos 1990, envia informações em pacotes codificados. Resultado? Imagem limpa, som estéreo, mais canais e até conteúdo interativo.

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A adoção global foi rápida: países da Europa, América do Norte e Ásia desligaram seus sinais analógicos entre 2006 e 2015. O Brasil, no entanto, adiou o processo diversas vezes.

O Brasil e a televisão: um casamento cultural e desigual

A televisão sempre foi um item essencial no lar brasileiro. Em muitas casas, ela é mais presente que geladeira ou computador. Mesmo nas regiões mais pobres, a TV é o elo com o mundo. É por isso que, ao planejar o desligamento do sinal analógico, o governo precisou levar em conta muito mais do que infraestrutura técnica — era uma questão de inclusão digital e comunicação social.

Em 2016, o processo de transição começou pelas capitais, mas só foi concluído de fato em 2023. Durante esse período, mais de 100 milhões de brasileiros continuavam com televisores antigos e sem acesso a receptores digitais.

Por que o Brasil demorou tanto?

Desigualdade social e falta de acesso

A principal razão do atraso na migração é também a mais dolorosa: milhões de famílias não tinham condições de comprar uma TV digital ou mesmo um conversor. Em 2015, estimava-se que mais de 20 milhões de domicílios ainda usavam TVs de tubo. Para boa parte da população, trocar o aparelho era inviável.

O governo precisou distribuir kits gratuitos com conversores e antenas digitais para famílias de baixa renda, mas o processo foi lento, burocrático e, muitas vezes, mal comunicado.

Infraestrutura de transmissão desigual

A implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) exigia que emissoras instalassem novas torres, antenas e transmissores — e isso não acontecia da noite para o dia. Cidades pequenas, regiões remotas e áreas de sombra de sinal demoraram muito mais para serem digitalizadas.

Enquanto emissoras nas capitais estavam prontas, centenas de retransmissoras locais operavam com tecnologia defasada, e a cobertura digital real demorou a alcançar 100% do território.

Desinteresse político e lobby de fabricantes

O projeto da TV digital exigia cooperação entre governo, fabricantes, operadoras e emissoras. Mas governos sucessivos adiaram prazos — e havia pouca pressão para acelerar. Afinal, a TV analógica ainda funcionava, e seu público era numeroso.

Além disso, havia interesses comerciais em manter a produção de TVs simples e populares, com margens de lucro em modelos de tubo ou aparelhos básicos com entrada para conversor.

Apego cultural e desconhecimento técnico

Muitos brasileiros simplesmente não entendiam por que deveriam trocar de televisão de tubo. A televisão de tubo “funcionava bem” e o conteúdo continuava disponível. Havia pouca conscientização sobre os benefícios do sinal digital, e os comunicados oficiais eram técnicos e pouco acessíveis.

O resultado? Milhões de pessoas só se deram conta de que precisavam migrar quando a imagem sumiu da tela.

O sinal digital chegou — mas nem todos chegaram com ele

Mesmo após a conclusão formal do processo de desligamento, em 2023, ainda há milhões de televisores antigos conectados por conversores. E muitas regiões enfrentam problemas de instabilidade no sinal, falta de canais locais digitalizados e ausência de suporte técnico.

A promessa de uma TV com mais qualidade e interatividade existe, mas não se concretizou da mesma forma para todos os brasileiros. A transição foi desigual — como tantas outras transições tecnológicas no país.

A televisão analógica virou símbolo de um Brasil em atraso?

Sim e não. Por um lado, manter o sinal analógico por tanto tempo atrasou o avanço de outras tecnologias — como a TV 100% interativa, o uso de espectro para internet 5G e até a oferta de canais públicos digitais.

Por outro, a resistência à migração foi um reflexo legítimo da realidade brasileira. Não se trata de apego ao velho, mas da dificuldade de acesso ao novo.

O episódio da televisão de tubo mostra como o acesso à tecnologia no Brasil ainda é desigual. Mesmo um equipamento tão simbólico quanto a TV enfrenta barreiras de classe, região, educação e renda.

Hoje, enquanto boa parte da população urbana já assiste à TV em alta definição ou por streaming, há famílias no interior do país que só agora receberam antena digital.

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Cidadão
Cidadão
09/07/2025 11:03

A TV analógica perdurou muito no Brasil porque é caro pra emissora fazer o investimento em tecnologia digital – produção, gestão e transmissão de conteúdo. Além disso, ao contrário do que a matéria informa, não estamos tão atrasados assim. Fomos o primeiro País na américa latina a escolher um padrão digital (posteriormente quase todos os outros países seguiram nossa escolha) e o primeiro país a iniciar o desligamento analógico – que será concluído no final do ano. Entre 2020 e 2023, foi investido quase 1 bilhão de reais na digitalização nos 1600 municípios do Brasil mais desassistidos de Televisão (Programa digitaliza Brasil). O Brasil é o país no mundo mais conectado à TV aberta, com mais de 16 mil estações de TV. No atual momento, há uma grande iniciativa de levar canais públicos a 250 municípios do Brasil com dinheiro público. Pena que a matéria não tenha se aprofundado nessas iniciativas.

Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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